A presidente Dilma Rousseff terá seu primeiro encontro com o novo líder máximo chinês, Xi Jinping, na cúpula dos Brics que começa hoje na África do Sul. É uma oportunidade para o governo brasileiro estabelecer com clareza as prioridades na relação com seu maior parceiro comercial.
Dilma deveria deixar em segundo plano a infrutífera cobrança de que a China compre mais produtos manufaturados do Brasil. A pauta de exportações concentrada em matérias-primas tem origem mais em problemas internos, que tiram a competitividade da manufatura local, do que no renitente protecionismo do país asiático.
A conversa será mais proveitosa caso a representação brasileira enfoque o ainda incipiente –mas promissor– financiamento chinês para obras de infraestrutura no país. Trata-se de um tema que interessa a ambos os lados: a China, com os cofres cheios, precisa de fornecedores confiáveis de alimentos e minerais; o Brasil não tem recursos para melhorar sua malconservada e deficitária rede de rodovias, ferrovias, armazéns e portos.
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Os asiáticos têm demonstrado interesse em financiar tais obras. No mês passado, o Banco de Desenvolvimento da China ampliou seu escritório no Rio de Janeiro, em meio a negociações de projetos de infraestrutura nas regiões Centro-Oeste e Norte do país, como o de uma ferrovia ligando Cuiabá (MT) a Santarém (PA).
O cancelamento da compra de 2 milhões de toneladas de soja brasileira pela China, na semana passada, devido aos atrasos do embarque no porto de Santos, é apenas o exemplo mais recente e gritante de que uma base logística à altura da demanda asiática beneficiaria os dois países.
O problema é que esse interesse chinês em financiar a infraestrutura ainda não produziu resultados concretos. O contraexemplo, aqui, é o fracasso do Planalto em atrair, até agora, o investimento chinês para o projeto do trem-bala entre Campinas e Rio de Janeiro.
Um grande obstáculo é que a China, mais acostumada a negociações diretas com regimes autocráticos africanos, tem dificuldades em penetrar no emaranhado jurídico-burocrático brasileiro.
Por outro lado, o país tem poucos quadros preparados para negociar com os chineses, principalmente no nível dos governos estaduais. Buscar formas de agilizar essas negociações deveria ser prioridade brasileira.
Sem avançar em competitividade, o que abarca uma ótima infraestrutura, o Brasil dificilmente venderá mais e melhores produtos para a China, manufaturados ou não.
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