Passado um trimestre da safra sucroalcooleira 2017/18,
algumas usinas brasileiras decidiram “recomprar” uma parcela do
açúcar que haviam acertado para entrega futura a tradings ao longo desta
temporada, deixando um volume maior do commodity a ser produzido neste ciclo
sem preço de venda fixado previamente.
Desde o início da safra, o volume de açúcar que estava com
preço fixado e teve essa fixação revertida pode estar entre 500 mil toneladas e
1 milhão de toneladas, estima Arnaldo Corrêa, da Archer Consulting. E o volume
pode crescer, segundo traders que preferem não se identificar, e relatam que
têm sido sondados para realizar essa operação.
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Considerando as estimativas para a produção brasileira de
açúcar, o volume recomprado até agora é pequeno. A União das Indústrias de
Cana-de-Açúcar (Unica) estima que a produção do Centro-Sul será de 35,2 milhões
de toneladas. Entre analistas, as projeções oscilam com diferenças de pouco
mais de 1 milhão de toneladas para cima ou para baixo.
Para alguns traders, o movimento foge do padrão pelo volume,
mas outros avaliam que a quantidade envolvida até agora está dentro da média do
que ocorre a cada safra. Para Corrêa, “não é uma coisa comum, nem
recomendada”.
Essas operações ocorreram em um momento em que os preços
futuros do açúcar começaram a despencar. Na bolsa de Nova York, os contratos
futuros de segunda posição de entrega acumularam queda de 18,2% no primeiro
trimestre da safra e chegaram a atingir o menor patamar desde fevereiro de 2016
no último dia 28 de junho, cotados a 12,76 centavos de dólar a libra-peso,
segundo o ValorData.
Há vários motivos para essa recompra de hedge em um momento
desfavorável do mercado. Segundo traders ouvidos pelo Valor, algumas usinas
recompraram o hedge porque achavam que o preço subiria, o que não ocorreu.
Outras, que estavam com um fluxo de caixa mais apertado, o
fizeram porque precisavam de recursos para manter a usina rodando. Nesse caso,
acabaram destinando cana para etanol, já que recebem pelo produto assim que o
entregam nos caminhões da distribuidora, enquanto o recebimento pelas vendas de
açúcar ocorre com diferença de meses, apenas quando o produto entra nos navios.
Entre esses casos relatados, não necessariamente a usina tem
pouca capacidade financeira. Afinal, ela havia sido capaz de conseguir linha de
crédito para a fixação.
Algumas das companhias que fizeram recompra de hedge de
parte do açúcar que havia sido fixado foram a Odebrecht Agroindustrial, a
Clealco e a Abengoa, segundo traders. Procuradas, as empresas não comentaram.
No caso das usinas que fizeram a operação com corretoras, a
recompra envolve só a diferença entre o valor fixado e o vigente. Nas operações
com tradings, algumas cobram um percentual sobre essa diferença. Essa cobrança
se justifica porque a trading repassa multas que arca com operadores logísticos
pelo rompimento de acordo, segundo trader.
Corrêa, da Archer, vê com maus olhos as recompras de hedge.
“Porque você troca algo certo por duvidoso. É especulação. E nem sempre se
consegue lucro”, afirma. Em seu cálculo, 70% da produção brasileira desta
safra está com preço fixado.
Um trader observa, porém, que os agentes comerciais (que
atuam como vendedores ou compradores de açúcar) na bolsa de Nova York estão com
uma posição baixa em relação à média histórica. “A média histórica dos
comerciais para essa semana [última de junho], ficava em 200 mil a 300 mil
lotes. Desta vez está em 50 mil lotes. Pode ser um indício de que o produtor
está pouco precificado”, diz
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