Pela promessa do Governo do Estado de São Paulo, as composições da série 2100, chamados de “trens espanhóis”, deixam o sistema da CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitano nesta quarta-feira, 10 de julho de 2019.
Os trens circulam na linha 10 Turquesa (Brás-Rio Grande da Serra), foram adquiridos pela CPTM entre 1996 e 1997, mas a fabricação é a partir de 1974 pelo Consórcio Westinghouse CAF e SA Espanha (WESA), numa concorrência aberta pela operadora espanhola Renfe – Red Nacional de los Ferrocarriles Españoles.
A substituição dos trens da série 2100 por modelos mais novos, porém não 0 km, como os da Série 7000 (fabricados pela CAF em 2009) e Série 7500 (CAF – 2011), faz parte de um pacote de melhorias para a mobilidade da região do ABC anunciado no dia 3 de julho de 2019, pelo governador, João Doria, e pelo secretário de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy. Fazem parte também deste anúncio de melhorias a substituição do projeto de monotrilho (trens leves com pneus que circulam em elevados de concreto) por BRT (sistema de ônibus rápidos em corredores com pontos de ultrapassagem e estações em vez de pontos); a construção da estação Pirelli na linha 10 Turquesa (entre as estações Santo André – Prefeito Celso Daniel e Capuava); conclusão ainda neste ano das obras de acessibilidade das estações Guapituba, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra e a autorização da contratação do projeto da linha 20-Rosa de metrô (trecho entre São Bernardo do Campo – Rudge Ramos e São Paulo – Lapa).
Os trens “espanhóis” são considerados a primeira grande aquisição da CPTM e marcos da evolução do sistema de trilhos metropolitanos. A CPTM teve a criação autorizada pela Lei nº 7.861, de 28 de maio de 1992, para assumir os sistemas de trens da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) em substituição à CBTU – Companhia Brasileira de Trens Urbanos (Superintendência de Trens Urbanos de São Paulo STU/SP) e à FEPASA – Ferrovia Paulista S/A.
A CPTM foi assumindo de forma gradual: em abril de 1994, a companhia passou a operar definitivamente os trajetos das atuais linhas 7 Rubi (Luz – Francisco Morato – Jundiaí), 10 Turquesa (Brás – Rio Grande da Serra), 11 Coral (Luz – Estudantes) e 12 Safira (Brás – Calmon Viana). Essas linhas eram da CBTU. Já em 1996, a CPTM assume os serviços que eram da Fepasa, que correspondem aos trajetos das atuais linhas 8 Diamante (Júlio Prestes – Amador Bueno) e 9 Esmeralda (Osasco – Grajaú).
Vale lembrar que as atuais denominações das linhas são de março de 2008. Até então, as linhas férreas metropolitanas eram chamadas por letras e cores diferentes:
Linha A – Marrom (Luz/Francisco Morato/Jundiaí) – hoje linha 7-Rubi (Luz – Francisco Morato – Jundiaí)
Linha B – Cinza (Júlio Prestes/Itapevi) – hoje linha 8-Diamante (Júlio Prestes – Amador Bueno)
Linha C – Celeste (Osasco/Jurubatuba/Varginha) – hoje linha 9 Esmeralda (Osasco – Grajaú)
Linha D – Bege (Luz/Rio Grande da Serra/Paranapiacaba) – hoje 10 Turquesa (Brás – Rio Grande da Serra)
Linha E – Laranja (Brás/Guaianases/Estudantes) – hoje 11 Coral (Luz – Estudantes)
Linha F – Violeta (Brás/Calmon Viana) – hoje 12 Safira (Brás – Calmon Viana).
A mudança de nomes, na justificativa da época do Governo do Estado de São Paulo era para facilitar a comunicação com o passageiro e a integração com a rede de metrô, que já adotava o padrão de nomenclatura com números e cores.
Apesar de ainda necessitar de muitas melhorias e não atender plenamente às necessidades dos passageiros, a rede de trilhos metropolitanos teve um inegável ganho de qualidade com a CPTM. Até os anos da década de 1990, eram comuns cenas como pessoas andando como pingentes nos trens, composições antigas sem ar-condicionado e pouca segurança.
A chegada dos “trens espanhóis” entre 1997 e 1998 foi um dos sinais desta mudança de conceito proposta pela criação da CPTM, apesar de que, quando foram comprados, já tinham quase 25 anos de circulação.
As composições da série 2100 foram consideradas uma das mais confortáveis para o passageiro da CPTM. Um dos motivos, talvez, é que estes trens não foram fabricados para fazer linhas metropolitanas comuns, mas para serviços “intercidades”, a partir de Barcelona e Madrid. Além do amplo salão de passageiros, por causa de duas portas em cada carro (vagão), o que proporcionava um maior número de pessoas sentadas, o “andar” destes trens era macio, um convite para um cochilo para quem conseguisse viajar sentado. No entanto, este “ritmo” do “trem espanhol” foi considerado não muito condizente com as necessidades de operações metropolitanas, isso porque, seu sair da estação era lento, ganhando velocidade somente depois de algum tempo. Mas como as estações metropolitanas são relativamente próximas, inicialmente esta característica influenciava na velocidade comercial final. Houve ajustes tecnológicos que não deixaram o desempenho ideal, mas melhoraram este fator.
Outro detalhe destes trens é que, pelas características das composições não completamente compatíveis com a das vias, havia superaquecimento e foram relatados casos de incêndio em algumas composições.
Os trens da linha 10-Turquesa estão entre os lotes mais antigos de produção.
Entre 1996 e 1997, o governo espanhol disponibilizou 68 unidades com três carros (vagões) dos primeiros lotes ao mercado para modernização destes trens a fim de ser usados em outros sistemas.
A partir desta data, o Brasil, pela CPTM, adquiriu 48 unidades, e o Chile ficou com 20 composições.
Em São Paulo, os “trens espanhóis” que receberam a nomenclatura Série 2100 começaram na linha 11-Coral, onde foi alvo de vandalismos, o que obrigou a retirada das composições.
Foram assim transferidos para as então linhas A (no trecho Brás- Francisco Morato), C (Osasco -Jurubatuba) e D (Luz -Rio Grande da Serra).
As operações se mostraram mais adequadas na linha D, hoje linha 10-Turquesa, onde rodaram até julho de 2019.
Tudo precisa evoluir, mas não há como negar: este “senhor” de 45 anos de vida e 21 anos de CPTM já entrou para a história, não apenas da ferrovia, mas na vida de muita gente. No tempo que ficou em São Paulo, quantas gestantes que o usavam desde o início das operações veem hoje suas filhas e seus filhos formados. Quantos namoros que começaram, muitas vezes com respeitosas trocas de olhares nos trens, hoje completaram bodas de porcelana (20 anos) e caminham para as bodas de prata (25 anos), quantos estudantes do primeiro ano do primeiro grau que iam para a escola com ele se tornaram grande profissionais graduados e até pós-doutorado, mestrado e pós-doutorado.
Histórias alegres e tristes circularam no espanhol que agora deixa a rota entre o ABC Paulista e a Capital e seguem o caminho da memória.
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