A suspensão, pela Vale, de um investimento bilionário na Argentina e as barreiras do país a produtos brasileiros voltam, nos dias 25 e 26, à agenda bilateral, em um encontro da presidente Dilma Rousseff com a presidente do país vizinho, Cristina Kirchner, em Buenos Aires. O encontro estava marcado para 7 de março e foi cancelado depois da morte do presidente venezuelano, Hugo Chávez. A revisão do acordo automotivo entre os dois países também será tratada pelas duas chefes de Estado.
Oficialmente, a agenda da reunião está em aberto, mas os argentinos, segundo fontes do governo local, não desistiram de convencer a Vale a rever a decisão de suspender seus investimentos no projeto Rio Colorado, de exploração de uma mina de potássio, de custo orçado inicialmente em US$ 4 bilhões, ampliado para US$ 5,9 bilhões, e hoje estimado em US$ 11 bilhões. A empresa, que já investiu cerca de US$ 2,2 bilhões na mina, suspendeu as atividades alegando aumento exagerado de custos devido a problemas locais.
Os argentinos rejeitaram as propostas da Vale para dar viabilidade financeira ao projeto, como o uso de bônus da dívida argentina pelo valor de face para pagar compromissos, argumentando não poder dar à empresa tratamento diferente do que dá a outros investidores. Eles esperam que o governo brasileiro ajude a encontrar uma solução financeira para dar viabilidade ao projeto, que a Vale pretende manter em suspensão, garantindo porém, seus direitos de exploração enquanto não encontra forma de resolver o problema.
Dilma deve anunciar financiamento a investimentos na Argentina e, com isso, espera contornar as pressões sobre a Vale.
Em recente audiência no senado, o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, informou que o governo brasileiro quer aproveitar o encontro para discutir a forte queda nas exportações brasileiras ao país vizinho, que permitiram a ampliação de fatias de mercado para concorrentes de fora do Mercosul. Patriota comentou que não defende a manutenção dos superávits do Brasil no passado recente, que chegaram a US$ 5,8 bilhões no ano passado, mas se preocupa com o “desvio de comércio” que prejudica principalmente produtos como calçados e têxteis. Autoridades argentinas dizem que a perda de mercado se deve à falta de competitividade do Brasil nesse setor. Os brasileiros culpam a retenção de mercadorias feita pelas alfândegas.
No setor automotivo, os argentinos pedem mudanças no programa brasileiro Inovar-Auto, de incentivo à fabricação de automóveis, para pressionar as montadoras a usarem mais peças fabricadas no Mercosul e também evitar que fábricas sejam obrigadas a mudar para o Brasil.
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