Planejar infraestrutura reduz espaço para corrupção, diz O’Regan

A América Latina tem investido entre 1% e 2% do Produto
Interno Bruto (PIB) em infraestrutura, bem abaixo dos 5% a 7% do Sudeste
Asiático, uma região que compete pela atração de investimentos. Para expandir
essa conta, a América Latina precisa da participação maior do setor privado nos
projetos.

Mas como fazer isso em meio à instabilidade política e aos
escândalos de corrupção? De acordo com Nicholas O’Regan, diretor global de
infraestrutura do Escritório das Nações Unidas de Serviços de Projetos (UNOPS),
a resposta é planejar a infraestrutura no longo prazo.

O irlandês, de 48 anos, acaba de assumir o posto. Em sua
primeira viagem ao Brasil, que ocorreu nesta semana, concedeu a seguinte
entrevista exclusiva para EXAME.

Qual tem sido o ritmo
de investimento em infraestrutura na América Latina?

A região tem uma profunda necessidade de investimentos em
infraestrutura, com baixo desenvolvimento das redes de estradas e ferrovias,
por exemplo, o que causa um atraso na economia.

Na região, de 1% a 2% do produto interno bruto tem sido
investido em infraestrutura, enquanto, por exemplo, no Sudeste Asiático, o
indicador está entre 5% e 7%. No Brasil, a média esteve em 2,5% entre 2008 a
2013.

Houve um longo período de investimentos abaixo do
necessário. Além disso, parte do atraso na infraestrutura se deve à manutenção
inadequada ou ao intenso uso dos projetos existentes, que acabam se degradando.

Como aumentar os
investimentos?

A região precisa aumentar o número de projetos. Isso é
possível com eficiência dos gastos e com transparência na contratação. Há uma
necessidade de uma mudança de paradigma para que os governos possam planejar os
investimentos em infraestrutura através de decisões baseadas em evidências.

O setor público tem
capacidade de elevar seus investimentos?

Muitos países na região estão com a dívida pública elevada,
o que limita os empréstimos de instituições multilaterais. Por isso, um dos
caminhos para desenvolver a infraestrutura está nas concessões e parcerias
público-privadas.  Essas parcerias não
são uma panaceia. Elas são o caminho.

Quais os desafios
para essas parcerias?

Os governos contratam os serviços e os projetos, mas levam
muito tempo para pagar, devido à burocracia, restrição orçamentária e etc.

Ou ainda focam em garantias que não são suficientemente
confiáveis, então os competidores mais estruturados declinam de participar do
projeto e há menos competição.

A estruturação e a adoção de mecanismos de garantias estão
em discussão no Brasil, que já tem demonstrado um bom grau de maturidade
tentando desenvolver as garantias.

O setor privado também tem de fazer sua lição: eles têm de
aprender a trabalhar no longo prazo, o que inclui planejar melhor os riscos
para ser bem-sucedidos.

O Brasil vive um
período de instabilidade política. Qual o impacto das crises políticas para o
investimento em infraestrutura?

É um problema global que decisões de investimento em
infraestrutura tenham de ser tomadas em um ambiente de crise política. Uma
visão de longo prazo para essa agenda, no entanto, tiraria as decisões do ciclo
político e criaria mais transparência nas decisões.

Pouca transparência ainda abre espaço para outro problema,
que é a corrupção. Então, quando o país toma o cuidado para que tudo seja feito
olhando o longo prazo, fora dos ciclos políticos, isso deixa menos espaço para
a corrupção.

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