O Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinou quase 90% do
total desembolsado no primeiro semestre para micro, pequenas e médias empresas
e para o setor de infraestrutura. Os dois segmentos são a prioridade na atual
fase da instituição, disse o presidente do banco de fomento, Dyogo de Oliveira,
enfatizando também o papel complementar que o BNDES terá daqui para frente para
financiar o investimento. O mercado de capitais terá uma participação cada vez
maior nessa tarefa, segundo ele.
Dyogo
observou que os empréstimos para empresas de até médio porte, com faturamento
máximo de R$ 90 milhões por ano, responderam por quase 50% do total
desembolsado de janeiro a junho. Essas companhias ficaram com R$ 13,495
bilhões, exatos 48,6% dos R$ 27,8 bilhões que o BNDES financiou no período. O
valor destinado a esse grupo de empresas foi 1% superior ao da primeira metade
de 2017. Já os desembolsos totais tiveram mais uma queda expressiva, de 17%,
num cenário de forte encolhimento dos empréstimos do banco.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
“O foco
é pegar companhias num estágio que elas possam escalar, como se diz no banco,
com o apoio do BNDES”, disse Dyogo, em entrevista ao Valor. A fatia das
micro, pequenas e médias empresas no total emprestado foi de 42% em 2017 e de
apenas 27,4% em 2010.
Nesse
cenário, o BNDES vai compartilhar o risco de crédito em operações com essas
companhias, assumindo uma parcela de 30% – os outros 70% serão responsabilidade
das instituições que atuam com agentes financeiros do banco. Hoje, elas ficam
com 100% do risco. A expectativa é que isso entre em vigor em dezembro,
contribuindo para reduzir as taxas cobradas.
Já o setor
de infraestrutura abocanhou R$ 11 bilhões no primeiro semestre, quase 40% dos
recursos desembolsados pelo banco nesse período. Esse valor é 9% inferior ao
destinado à área na primeira metade do ano passado. Em 2017, projetos de
infraestrutura ficaram com 38% do total emprestado pelo banco. Em 2016, com
29,4%.
Dentro do
segmento, o setor de energia elétrica é o que recebe a maior parte dos
recursos. De janeiro a junho, ficou com 37% dos R$ 11 bilhões destinados para
infraestrutura. De acordo com Dyogo, isso ocorre porque o modelo regulatório do
setor de energia “é bom”. O mesmo não ocorre com a área de saneamento
básico, cujo modelo é “deplorável”, segundo ele. “A prerrogativa
constitucional é municipal, a empresa é estadual e o funding é federal. Ninguém
consegue administrar.”
Para o
presidente do BNDES, não há problemas de falta de recursos para o financiamento
de infraestrutura no Brasil. Ele disse que o banco tem dinheiro para a tarefa,
e ainda pode fazer captações no mercado para cumprir esse objetivo. Além disso,
Dyogo enfatizou o crescimento do papel do mercado de capitais nesse processo.
Neste ano, as emissões de debêntures de infraestrutura superaram R$ 10 bilhões
até junho, mais que os R$ 9 bilhões emitidos de todo o ano passado, notou
Dyogo. Segundo ele, há também uma estruturação de vários fundos de
infraestrutura no mercado, movimento que conta com o apoio do BNDES.
Na visão de
Dyogo, o mercado de capitais deverá ocupar um espaço cada vez maior no
financiamento à infraestrutura no país. Para isso, o fundamental é a qualidade
da regulação. Segundo ele, novos projetos de energia eólica que têm saído
contam com muita participação do mercado justamente por causa da boa regulação.
E como fica
o crédito para grandes empresas na atual fase do banco? “As grandes
companhias têm hoje no BNDES aquelas condições distorcidas que tinham
antes”, afirmou Dyogo. Na época em que o banco oferecia financiamentos em
condições muito generosas, muitas empresas faziam uma “arbitragem”,
segundo ele. Pegavam os recursos próprios que poderiam ser usados para investir
e os aplicavam, tomando então empréstimos no banco de fomento para então fazer
investimentos. “O BNDES não oferece mais oportunidade para isso”. A
partir deste ano, a Taxa de Longo Prazo (TLP) substituiu a Taxa de Juros de
Longo Prazo (TJLP) nos empréstimos do banco, visando eliminar os subsídios num
prazo de cinco anos.
Hoje,
empresas com acesso a crédito barato têm inclusive tomado recursos no mercado
para pagar antecipadamente dívidas com o instituição. Grandes companhias estão
num estágio em que muitas delas não precisam de empréstimos do BNDES, por
conseguirem captar dinheiro no mercado, disse Dyogo. Ele afirmou que o banco
deve participar de projetos que agregam valor, conhecimento, tecnologia e
capacidade produtiva, melhorando a produtividade da economia. Iniciativas que
envolvam pesquisa e desenvolvimento de companhias de grande porte fazem sentido
nesse quadro.
Ao tratar do
tamanho ideal do BNDES, Dyogo estimou desembolsos equivalentes a 2% do PIB,
nível próximo ao observado antes do inchaço do banco. Em 2010, o BNDES chegou a
emprestar 4,33% do PIB. Em 2017, os desembolsos foram de R$ 70,8 bilhões,
apenas 1,08% do PIB. Para Dyogo, o nível de 2% do PIB será retomado em quatro a
cinco anos. Com esse volume do BNDES, ele acredita ser possível financiar o
investimento e contribuir para o país crescer a um ritmo de 2,5% a 3% por um
bom período, em atuação complementar à do mercado de capitais.
Fonte: https://www.valor.com.br/brasil/5729497/bndes-mira-em-infraestrutura-e-pequenas-empresas
Seja o primeiro a comentar