Ir sentado no trem. Essa é a principal motivação de quem empurra outras pessoas em horários de pico nas plataformas da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Na terça-feira, um estudante de 15 anos morreu depois de cair nos trilhos na Estação Brás, enquanto uma composição chegava. A polícia investiga a hipótese de o rapaz ter sido vítima do empurra-empurra característico do embarque no rush. O pai diz que processará a empresa.
Usuário contumaz da Linha 3-Vermelha do Metrô, o universitário André Carvalho, de 21 anos, relata que muitos desrespeitam a faixa amarela de segurança nas plataformas da Estação Palmeiras-Barra Funda no pico da tarde, expondo-se ao risco. “O pior é às 18h. As pessoas ficam com receio de não conseguir assento e saem empurrando. Já presenciei brigas.”
Para agravar, diz ele, alguns passageiros simplesmente param na frente das portas quando percebem que não vão conseguir sentar, para aguardar o próximo trem, interrompendo o fluxo da fila. Isso ocorre diariamente: nem as grades de metal instaladas para direcionar o fluxo de entrada ajudam.
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No caso da Linha 8-Diamante da CPTM (Júlio Prestes-Itapevi), a situação é pior no período da manhã, quando a “avalanche” de pessoas tentando entrar impede que quem está dentro consiga desembarcar nas estações intermediárias. É o que afirma a diarista Maria Cláudia Santos Almeida, de 47 anos, que enfrenta essa rotina todos os dias. “Não respeitam ninguém, nem idoso nem mulher.”
Os homens, por sinal, são os que mais recorrem aos empurrões para garantir um espaço menos desconfortável nos vagões, afirma a publicitária Tamires Fernandes, de 23 anos, que embarca no Brás. “Por isso, espero todos que estão com muita pressa entrar para só depois tentar embarcar.” O consultor de negócios Marcelo Morais, de 25 anos, também pega o trem ali. Ele afirma já ter tropeçado no vão entre o trem e a plataforma, por causa dos empurrões.
Queda. Leonardo de Souza Silva, a vítima da queda na plataforma 7 da Estação Brás, na Linha 12-Safira (Brás-Calmon Viana), morreu de politraumatismo. A CPTM exibiu à reportagem vídeos gravados por algumas câmeras de segurança da estação no momento da queda, mas não de todas.
Nenhuma das imagens mostrava exatamente a área onde estava o rapaz. A empresa distribuiu nota à imprensa alegando que testemunhas ouvidas por ela mesma disseram que “um rapaz pulou da plataforma para o estribo de uma das portas, quando o trem ainda estava em movimento”, fazendo com que ele se desequilibrasse e caísse entre dois vagões.
O Estado pediu, desde anteontem, para falar com essas testemunhas, mas a empresa negou. Nenhuma das testemunhas registradas no boletim de ocorrência sobre o caso relatou ter visto alguém pulando assim.
Segundo o delegado titular da Delegacia do Metropolitano (Delpom), José Eduardo Navarro, a CPTM só deve enviar os vídeos do circuito interno da estação na segunda-feira para a polícia. Investigadores buscam agora outras testemunhas que possam ajudar a elucidar a ocorrência. O pai do rapaz, o cortador de tecidos Francisco Maizo Fernandes da Silva, de 40 anos, não acredita na versão da CPTM. Ele diz que está constituindo um advogado para processar a empresa estadual.
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