Apontado como principal interessado na construção e operação da ferrovia Ferrogrão, que vai ligar Sinop (MT) a Miritituba (PA), o consórcio Pirarara está em negociação avançada com um fundo americano interessado em ficar com 12% do investimento. Por ser um ativo novo (greenfield), a Ferrogrão é considerada um projeto difícil e que precisa de esforço conjunto de equity.
O empreendimento está orçado em R$ 12,6 bilhões, sendo a maior parte, cerca de R$ 9 bilhões, concentrada nos cinco primeiros anos. Há uma previsão de que o BNDES financie até 80% da obra. Os valores podem mudar, pois a data-base é de março de 2015. Os estudos estão em fase de ajuste.
A estimativa é de que o consórcio feche o acordo não vinculante com esse fundo em até 45 dias, disse Guilherme Quintella, presidente da Estação da Luz Participações (EDLP), uma das empresas que compõem o consórcio Pirarara, responsável por apresentar ao governo a Proposta de Manifestação de Interesse (PMI) do empreendimento.
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O edital de licitação para construção e concessão da ferrovia deve ser lançado no segundo semestre, conforme cronograma do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Além da EDLP – que atua como estruturadora do projeto -, o consórcio Pirarara tem como âncoras as tradings agrícolas ADM, Cargill, Amaggi, Louis Dreyfus e Bunge.
O grupo pretende entrar com no máximo 40% do investimento. “É um bom negócio, mas o capital das tradings é de giro, não é para imobilizar”, explica Quintella, sobre a decisão de o consórcio ter um teto para investir na ferrovia.
Todavia, o maior desafio para o consórcio é trazer um investidor com capital e experiência no ramo de ferrovia. Que entenda da engenharia e se encarregue pela realização da obra. Em julho o Pirarara – nome de um peixe de água doce típico do Amazonas – deve iniciar road shows (apresentações) na Europa, Ásia, Estados Unidos e Oriente Médio. “Ninguém no Brasil entende de ferrovia para construir. Há quem entenda de operar pedaços, não o todo. Aqui todo mundo pegou o prato feito”, diz Quintella.
O Valor conversou com um grupo estrangeiro interessado no projeto, mas ele prefere ver o edital antes de definir se embarca ou não.
Apesar de o grupo Pirarara ter apresentado a PMI da Ferrogrão para o governo, a perspectiva é de que haja disputa no leilão. Haverá uma outorga mínima para arrematar a concessão, mas como se trata de um projeto do zero, que demanda muito desembolso, o mercado espera que o valor de outorga que definirá o vencedor do leilão deva ser marginal.
A avaliação é que para ter um retorno capaz de compensar os riscos e atrair esses parceiros, o futuro concessionário necessita de exclusividade na operação durante os 65 anos de duração do contrato.
Quintella diz que o modelo do operador ferroviário independente (o chamado OFI), que opera com trens próprios na malha do concessionário mediante pagamento pelo direito de passagem, é “bom”. Mas não funcionaria na Ferrogrão, onde o investimento é todo privado. “O OFI cabe em alguns lugares, em outros não. Se puser OFI na Ferrogrão, o Pirarara quer ser só OFI”, acrescentou.
A Ferrogrão terá 1.142 quilômetros com capacidade para 42 milhões de toneladas quando operando à plena capacidade. Conectará a região produtora de grãos do Centro-Oeste ao Pará, desaguando no porto de Miritituba. O traçado da ferrovia correrá em paralelo à BR-163, que tem trechos sem asfaltamento. Na semana passada, o consórcio sugeriu que o governo concedesse o trecho da rodovia entre Sinop e Miritituba ao setor privado depois que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) terminar as obras. A ideia é que seja uma concessão de até sete anos, quando a ferrovia começaria a operar.
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