Vendida como ‘modelo’, estação AACD do metrô de SP falha na acessibilidade

SÃO PAULO –
Propagandeada como um marco de acessibilidade para o metrô paulista, a mais
nova estação da rede, a AACD-Servidor, da linha 5-Lilás, será aberta ao público
nesta sexta-feira (31) sem alguns serviços básicos nem inovações ou opções
adicionais às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzidas.

Os avanços
nas instalações são tímidos para a estação que fica no mesmo quarteirão de dois
centros de saúde com intenso fluxo de pessoas com potenciais problemas de
mobilidade: a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) e o
Hospital do Servidor Público Estadual, na Vila Clementino.

A AACD faz
mil atendimentos por dia, e o hospital do Servidor recebe, 12 mil, entre
pacientes, acompanhantes e funcionários. De acordo com o Metrô, 22 mil pessoas
deverão passar pela estação todos os dias.

A linha
5-lilás parte da estação Capão Redondo e agora chega até a AACD/Servidor. O
projeto é de que até setembro ela cruze as linhas 1-azul e 2-verde, nas
estações Santa Cruz e Chácara Klabin.

Toda a linha
5-lilás deveria estar pronta em 2014, segundo promessas do ex-governador e
candidato à presidência Geraldo Alckmin (PSDB).

A construção
da estação coube ao governo paulista, sob o comando de Marcio França (PSB). Já
a operação será da concessionária ViaMobilidade, cujos acionistas já operam a
linha 4-amarela.

A estação
AACD-Servidor, que inicialmente estará aberta apenas das 9h às 16h, segue o
modelo de outras paradas mais novas do metrô, com o básico em acessibilidade,
como piso sinalizado para cegos, grande área de circulação, corrimãos,
banheiros acessíveis e funcionários treinados para o atendimento deste público.
A AACD-Servidor é a única que, no pavilhão de entrada, contará com dois
elevadores.

Por outro
lado, a estação não terá guichês de atendimento nem comunicadores rebaixados.
Também não há passagem de catracas específicas para cadeirantes, como existe,
por exemplo, em estações da linha4-amarela.

Para que o
cadeirante possa acessar a plataforma, é preciso passar pelo “portãozinho
lateral”, ao lado das catracas, aberto por um funcionário da concessionária,
limitando a autonomia de quem embarca.

Para chegar
aos banheiros acessíveis é preciso passar por uma rampa sem material
antiderrapante. As lixeiras são abertas por pedal, o que é pouco viável a
cadeirantes.

No piso de
embarque da nova estação, também quase nada de novidades. Não possui número
maior de assentos para um potencial público com maior limitação para permanecer
em pé. Também não há mais pontos preferenciais de embarque e desembarque.

Um comunicador,
com a inscrição SOS PNE (Pessoas com Necessidades Especiais), usa terminologia
inadequada, de acordo com a atual legislação do país, que roga o uso do termo
pessoa com deficiência ou pessoa com mobilidade reduzida. A estação também não
dispõem de recurso específico para atender deficientes auditivos.

De acordo
com o Metrô, os trens possuem um sistema de calibragem que os ajustam à altura
da plataforma automaticamente. Mas nesta quinta-feira  (30), durante visita da Folha, com a estação
ainda em fase de testes, o desnível chegava a cerca de 10 centímetros. Mesmo se
essa altura for de alguns centímetros, já dificulta o embarque de passageiros
com mobilidade limitada.

“Esperava
que tivessem rampas especiais para embarcar no vagão e me dar mais autonomia,
sem depender de funcionários. Já sofri um acidente na estação República.  Minha cadeira motorizada caiu no vão entre o
trem e a plataforma e ficou destruída”, diz Elizabete Nascimento, assistente
jurídica, 51.

De acordo
com o Metrô e a ViaMobilidade, funcionários foram treinados e estarão à
disposição para auxiliar o usuário que tiver necessidade de apoio. Não foi
informado, porém, quantos serão nem como foi o treinamento.

Para o
Metrô, a acessibilidade no local é adequada. O Metrô alega que a AACD
participou do planejamento de acessibilidade da estação. Procurado, o centro de
reabilitação não comentou.

Destacam-se
positivamente na estação os nove elevadores, um pouco maiores que os
tradicionais, com capacidade para 13 pessoas e 975 kg.

Um recuo
para embarque e desembarque de passageiros na estação, para até três veículos,
em um dos lados da rua Pedro de Toledo, também é positivo para pessoas com
restrição de mobilidade.

“Por ser uma
estação ao lado da AACD, esperava-se um pouco mais. Há rampas fora do padrão,
travessia de pedestre que poderia ter sido melhor elaborada”, afirma Valmir de
Souza, especialista em inclusão e acessibilidade.

Leia também: Paulistano
ganha estação do metrô a 14 minutos a pé do parque Ibirapuera

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/08/vendida-como-modelo-estacao-aacd-do-metro-de-sp-falha-na-acessibilidade.shtml


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