Há quase 25 anos em um mercado disputado por gigantes como ADM, Bunge, Cargill, Dreyfus e Amaggi, a Fiagril – uma trading de grãos de Mato Grosso – registrou em 2012 o maior volume de comercialização de sua história.
No ano, a empresa baseada em Lucas do Rio Verde movimentou 2,5 milhões de toneladas de grãos, um aumento de 40,4% sobre 2011. Com isso, a receita líquida saltou 44% e alcançou, pela primeira vez, a marca de R$ 2,42 bilhões.
Em grande parte, o crescimento reflete o avanço do milho em Mato Grosso – no ano passado, a produção do grão praticamente dobrou no Estado, impulsionada pela escalada dos preços internacionais. Com isso, a empresa ampliou, de 650 mil para 1,2 milhão de toneladas, o volume de transações com milho. Em comparação, as operações com soja somaram 1,3 milhão de toneladas.
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Segundo o presidente da Fiagril, Jaime Binsfeld, o comércio de grãos representa cerca de 60% do faturamento da companhia. As vendas de insumos, por meio de operações de barter (troca de insumos por produção futura), respondem por 25% e a produção de biodiesel, por 15%. Em 2012, a companhia produziu 135 mil metros cúbicos do biocombustível em sua unidade em Lucas do Rio Verde, o que lhe deu uma participação de 4,7% no mercado doméstico, de acordo com o executivo.
O ritmo de crescimento da Fiagril chama atenção. Desde 2003, quando faturou R$ 139 milhões, a empresa ampliou a sua receita em mais de 17 vezes. “Até o fim dos anos 1990, a empresa atuava apenas na venda de insumos e na prestação de serviços de armazenagem em Lucas do Rio Verde”, afirma Binsfeld.
Já no início dos anos 2000, a companhia passou a captar recursos junto às tradings internacionais para financiar a aquisição de insumos pelos produtores por meio das operações de barter – um modelo de operação então em franca expansão no Estado -, mas o grande salto aconteceu apenas em 2004. “Foi quando decidimos estruturar as primeiras operações de captação no exterior e uma mesa de operações própria, o que nos permitiu fazer exportações diretas”, explica o executivo.
Em 2008, enquanto implantava sua usina de biodiesel a companhia recebeu um aporte de capital R$ 22 milhões do BNDESPar. “Era um movimento que podia culminar em uma abertura de capital, mas terminou com a recompra das ações pelos acionistas majoritários em 2011”, explicou Binsfeld. A empresa tem dois sócios majoritários: os empresários e políticos Marino Franz (ex-PPS e de malas prontas para o PSDB) e Miguel Vaz Ribeiro (PPS). Franz foi prefeito de Lucas do Rio Verde entre 2003 e 2012 e Ribeiro é o atual vice na prefeitura comandada pelo produtor Otaviano Pivetta (PDT), maior acionista da Vanguarda Agro.
“Até 2008, várias empresas caminhavam na direção de um IPO, mas depois veio a crise e esse cenário mudou. Avaliamos que não era o momento, porque a empresa ainda estava em processo de maturação, mas esse é um caminho natural.” Atualmente, apenas três empresas ligadas ao agronegócio de grãos têm capital aberto na BM&FBovespa: SLC Agrícola, Vanguarda Agro e Brasilagro.
Nos últimos cinco anos, a Fiagril investiu cerca de R$ 71 milhões, sobretudo em sua estrutura de armazenagem. Com isso, sua capacidade estática cresceu de 393 mil toneladas, em 2008, para 639 mil em 2012. Ao todo, a companhia tem hoje 10 unidades de recebimento de grãos.
Com suas atividades concentradas basicamente em Mato Grosso, a Fiagril agora busca a diversificação regional. No mês passado, a empresa inaugurou sua primeira unidade de recebimento em Tocantins, no município de Silvanópolis, com capacidade estática para 60 mil toneladas. Segundo o presidente da trading, o objetivo da companhia é originar 100 mil toneladas de soja e milho na região já neste ano. “Tocantins tem uma logística muito melhor que a de Mato Grosso. É cortado pela ferrovia Norte-Sul, com acesso ao porto de Itaqui (MA).”
A empresa também está colocando fichas na criação de um novo corredor para a exportação de soja de Mato Grosso após a integração da BR-163 com a hidrovia do Rio Tapajós. No ano passado, a empresa criou, em sociedade com a comercializadora de grãos Agrosoja, uma operadora logística (Cianport) para construir e operar estruturas de recebimento e embarque de grãos em Itaituba (PA) e no Porto de Santana (AP).
O objetivo da joint venture é transportar até 3 milhões de toneladas pelo corredor. Na primeira fase, com implantação entre 2014 e 2018, a empresa deve movimentar 1,8 milhão de toneladas. Para financiar o projeto, a empresa captou R$ 73 milhões do fundo da marinha mercante, operado pelo BNDES, mas a previsão é que o investimento consuma cerca de R$ 350 milhões.
A Fiagril também está investindo na produção de sementes. No ano passado, a empresa criou uma joint venture (Sementes Serra Bonita) com a trading Sinagro para a reprodução de variedades de milho e soja no município de Formosa, na divisa entre Goiás e Minas Gerais. Vamos plantar 9 mil hectares, irrigados por 30 pivôs, com produção o ano todo”. Segundo Binsfeld, a nova empresa deve colher 48 mil toneladas de sementes de soja e milho já neste ano, com o objetivo de chegar a 120 mil em até cinco anos.
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