Embora as atenções do mercado sobre Vale estejam
direcionadas para a operação de unificação de ações da companhia, a mineradora
está em contagem regressiva para o fechamento de outra transação há muito tempo
esperada, capaz de contribuir de forma relevante para a redução do
endividamento da companhia a curto prazo. Trata-se da conclusão de uma operação
bilionária de financiamento com um “pool” de bancos liderados pelo
japonês JBIC para o empreendimento de carvão da empresa, em Moçambique, na
África Subsaariana.
O financiamento se dá na modalidade “project
finance” em que normalmente as receitas do empreendimento servem como
garantia aos empréstimos dos bancos. “Estamos confiantes de que teremos a
conclusão de tudo no terceiro trimestre deste ano. Estamos em contagem
regressiva”, disse ao Valor Luciano Siani Pires, diretor-executivo de
finanças e de relações com investidores da Vale.
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No fim de março deste ano, a Vale recebeu US$ 733 milhões de
um total de US$ 770 milhões a serem pagos pela japonesa Mitsui por uma fatia no
negócio de carvão da mineradora em Moçambique. Pelo acordo, a Mitsui assumiu
participações acionárias na mina de carvão de Moatize, no noroeste do país
africano, e também no Corredor Nacala, malha logística integrada por ferrovia e
porto.
Na ocasião, a Vale disse que a Mitsui iria desembolsar a
diferença, para chegar aos US$ 770 milhões, quando da conclusão da operação do “project
finance” com os bancos. A estimativa é que os bancos desembolsem um valor
de até US$ 2,7 bilhões na operação de financiamento, conforme já divulgado pela
própria Vale. Não fica claro hoje qual deve ser exatamente esse valor.
Um analista disse que a operação, quando concluída, será bem
recebida pelo mercado uma vez que vai reforçar a estratégia de
“desalavancagem” da Vale. A Vale vem trabalhando para reduzir a
dívida líquida da companhia para um patamar entre US$ 15 bilhões e US$ 17 bilhões,
número que poderia ser alcançado até o fim deste ano dependendo dos preços do
minério de ferro. A dívida líquida da Vale no primeiro trimestre de 2017
situava-se em US$ 22,7 bilhões, abaixo dos US$ 25 bilhões do fim de 2016.
A operação de financiamento para o carvão de Moçambique é
aguardada há pelo menos dois anos pelo mercado. Mas já houve frustração dos
investidores pelos diversos adiamentos na conclusão dessa transação. A Vale
justificou os atrasos dizendo tratar-se de transação complexa envolvendo
diversos países e instituições financeiras multilaterais e comerciais. Há no
mercado quem trabalhe com a expectativa de a operação do financiamento do
carvão ser finalmente fechada no quatro trimestre.
Este mês a Vale vai divulgar os resultados operacionais
relativos ao segundo trimestre e há expectativa de que a produção de carvão em
Moçambique continue mostrando melhorias. No primeiro trimestre do ano, a
produção da commodity da Vale no país africano totalizou 2,4 milhões de
toneladas, aumento de 170% sobre igual período do ano passado.
Também há expectativas, entre fontes do setor, se poderá
haver mudanças na estratégia da Vale para o carvão a partir do diagnóstico que
está sendo feito nos negócios da companhia a pedido do novo presidente da
mineradora, Fabio Schvartsman.
Esse diagnóstico deverá ser divulgado ao mercado pela
empresa logo depois que ficar pronto e for apreciado pelos acionistas.
No quarto trimestre de 2016, a área de carvão da Vale deu
uma “virada”, registrando um lucro antes de juros, impostos, depreciação
e amortização (Ebitda) de US$ 156 milhões. No primeiro trimestre, o Ebitda da
área foi de US$ 61 milhões. Os preços do carvão metalúrgico, usado como matéria
prima pelas siderúrgicas, está em um patamar confortável para a Vale. Depois de
atingir um pico de quase US$ 300 por tonelada no mercado à vista da Austrália
em abril deste ano, as cotações se estabilizaram na faixa de US$ 150 por
tonelada. “É um preço bom para nós”, disse Siani.
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