Investir em infraestruturas de transporte público tem a vantagem de atacar problemas de mobilidade das metrópoles, mas o retorno das novas estruturas pode ir além. Cada vez mais comuns, projetos que levam em conta a integração com o entorno promovem melhorias na qualidade de vida de quem mora próximo a estações ou trilhos.
Esse cuidado resulta na construção de calçadões que facilitam caminhadas e corridas, canteiros que embelezam a paisagem ou ciclovias que dão segurança aos passeios em duas rodas. Os trilhos que levam passageiros para destinos distantes vêm acompanhados por opções de lazer e transporte entre pontos mais próximos. “Os projetos de VLT, de metrô, mesmo de trens urbanos, a gente entende que são muito mais do que de estrutura, são de urbanização. A conexão da infraestrutura com a urbanização é um pilar de sustentação desses projetos”, analisa João Gouveia Ferrão Neto, vice-presidente executivo da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos).
O cuidado com o entorno ajuda a resolver um problema histórico da instalação de infraestrutura. A construção de uma via ou de trilhos para facilitar o transporte muitas vezes vem acompanhada da degradação da área, que se torna inóspita para circulação de pessoas. “As infraestruturas de transporte tendem a criar grandes cisões. Quanto mais pesada for essa estrutura, maior essa cisão. Por vezes você separa dois bairros que estavam conectados a partir da instalação dessa infraestrutura. Hoje, porém, existe um olhar cada vez mais atento a essa questão, levando em conta de que forma se pode garantir a coesão do tecido urbano”, destaca Marcela Ferreira, coordenadora de projetos do Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole (Urbem).
Ferrão Neto cita, como bom exemplo de integração com o entorno, o projeto de revitalização da área portuária por onde passa o VLT do Rio de Janeiro. O local tornou-se agradável para caminhar, com o calçadão ornado por canteiros que se juntam ao belo cenário das águas da Baía de Guanabara. “Onde você implementa esse tipo de projeto, tem total revitalização de áreas degradadas, do entorno, paisagismo. Há uma valorização da parte imobiliária. Produz um clima muito harmonioso com as pessoas”, elogia o executivo.
São vantagens que se esperam em mais dois empreendimentos projetados já com a ideia de integração com o que está à volta. Em São Paulo, os monotrilhos das linhas 15-Prata e 17-Ouro serão acompanhados de uma série de estruturas para minimizar a “cisão” a que Ferreira se refere. Projetos de revitalização, paisagismo e integração com os bairros por meio de pistas de corrida e ciclovia devem dar nova funcionalidade aos trechos onde os trilhos passarão.
Preocupar-se com as pessoas vai além de fazê-las chegar rapidamente do ponto A ao B. Com estruturas de transporte eficientes, modernas e integradas à cidade, a melhoria da mobilidade de grandes centros pode vir acompanhada de novas opções de lazer e da entrega de espaços públicos para uma metrópole mais inclusiva e com mais qualidade de vida.
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