É cada vez
mais remota a possibilidade de o governo conseguir cumprir o cronograma e
realizar os leilões da ferrovia Norte-Sul e dos 12 aeroportos neste ano. Diante
das recomendações do Tribunal de Contas da União (TCU) para ajuste dos estudos
da Norte-Sul e da retirada de pauta no órgão da análise da documentação dos
aeroportos, a área técnica do governo trabalhava uma via alternativa: reduzir o
prazo originalmente fixado entre a publicação dos editais e os leilões.
O assunto
seria debatido em reunião do conselho do Programa de Parcerias de Investimentos
(PPI) marcada para ontem, mas a agenda foi cancelada e não tem mais data para
ocorrer. A sensação na área técnica é de desânimo e frustração.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
Como uma ala
majoritária do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil insiste que é
necessário cumprir o intervalo de cem dias – previsto em uma resolução do PPI
-, os leilões da Norte-Sul e dos aeroportos só devem ocorrer mesmo no próximo
ano.
A leitura de
quem acompanha de perto o programa de concessões é de que subsiste nessa tese
um fator político encabeçado pelo flanco ligado ao Partido da República (PR),
com influência sobre o ministério. O PR integra a coligação do candidato
Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República e teria interesse em ver os leilões
ocorrerem apenas em 2019, como forma de negociar sua permanência à frente do
Ministério dos Transportes no próximo governo.
A legenda
tem bom diálogo tanto com o entorno do candidato Jair Bolsonaro (PSL) como com
o PT, cujas candidaturas despontam como favoritas para o segundo turno das
eleições.
Num escalão
acima, o naufrágio da tentativa de encurtar o prazo entre o lançamento dos
editais e a realização dos leilões é considerado, nos bastidores, um ponto de
discordância entre os dois homens fortes do presidente Michel Temer que se
mantiveram de pé neste governo: o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o
titular do Ministério de Minas e Energia, Moreira Franco.
Fontes
próximas ao Planalto dizem haver divergências entre ambos sobre o tema.
Enquanto Padilha daria força para que o intervalo caísse, Moreira consideraria
os cem dias uma “conquista regulatória”.
A primeira
resolução baixada pelo PPI de fato fixou o intervalo entre edital e leilão em
ao menos cem dias. Mas, como a resolução não tem caráter vinculativo, a
intenção da área técnica era diminuir esse prazo, adaptando-o a cada caso para
que os leilões saíssem até dezembro.
Na prática,
isso já vinha acontecendo. Dos mais de cem projetos do PPI que já foram
leiloados, apenas cinco cumpriram os cem dias. Além disso, os projetos já estão
no radar do mercado há tempos, que se prepara para apresentar as propostas.
A ferrovia
Norte-Sul foi qualificada no PPI em 2016, com leilão previsto originalmente
para o segundo semestre de 2017. Desde então, grupos se mobilizaram e, hoje, em
que pesem as recomendações do TCU, o governo dá como certo o interesse privado
no empreendimento, considerado um dos mais estruturantes da carteira do PPI.
Além dos
russos da RZD, são considerados concorrentes naturais – e que estão estudando a
fundo o projeto – a VLI e a Rumo, ambas concessionárias das ferrovias que
acessam o miolo da Norte-Sul que vai a leilão.
Os
aeroportos, por sua vez, foram qualificados pelo PPI em outubro de 2017 já com
prazo inferior a cem dias entre o edital e a licitação. Até agora, ao menos 11
grupos manifestaram ao Planalto interesse em disputar os ativos. Há demanda
pelos três blocos (Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste).
Até para os
aeroportos do bloco do Centro-Oeste (Alta Floresta, Sinop, Várzea Grande e
Rondonópolis), considerado o menos atrativo dessa rodada, o governo recebeu
sinalização de que é segura a entrada de grandes operadores internacionais.
Entre os quais a suíça Zurich, a alemã Fraport e a francesa Vinci.
Paralelamente
à discussão para encurtar o prazo entre edital e leilão da ferrovia Norte-Sul e
dos aeroportos, emergiu em parte da área técnica do governo a possibilidade de
fazer o mesmo para os portos. Sobretudo em casos de terminais destinados à
armazenagem e movimentação de combustíveis localizados em regiões que dependem
dessas instalações para serem abastecidas.
Contribui
para isso outra situação que o governo quer acelerar: a solução para os
contratos portuários vencidos que se mantêm vigentes por meio de instrumentos
precários, como os chamados contratos de transição ou por meio de medidas
judiciais. Somado a isso, a maioria dos projetos de terminais para
arrendamentos listados no PPI é menos complexa do que, por exemplo, a concessão
de ferrovias, o que, em tese, facilitaria a empreitada.
Na prática,
contudo, a barreira para aplicar isso nos portos é ainda maior e tem natureza
jurídica. O intervalo de cem dias está fixado no “Decreto dos
Portos”, publicado em maio de 2017, e, para descumpri-lo, seria necessária
a edição de um novo decreto, o que, hoje, tem chance zero de ocorrer.
Leia também: TCU impõe multa de R$ 57 mi por superfaturamento na ferrovia Norte-Sul
Fonte: https://www.valor.com.br/brasil/5906381/leiloes-de-ferrovia-e-de-aeroportos-so-saem-em-2019
Seja o primeiro a comentar