Ex-executivos de duas empreiteiras falam em propina por obras em SP

Novos depoimentos de ex-executivos das
construtoras OAS e Andrade Gutierrez à Polícia Federal citam pagamento de
propina em obras de São Paulo para campanha do PSDB. Os depoimentos foram
prestados no inquérito que investiga o senador José Serra, com base na delação
premiada da Odebrecht.

O jornal O Estado de São Paulo mostra
que ex-executivos da OAS e da Andrade Gutierrez disseram que pagaram propina
por contratos do Rodoanel para a campanha do tucano José Serra para o governo
do estado de São Paulo em 2006.

A TV Globo também teve acesso aos
novos depoimentos que chegaram em janeiro ao inquérito que está no Supremo
Tribunal Federal contra o atual senador. O relator é o ministro Gilmar Mendes.

O ex-diretor da OAS, Carlos Henrique
Barbosa Lemos, e o ex-presidente da Andrade Gutierrez Engenharia, Flávio David
Barra, disseram que as empreiteiras criaram um “grupo de trabalho”
que ajudou a elaborar o edital do Rodoanel Sul. As obras foram divididas em
cinco lotes liderados por consórcios de empreiteiras: Andrade Gutierrez, OAS,
Odebrecht, Queiroz Galvão e Camargo Correia.

No depoimento em agosto de 2017, o
ex-executivo da OAS, Carlos Henrique Barbosa Lemos, disse que os representantes
das empresas foram informados pela Andrade Gutierrez que seria necessário
realizar o pagamento de aproximadamente R$ 30 milhões para o então secretário
de transportes do estado, Dario Rais Lopes. Esses R$ 30 milhões seriam para o
caixa de campanha eleitoral do PSDB. Ele contou que o consórcio OAS Mendes
Junior pagou R$ 5,4 milhões.

O ex-executivo disse que a OAS fez o
repasse de R$ 2,3 milhões para Mário Rodrigues Júnior, diretor de engenharia da
Dersa, concessionária do governo de São Paulo e que fez o contrato do Rodoanel
Sul. Carlos Lemos disse que se recorda que parte do dinheiro foi transferida na
forma de doações eleitorais ao PSDB, registradas na Justiça Eleitoral, sendo
que outra parte dos pagamentos foi feita em espécie.

Já o ex-executivo da Andrade
Gutierrez, Flávio David Barra, citou o pagamento de propina para a diretoria do
Metrô de São Paulo. No depoimento recente, em 25 de janeiro, ele disse que foi
procurado pelo então presidente do Metrô, Luiz Carlos Frayse David, que cobrou
que seria necessária a arrecadação de recursos na ordem de R$ 2 milhões.

Ele disse que então combinou o
pagamento na medida em que as obras do primeiro lote da expansão da Linha 2 do
metrô fossem faturadas.

Flávio Barra contou ainda que a
Andrade Gutierrez pagou R$ 2 milhões que seriam destinados a Eduardo
Bittencourt, conselheiro do Tribunal de Contas de São Paulo, que segundo o
depoimento, pediu R$ 10 milhões para cuidar da fusão dos consórcios das
empreiteiras em obras do metrô.

Os depoimentos dos ex-executivos da
OAS e da Andrade Gutierrez confirmam outros pontos da investigação que começou
com a delação da Odebrecht. Eles contaram que em 2007, ao assumir o governo do
estado de São Paulo, José Serra determinou “uma redução global de 4% nos
contratos” – o que foi feito. Mas a diminuição nos preços não parou com o
esquema de propina, de acordo com os depoimentos.

O ex-diretor da OAS, Carlos Henrique
Barbosa Lemos, disse que Paulo Vieira Sousa, conhecido como “Paulo
Preto” e apontado no inquérito como “pessoa próxima ao então
governador José Serra” também exigiu que as empresas efetuassem o pagamento
a título de formação de caixa de campanha, no valor de 0,75% sobre cada
faturamento recebido da Dersa.

O Senador José Serra disse que todas
as campanhas eleitorais dele foram conduzidas dentro da lei sob a
responsabilidade do PSDB. O diretório estadual do PSDB declarou que jamais
pediu a qualquer empresa vantagens em contratos.

O ex-secretário de transportes do
estado de São Paulo e atual Secretário Nacional de Aviação Civil, Dario Lopes,
negou que tenha pedido recursos ilícitos.

A Dersa – órgão responsável pela
contratação das obras em São Paulo – disse que aguarda a conclusão das
investigações e o ressarcimento dos danos que venham a ser apurados. Mário
Júnior, ex-diretor da Dersa e atual diretor da Agência Nacional de Transportes
Terrestres, não quis se manifestar. Paulo Sousa, ex-diretor da Dersa, disse que
nunca cedeu às pressões das empreiteiras.

A Secretaria Estadual dos Transportes
Metropolitanos afirmou que acompanha com atenção os desdobramentos das
investigações da Lava Jato.

Eduardo Bittencourt, ex-conselheiro do
tribunal de contas de São Paulo, disse que sempre atuou dentro da legalidade.

A Odebrecht declarou que está
colaborando com a justiça. A Andrade Gutierrez disse que apoia toda a
iniciativa de combate à corrupção. A OAS não se manifestou. A Queiroz Galvão
não quis comentar. A Camargo Corrêa disse que fez acordo de leniência para
colaborar com as autoridades de forma permanente.

E nós não conseguimos contato com Luiz
Carlos Frayse David, ex-presidente do metrô de São Paulo.

Fonte: Jornal Nacional

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