Promessa de
governantes recentes, o trem de alta velocidade, apelidado de trem-bala, é uma
realidade distante do brasileiro, mas não deixa de ser um meio de transporte
fascinante do ponto de vista tecnológico.Capaz de levar centenas de passageiros
em composições que se deslocam a partir de 150 km/h, esse tipo de trem é uma
peça-chave nos sistemas ferroviários de países europeus e asiáticos.
Milhões de
pessoas usam esses sistemas mundo afora, podendo viajar em altíssima velocidade
com mais conforto (e menos burocracia) do que em aviões e levando menos tempo
para chegar no destino do que em um ônibus de turismo. Mas qual a diferença
dessas composições supervelozes, se comparadas com as tradicionais?
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“É uma
questão de qualidade dos trilhos e das rodas, do alinhamento da
estrutura”, explica Joseph Youssif Saab Junior, coordenador do curso de
engenharia mecânica do Instituto Mauá de Tecnologia. “No Brasil temos uma
quantidade enorme de linhas férreas da época do império, em que você tem que
limitar a velocidade dos trens a 30 ou 40 km/h. Já o Metrô tem uma fundação bem
apropriada, trilhos alinhados e consegue em geral a 70, 80 km/h, mas conseguem
chegar a mais.”
“É
sempre uma questão de precisão do alinhamento dos trilhos e do contato das
rodas. Você não compra um trem bala e põe na estrutura que tem no Brasil.”
Quando o
trem-bala surgiu?
ENTENDA A
TECNOLOGIA POR TRÁS
O tempo para
percorrer os 397 km que separam as duas cidades caiu para a casa de quatro
horas com a primeira versão do Shinkansen, que um ano depois, em 1965, já foi
aprimorado para realizar a viagem em pouco mais de três horas.Embora diferente
para época, o exemplo japonês não serviu tanto de influência para o resto do
mundo, que correu atrás de tecnologias semelhantes.
Países
europeus e os Estados Unidos desenvolveram suas próprias versões de trens de
alta velocidade, sendo que a França foi quem se destacou como referência para
os demais. “Um padrão mais comum (que o Shinkansen) é o da Alstom, que
surgiu na França (em 1981) e se espalhou mais. O caso japonês é mais isolado e
de butique”, diz Saab.
Uma outra
fronteira de velocidade
Em paralelo
ao desenvolvimento de trens de alta velocidade que circulam por trilhos
tradicionais estão as pesquisas e testes com os comboios de levitação
magnética, conhecidos como maglev. Os experimentos com essa tecnologia datam do
início do século 20, mas a aplicação em trens comerciais só ocorreu no Reino Unido
em meados de 1980, com composições que circulavam com velocidades baixas.
O maglev é,
no entanto, responsável pela linha comercial de maior velocidade na atualidade.
Ela tem 30 quilômetros de extensão e está localizada nos arredores de Xangai,
na China, trajeto que é realizado em apenas oito minutos, durante os quais o
trem alcança a velocidade de 430 km/h.
Movido a
base de ímãs de um lado e eletroímãs do outro, o maglev já teve testes
realizados no Japão que passaram da barreira dos 600 km/h. A tecnologia ainda
não está madura o suficiente para ser implementada em larga escala, por isso
ela ainda não tem uma presença significativa nos rankings de linhas mais
rápidas do mundo. Mas além da velocidade, a levitação magnética tem outras
vantagens.
“Não
tem atrito direto com o trilho, simplesmente não encosta. Toda aquela energia
que você gastava está disponível para acelerar o trem. Uma primeira vantagem é
que não tem muito desgaste para manutenção constante”, detalha Saab,que
ainda detalhou porque o maglev não é ainda mais adotado. “O problema
principal é tecnológico. Os eletroímãs não funcionam bem quando aquecidos e,
como o trem é muito longo, ele acaba aquecendo os eletroímãs.”
Quem vive no
futuro?
O
coordenador do curso de engenharia mecânica aponta os japoneses como os mais
avançados nas pesquisas desta área na atualidade, embora a China seja o país
com a maior extensão de trilhos de alta velocidade no mundo. Tanto que é no
Japão onde os testes com maglev estão mais avançados, com projetos de adoção em
grande escala.
A vantagem
de apostar em um sistema ferroviário robusto e bem servido de trens de alta
velocidade, sejam eles maglev ou não, é principalmente a eficiência energética,
que chega a ser melhor até do que a do avião.
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