A gaúcha Kepler Weber, fabricante de silos e equipamentos
para armazenagem de grãos, ajustou sua estratégia e pretende voltar a crescer
ampliando as exportações, com especial atenção para os demais países da América
Latina. O objetivo é ampliar sua participação nas exportações totais de seu
segmento na região de 35% para 50% em dois anos.
Segundo Olivier Colas, vice-presidente da Kepler Weber, o
plano independe da conclusão da venda da empresa para a americana AGCO, uma das
maiores fabricantes de máquinas agrícolas do mundo, dona da marca Massey
Ferguson. A múlti anunciou em fevereiro sua oferta de US$ 185 milhões para
adquirir a companhia brasileira. O executivo lembrou que a AGCO, no portfólio
de produtos da marca GSI, tem linhas voltadas par a América Latina.
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A Kepler já mantém participações de mercado em todos os
países da América do Sul, e quer ampliar significativamente a presença na
Argentina e Colômbia, mercados nos quais, conforme Colas, há grande potencial
de crescimento.
Com a retirada paulatina das taxas para exportação de grãos
na Argentina, o vizinho passa a ser mais interessante para as estruturas de
armazenagem e de movimentação de granéis da Kepler. “Já fechamos alguns
negócios. Queremos pegar a onda de oportunidade no início, quando ela está se
formando”. Na Colômbia, a gaúcha está organizando parcerias com empresas
locais para expandir suas vendas. “As áreas para produção [agrícola]
estavam na mão das Farc e do tráfico de drogas antes”, afirmou.
No passado, a Kepler tentou diversificar ainda mais seus
mercados para ficar menos dependente das volatilidades da América do Sul. Mas
os planos esbarraram na instabilidade de países da África, Oriente Médio e
Leste Europeu “Vamos mercados esses mercados banho-maria”, disse
Colas.
Ele prevê que, com os novos planos, a receita da Kepler com
exportações pode atingir US$ 50 milhões anuais. Em 2016, foram US$ 30,9
milhões.
Paralelamente, no mercado brasileiro outro processo de
diversificação ganha corpo, sobretudo a partir de investimentos na área de
movimentação de granéis, inclusive peças e serviços. Segundo Colas, esse
mercado movimenta, em anos normais, entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão no país.
A perspectiva é que a receita na área de movimentação de granéis represente 20%
do total já em 2017. No ano passado, a fatia foi de 7,7%, ou R$ 36,7 milhões.
No segmento de armazenagem, o Plano Safra 2017/18, anunciado
na semana passada pelo governo, gerou boas expectativas para a companhia. Para
o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), gerido pelo BNDES, o
governo liberou R$ 1,6 bilhão em recursos, com taxa fixa de 6,5% ao ano e prazo
de pagamento de até 15 anos. O montante é 5% maior que o do ciclo 2016/17, que
terminou com R$ 1,68 bilhão, após aporte adicional de R$ 280 milhões.
“As taxas de juros do PCA, no novo plano, ficaram
menores até que as do custeio”, pontuou Colas. No Plano Safra 2016/17, a taxa
de juros era de 8,5% ao ano. Segundo ele, o volume de recursos ainda é modesto,
mas poderá ser ampliado caso haja demanda.
O Plano Safra agradou, por outro lado, não é suficiente,
sozinho, para garantir a retomada do crescimento da companhia, que encerrou o
ano passado com prejuízo líquido de R$ 22,1 milhões, após lucro modesto de R$
6,2 milhões em 2015. A instabilidade política, que foi reacendida com as
delações premiadas dos irmãos Joesley e Wesley Batista, pode adiar a volta da
empresa ao azul. “Quem compra armazenagem, compra investimento. O anúncio
pode ser bom, mas não se concretizar”, disse o executivo.
De qualquer forma, ponderou Colas, existe uma demanda
represada muito significativa por armazenagem no Brasil, e a colheita recorde
de grãos nesta temporada 2016/17 deixou isso evidente. “Alguma coisa vai
ter de acontecer. É muita safra armazenada ao ar livre”, observou o
vice-presidente.
De acordo com o último levantamento da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab), a safra de grãos do ciclo 2016/17 será de 234,33
milhões, volume 25,6% maior que o da última temporada. E, de acordo com
projeção preliminar do Ministério da Agricultura, a produção do próximo ciclo
poderá chegar a 240 milhões de toneladas. Hoje, o déficit de armazenagem no
país calculado pela Conab está na casa das 70 milhões de toneladas. “Nós
últimos dez anos, a safra tem crescido, em média, 4% ao ano. O problema é que o
setor de armazenagem cresce em torno de 2,7% ao ano. O déficit só
aumenta”.
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