Para o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, a questão ambiental tem de ser tratada no País de forma mais “desapaixonada”. Segundo ele, o Brasil está ficando “muito chato”.
“Estamos perdendo a alegria, a brincadeira. Estamos importando a toda hora soluções que nos são impostas”, disse. “O discurso tem de ser mais brasileiro. Falta um pouco de brasilidade às pessoas. Encampamos o discurso que vem de fora”, afirmou o ministro, em jantar na noite de terça-feira, 6, em Brasília.
Segundo ele, a postura adotada pela administração Bolsonaro e pelo próprio presidente da República ao tratar do tema se justifica diante do comportamento “hipócrita de uma série de países no exterior”.
“Nesse momento, é um caminho de denúncia. É quase um desabafo. Estamos sendo asfixiados”, argumentou. “Esse negócio de ‘farms here, forests there’ (fazendas aqui e florestas lá, em português) não é lenda, ele existe. Temos capacidade de expansão de terras agricultáveis que lá fora eles não têm. Vivemos um ambiente de guerra comercial”, afirmou.
Segundo ele, enquanto o Brasil produz em 26% do território, outros países chegam a consumir de 70% a 80% de suas áreas. “Nossa matriz é limpa. O que fico chateado é que temos de passar coisas positivas. O agronegócio tem condição de se expandir no Mato Grosso sem derrubar uma árvore”, disse Freitas, durante encontro promovido pelo jornal digital Poder 360, que teve participação de empresários e de jornalistas e para o qual o Estado foi convidado.
Para o ministro, Bolsonaro tem o mérito de colocar em discussão assuntos que “estão adormecidos e ninguém tem coragem de enfrentar”, como o questionamento aos dados de desmatamento e a questão das reservas indígenas.
“Bem ou mal, ele promove o debate. No estilo dele, diz que é algo importante e se posiciona de maneira firme, que não é diferente da forma como ele se posicionou na campanha”, disse ele.
Na avaliação do ministro, é preciso cautela no momento de divulgar dados sobre desmatamento. “Observe: o que é alerta de desmatamento? É qualquer coisa. Se você tem desmatamento permitido pelo Código Florestal, ele vai aparecer como estatística no alerta. Pode ser supressão vegetal numa área permitida”, disse.
Ele afirmou que se sente “angustiado” com o fato de o País desperdiçar oportunidades econômicas, condenando parcelas de sua sociedade ao subdesenvolvimento. E defendeu, por exemplo, a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas.
“Tudo aqui é uma confusão, gera uma controvérsia danada, é grave. Não podemos explorar de jeito nenhum petróleo na foz do Amazonas. Por quê? A discussão tem de ser mais técnica e racional. Ah, tem corais lá? Tem. Na Guiana também tem, no Golfo do México também, e isso não está impedido a exploração”, disse.
Segundo ele, é possível fazer infraestrutura e preservar o meio ambiente ao mesmo tempo. “Estamos sentados numa riqueza imensa, bacias sedimentares que muitas não têm um poço sequer, esperando o valor no tempo acabar. A idade da pedra não acabou por falta de pedra e a idade do óleo não vai acabar por falta de óleo. Não vamos explorar? Mas está todo mundo explorando”, afirmou.
“Um poço em produção gera tributo e royalties. Vamos condenar o Estado do Amapá ao subdesenvolvimento? Isso é um contrato com o fracasso. Se for para fazer voto de pobreza, melhor fazer de castidade e de obediência também, porque aí pelo menos a gente salva a nossa alma”, completou.
Freitas disse que é preciso questionar também se o debate em torno do uso de terras indígenas não está contaminado por “hipocrisia”. Ele diz que, em sua pasta, nas interações feitas com índios, eles se mostram prontos a debater a questão.
“O que o índio quer? A mesma coisa que você quer, que eu quero, que ele quer. A maioria dos índios está incorporada à sociedade. O índio quer crescer, enriquecer, ser cidadão, ter um espaço para exercitar sua cultura, ele quer dançar, se pintar, professar sua fé. E por que ele não pode produzir na terra dele? O que queremos com ele? É contemplar como ele vivia séculos atrás? Será que ele não tem direito também a ficar rico? Outros países equacionaram essa questão. Por que não temos índios ricos, com sua caminhonete, mandando filho estudar no exterior? Qual o problema disso?”, questionou.
O ministro reconheceu, contudo, que o governo tem “um dever de casa a fazer”, como esclarecer os dados.
Reportagem do Estado mostrou nesta quarta que o discurso adotado por Bolsonaro e sua equipe, de minimizar dados sobre aumento de desmatamento flexibilizar regras sobre áreas de preservação e os frequentes embates com outros países relacionados ao tema ambiental vem causando apreensão e têm sido classificados como prejudiciais pelo agronegócio.
A repercussão negativa no exterior, aliada a pressões do setor, levou a Secretaria de Comunicação e o Itamaraty a prepararem uma campanha no exterior para tentar rebater narrativas que, na visão de integrantes do governo, podem afetar o País comercialmente. O agronegócio aponta risco de impacto negativo em acordos comerciais e, por tabela, na arrecadação com exportações.
O alerta foi levado ao Palácio do Planalto pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que chegou ao cargo por indicação da Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), a chamada bancada ruralista no Congresso. Ela defende uma campanha sobre o assunto para mostrar que o Brasil é uma “potência agrícola séria”.
O foco da campanha internacional será em países europeus como Alemanha, França e Reino Unido. A ideia é lançar vídeos em setembro, período que coincide com a participação de Bolsonaro na 72.º Sessão da Assembleia Geral da ONU, em Nova York (EUA). A campanha deve ir até dezembro.
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