O general da
reserva Oswaldo Ferreira, 64, se define como um guerreiro de selva.
Um dos
coordenadores do plano de governo de Jair Bolsonaro (PSL), Ferreira fala do
presidenciável como se ele estivesse comandando uma tropa.
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No entanto,
rechaça qualquer autoritarismo do candidato. “Se ele for eleito, será um
governo estritamente legal.”
Ferreira
defende a disciplina —“uma coisa boa para a democracia”— e a hierarquia, regras
básicas nas Forças Armadas.
O general,
que chegou ao posto máximo da carreira como chefe do Departamento de Engenharia
e Construção, é cotado para ser ministro da área de infraestrutura.
Uma das
metas, segundo ele, será a retomada de obras paradas, principalmente a BR 163,
que ele construiu os primeiros 13 quilômetros há 37 anos.
O plano de
concessões deve prosseguir porque, segundo ele, “com R$ 30 bilhões [de
Orçamento para investimentos] por ano não vai dar”.
Apaixonado
pela Amazônia, Ferreira quer rapidez no licenciamento ambiental, mas defende a
floresta e o ambiente. “Há outras áreas do Brasil que podem nos proporcionar o
crescimento.”
O governo
Bolsonaro será autoritário?
Uma coisa
que eu posso deixar claro é que nós [militares] somos democratas. E disso não
abro mão.
O Exército é
uma instituição democrática. A nós é dada a faculdade de, pelo mérito, atingir
o mais alto posto da carreira.
Agora, temos
regras marcantes: além da disciplina, uma coisa boa para a democracia, existe a
hierarquia, que também faz muito bem. A tropa é uma representação da sociedade.
Bolsonaro é
um capitão, e o bom chefe, o bom líder é o que dá o exemplo, e ele é justo. É
assim que funcionamos.
Não quero um
chefe bonzinho, quero um chefe justo. Veja que já é assim nas empresas. Aquelas
que perduram mantêm a disciplina e a hierarquia.
Bonzinho a
gente sabe que Bolsonaro não é. Ele será justo? Fará algo que não seja
democrático?
Será um
governo estritamente legal.
Se existe
essa dúvida, não deveria. Não existe a hipótese de [Bolsonaro] querer coisas
que não estejam previstas na Constituição.
O país está
polarizado entre esquerda e direita. Bolsonaro vai conseguir apaziguar os
ânimos exaltados?
A democracia
pressupõe que as pessoas tenham suas convicções e que aceitem as regras do jogo
no ato da eleição.
O Rio Grande
do Sul já foi governado pela esquerda e pela direita. Nem por isso o estado
entrou em convulsão.
Bolsonaro,
vou falar palavras dele, disse que quer ser o presidente de todos os
brasileiros. Então, que reine a paz para que todos nós possamos remar o mesmo
barco para frente.
Teria sido
melhor vencer no primeiro turno?
Do ponto de
vista da transição, sim. Teríamos mais tempo. Mas não foi possível e temos de
trabalhar para poder cumprir a tarefa de conquistar mais votos.
Se ele for
eleito, garanto que vai ter muita gente sem Natal e Ano-Novo [risos].
Bolsonaro
propõe governar com 15 ministérios, juntar Agricultura e Meio Ambiente, e criar
uma pasta de infraestrutura. Não é muito conflito de interesse para
administrar?
A questão de
ter rapidez no licenciamento ambiental perpassa também os Transportes, Minas e
Energia, outros ramos que influenciam na infraestrutura.
Eu tenho
pena do ministro [risos]. Acho que tudo isso será revisto durante a transição.
O conflito
entre desenvolvimento e ambiente é histórico. Marina Silva já deixou o governo
Lula por embates nessa área. Qual o plano, afinal?
No Exército,
não fazemos nada sem estudos de viabilidade técnica, econômica, ambiental e
social. Nenhum tijolo pode ser colocado sem estudo. Não posso construir nada
sem uma licença ambiental.
O linhão de
energia de Roraima será feito, por exemplo?
Qualquer
contorno para não passar pela reserva [indígena] é enorme. Será viável? O que
aconteceria se passássemos [o linhão] por cima da BR 174? Não estudei ainda.
O que posso
dizer é que, há bem pouco tempo, eu era comandante militar do Norte e, em 2015,
os índios krikati, no Maranhão, derrubaram cinco torres de transmissão de
energia. Dialogamos e entramos em um acordo para reconstruir.
Que outras
obras sensíveis como essa estão no seu plano?
A
transposição do rio São Francisco, porque o Nordeste precisa de água. E minha
obra predileta, a BR 163. Eu fiz os primeiros 13 km de asfalto, em 1980.
Em 2017,
tive o prazer de acompanhar o ministro dos Transportes para fechar a cooperação
para construir os últimos 65 km. É uma obra que, como outras, quero ver pronta
porque interfere no custo Brasil.
A mobilidade
urbana também é importante. Cuiabá tem uma questão que veio da Copa [obras
paradas por irregularidades]. Em Fortaleza, tem o metrô. São mais de 2.000
obras paradas. Temos de acabar o que começamos.
Teve muita
gente com iniciativa [de começar obra] e nem tanta com acabativa [sic].
De maneira
geral, a prioridade será tudo o que afeta a população. Mas temos de olhar o
tabuleiro sem paixões, sem partidos, é uma coisa técnica.
Não há
dinheiro para tudo. O sr. sugere manter o plano de concessões de Michel Temer?
Não tem
outra solução para o que não for estratégico. Isso é uma posição do Bolsonaro e
do Paulo Guedes [principal assessor econômico do candidato]. Precisamos de
solução já para a infraestrutura e com R$ 30 bilhões de Orçamento por ano não
vai dar.
Em 2001,
viajei de carro de Brasília para Belo Horizonte. Era um jogo de videogame,
desviando de buraco. Hoje, tem zero buraco. A rodovia foi concedida à
iniciativa privada. E tem pedágio. Mas uma roda quebrada paga várias viagens.
Em Mato
Grosso, por exemplo, é preciso uma solução de rodovia para o escoamento da
safra. E, como ela vai dobrar, será preciso ferrovia, outros modos de
transporte.
Há vários
projetos, a Ferrogrão, a Fico, a Fiol, a Ferrovia Norte-Sul. O projeto da
Ferrogrão, por exemplo, cruza a floresta amazônica. Eu defendo o aumento da
produtividade [agrícola], mas sem precisar tocar na selva.
Então a
Ferrogrão está fora?
Precisamos
estudar. No momento, precisa de solução para a BR 163. Depois, ferrovia.
Existem
obras paralisadas em decorrência da Lava Jato. O que fazer com Angra 3 e o
Comperj, por exemplo?
O que posso
dizer é que, se for para encerrar Angra 3, teremos de pagar R$ 12 bilhões em
rescisões contratuais. Para concluir, serão R$ 17 bilhões.
No Comperj,
já foram investidos R$ 12,5 bilhões. Faltam R$ 8 bilhões. Essa é a matemática
que precisa ser colocada.
O que pode
ser privatizado?
Considero
que o refino e a distribuição de petróleo possam ficar com a iniciativa
privada. O caso da Eletrobras precisa ser conversado.
Oswaldo
Ferreira, 64
General da
reserva do Exército. É engenheiro pela Academia Militar das Agulhas Negras,
escola de ensino superior do Exército. Foi comandante do Comando Militar do
Norte, de fevereiro de 2013 a dezembro de 2015. Chefiou o Departamento de
Engenharia e Construção, entre 2013 e abril de 2017.
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