A população
do Distrito Federal tem utilizado cada vez mais o metrô. O turbulento cenário
econômico do Brasil, as sucessivas altas nos preços dos combustíveis e
recorrentes paralisações de funcionários do combalido sistema rodoviário, entre
outros fatores, segundo especialistas, explicam o aumento de 12,9% no número de
passageiros, desde 2015. Apesar disso, não houve, no período, melhorias capazes
de acompanhar a curva de crescimento da demanda.
Em média,
162,5 mil pessoas usam o transporte de trilhos na capital do país diariamente,
de acordo com dados da Companhia do Metropolitano (Metrô-DF). No dia de maior
movimento do ano, que aconteceu em setembro, o número atingiu 175,5 mil
usuários. Em 2015, 144 mil utilizavam esse meio para se locomover. Os
investimentos em manutenção também apresentaram incremento: cinco vezes em 2017
comparado às aplicações de 2013 a 2016. O aporte saltou de R$ 4,5 milhões
anuais para R$ 22,2 milhões. Entretanto, problemas como superlotação e falhas
estruturais ainda dão o tom das reclamações dos usuários.
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Nesta
reportagem da série DF na Real — na qual os candidatos ao Governo do DF expõem
propostas (confira no fim do texto) de solução para os problemas apontados
pelos brasilienses —, o Metrópoles aborda as adversidades enfrentadas por
passageiros do metrô.
“Quando a
escada rolante e o elevador não funcionam, tenho de descer com minha filha de 1
ano e o carrinho dela pelos degraus comuns. É um risco. Às vezes, aparece
alguém do metrô para me ajudar. Às vezes, não”, reclama a monitora Franciele
Camelo, 28 anos. Moradora da Ceilândia, ela usa o transporte de segunda a sexta
para ir e voltar da creche onde trabalha, em Águas Claras, cujo terminal só não
é mais movimentado que o Central, na Rodoviária do Plano Piloto. Percorre esse
trajeto sempre acompanhada da filha Isabella Carneiro, de apenas 1 ano.
Após superar
os desafios enfrentados logo na chegada da Estação Ceilândia, Franciele e o
bebê adentram na multidão de passageiros dentro do vagão. A superlotação faz
parte da rotina das duas. O incômodo ocorre principalmente quando não há alguém
que, caridosamente, cede assento à mulher. “Nunca nos machucamos por causa
disso. Mas já vi muita gente passando mal quando está muito cheio. Fica
abafado, quase insuportável”, lamentou.
Joseir
Rodrigues Bezerra, 49, engrossa o coro. “Há quem embarque na Estação Ceilândia,
vá até a próxima [Ceilândia Norte] e volte a essa para viajar sentado. Mas,
para isso, é preciso chegar muito mais cedo”, relatou. Ele trabalha em um
shopping ao lado da estação.
Além da
superlotação e do mau funcionamento de escadas rolantes e dos elevadores, os
passageiros se queixam de falhas no sistema de bilhetagem. Joseir é usuário do
Bilhete Único, cartão pelo qual pessoas podem utilizar ônibus e metrô,
integradamente. Ele conta que passou por constrangimentos devido a erros
ocorridos nas catracas de acesso. Além das situações embaraçosas, esses
imprevistos geram longas filas e, consequentemente, atrasos nos embarques.
“A gente
passa vergonha, tenta cinco, seis vezes, e o cartão não passa. Somos forçados a
comprar um bilhete ou outro cartão. Mas nem sempre temos dinheiro para
isso”, Joseir Bezerra, passageiro.
Aumento da
demanda
Especialista
em mobilidade urbana, Luis Roberto Paganini projeta um cenário ainda mais
desafiador para a população do DF que depende de metrô. Principalmente, se o
cenário socioeconômico não melhorar nos próximos anos.
“A população
tem crescido em ritmo acelerado. O aumento de 12,9% no número de passageiros do
metrô em três anos é elevado. E há um conjunto de fatores que não contribuem
para as pessoas utilizarem outros meios de locomoção, como bicicletas e ônibus,
por exemplo. O alto desemprego e o preço elevado do combustível atrapalha quem
quer ter carro. Isso preocupa”, explicou.
Sob promessa
de facilitar o transporte de Samambaia, terceira cidade mais populosa do DF, o
governo local lançou em setembro edital de licitação para expansão e
modernização do metrô na região administrativa. A medida deve possibilitar
acesso de 9,8 mil novos passageiros por dia na cidade onde vivem 252 mil
pessoas, de acordo com a última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios,
de 2015/2016, da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). Apesar disso, o
pesquisador avalia a ação como insuficiente.
“Há centenas
de milhares de pessoas na parte norte do DF que nem sequer têm acesso ao metrô.
Sobradinho, Planaltina e Asa Norte são exemplos. Essa população merece atenção
prioritária”, criticou. A diarista Janilda Oliveira, 46, vive no Paranoá e
reclama da falta de estação de metrô na cidade. “A maior parte dos meus
clientes vive na Asa Sul. Todos os dias, preciso sair de casa às 6h, no máximo,
para conseguir chegar lá por volta das 7h20. Se houvesse metrô, eu gastaria
muito menos tempo no trajeto”, lamentou.
Investimento
Para ter
sistema de transporte metroviário eficiente, moderno e livre de problemas, o DF
precisaria investir R$ 26 bilhões em melhorias e construções de ferrovias e
terminais. É o que mostra pesquisa da Confederação Nacional de Transporte (CNT)
divulgada em agosto. O investimento traria ampliação de 300km no sistema.
O outro lado
O Metrô-DF
informou que o sistema de bilhetagem envolve, além da companhia, a Secretaria
de Mobilidade (Semob-DF) e o DFTrans. “Como se trata de um novo sistema, alguns
ajustes vêm sendo realizados. A contratação de empresa para dar manutenção dos
validadores do sistema gerido pelo DFTrans tem previsão de conclusão para a
próxima semana”, acrescentou.
A companhia
disse também que a decisão do governo federal em liberar os recursos para
melhorias do Metrô-DF em Samambaia ocorreu em função da cidade possuir grande
expansão populacional em relação às demais regiões do DF.
O Metrô-DF
não comentou o problema de superlotação.
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