Atualmente
com algumas unidades em processo de recall, os 15 novos trens que foram
entregues à Trensurb pelo Consórcio FrotaPoa (composto pelas empresas Alstom e
CAF), entre maio de 2014 e março de 2015, nunca chegaram a operar todos ao
mesmo tempo. Problemas técnicos vêm atrapalhando o funcionamento dessas
composições e, em 2016, foi decidido fazer um recall, após a constatação de
falha no sistema de estanqueidade (vedação) das caixas de rolamentos dos
rodeiros (rodas e eixos) de todos os trens.
Devido a esse
cenário, o procurador da República Celso Tres adianta que, até o final do ano,
pretende ajuizar na Justiça Federal uma ação civil pública para ressarcir os
prejuízos da companhia e usuários. A medida terá como alvos os ex-dirigentes da
Trensurb (Marco Arildo Prates da Cunha e Humberto Kasper) que adquiriram os
trens e o consórcio que forneceu os equipamentos. Tres reforça que a intenção é
que seja reparado o dano ocasionado pelos problemas verificados com esses
veículos. O preço total pago pela Trensurb pela aquisição foi de R$ 243,7
milhões, incluindo, além dos próprios trens, o fornecimento de projeto,
materiais e equipamentos especiais, mão de obra para montagem e testes,
treinamento e garantia.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
No momento,
conforme a empresa, nove trens que passaram pelo processo de recall foram
autorizados para operação e o décimo deve ser liberado nesta semana. Hoje, seis
desses trens estão disponíveis para circular, pois três dos trens liberados
encontram-se em manutenção preventiva devido ao fato de terem atingido a
quilometragem prevista para revisão.
Prevê-se que
esses três voltem a operar na segunda quinzena deste mês. Tres recorda que
quando os trens chegaram, já apresentando dificuldades e atraso para entrar em
operação, o Ministério Público Federal (MPF) em Novo Hamburgo instaurou
inquérito civil para investigar os motivos.
Após essa
iniciativas, foram feitas reuniões e recomendações por parte do MPF às empresas
que formam o consórcio para que fosse estabelecido um prazo de conserto desses
trens. “Eles apresentaram vários cronogramas que não foram cumpridos,
inclusive tem um prazo hoje em andamento que aponta que até o fim de 2018
estariam todos funcionando”, frisa Tres.
O procurador
cita o prejuízo ao consumidor, que ficou sem aproveitar os trens em melhores condições,
e da Trensurb, que teve um desembolso maior com energia com a utilização dos
veículos antigos, que apresentam uma demanda maior de eletricidade. De acordo
com informações do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes
Metroviários e Conexas do Rio Grande do Sul (Sindimetrô-RS), esse gasto extra
com energia chegou a aproximadamente R$ 10 milhões em 2017 e pode se repetir
neste ano.
“O
consórcio, na verdade, a Alstom e a CAF, para ser objetivo, eles não estão nem
aí, estão empurrando com a barriga, eles apostavam que ia ficar por isso
mesmo”, critica o procurador da República. Na ação que será movida, também
será citada a investigação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade) sobre a formação de um possível cartel na licitação que envolveu a
aquisição dos novos trens.
Sindimetrô-RS
teme pelo sucateamento dos equipamentos
Uma
preocupação do Sindimetrô-RS é que os novos trens que foram adquiridos para
melhorar o serviço para os usuários, acabem não atendendo a essa demanda.
“A Trensurb diz que a garantia está sendo estendida, mas a gente sabe como
funciona, vai chegar uma hora que a Alstom e a CAF vão querer sumir daqui e
vamos ficar com esses trens já sucateados”, adverte o presidente do
sindicato, Luis Henrique Chagas.
O dirigente
enfatiza que os veículos apresentam um problema sério e foram adquiridos por um
valor bastante elevado. “Até hoje, eles não conseguem fazer andar mais de
cinco ou seis trens, ao mesmo tempo, de 15 que foram comprados”, lamenta.
Chagas explica que o principal problema verificado pelos trens é a entrada de
água nos rolamentos das rodas, o que pode trancá-las, podendo causar um
acidente muito sério. Porém, Chagas diz que não é possível comprovar que esse
teria sido o motivo de um descarrilamento de um trem da Trensurb, ocorrido em
2015. O sindicalista comenta que, assim como essa dificuldade com os
rolamentos, os veículos começaram a apresentar defeitos menores como nas
portas, que por vezes não se abriam, ou na parte eletrônica.
Chagas
recorda que a frota dos veículos antigos, adquiridos em 1985, é constituída de
25 unidades. Além da qualidade das novas composições ser superior e ter um
consumo de eletricidade mais eficiente, esses trens também possuem sistema de
ar-condicionado, o que os antigos não têm. “Quem sofre com isso são os
usuários, que não podem contar com trens mais confortáveis, rápidos e
silenciosos”, salienta o dirigente.
O recall dos
veículos está sendo feito nas próprias oficinas da Trensurb. Em nota, a
companhia informa que a entrega dos trens série 200 conforme as especificações
contratuais e em condições de operação segue sendo de inteira responsabilidade
do Consórcio FrotaPoa. Segundo o comunicado da Trensurb, não cabe à empresa, no
presente momento, manifestação em relação ao cronograma de reparos proposto
pelo consórcio ou quanto às soluções oferecidas – exceto no que diz respeito à
utilização de vias e oficinas da empresa nas atividades de conserto, que não
deve gerar prejuízo às atividades de manutenção das composições em operação.
Ainda de
acordo com a nota, à Trensurb cabe, nessa situação, exigir o cumprimento das
obrigações contratuais do fornecedor – incluindo a entrega dos trens conforme
especificações e em perfeitas condições de operação -, aplicar as multas
previstas em contrato e cobrar os prejuízos inerentes ao não funcionamento
regular dos trens série 200 e à adequada prestação de serviços de transporte de
passageiros. O Consórcio FrotaPoa preferiu não se manifestar sobre o assunto e
a reportagem do Jornal do Comércio não conseguiu entrar em contato com os
ex-dirigentes da Trensurb Marco Arildo Prates da Cunha e Humberto Kasper. O
atual diretor-presidente da Trensurb, David Borille, optou por não conceder
entrevista.
Seja o primeiro a comentar