O ministro da infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas foi o convidado do Conversa com Bial desta segunda-feira, 21/10. Engenheiro formado pelo IME, conceituada escola militar, ele tem escapado dos recentes ataques políticos, ganhando elogios de colegas da situação e também da oposição. Freitas contou um pouco sobre os seus planos para o ministério e da relação com o presidente Jair Messias Bolsonaro.
Na conversa, Pedro Bial falou sobre a admiração do ministro pelo Imperador Dom Pedro II e do Barão de Mauá, e questionou como ele poderia explicar, já que os dois, segundo o jornalista, se odiavam. O engenheiro respondeu dizendo que a relação era interessante, pois os dois foram protagonistas de momentos históricos, e complementou:
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Eu tenho uma tese que não dá para comprovar. É impossível comprovar, mas na minha opinião, se não houvesse aquela Proclamação da República naquele momento, o Brasil estaria em outro patamar porque o Império pensou o Brasil, anos na frente.
Ele ainda contou que obras feitas na atualidade já tinham sido cogitadas desde o período imperial.
Estamos fazendo hoje a transposição do São Francisco. A transposição do São Francisco foi pensada no segundo reinado, foi pensada na gestão de Pedro II e inclusive, o traçado que foi imaginado naquela época é parecidíssimo, quase que coincidente com o traçado de hoje.
A gente leiloou a Ferrovia Norte-Sul. Projeto iniciado no governo Sarney e que a gente teve agora o privilégio de concluir. O projeto da Ferrovia Norte-Sul foi pensado também no período de Pedro II, e o maior boom ferroviário que a gente teve na nossa história foi de 1854 a 1913. Os investimentos eram todos privados, mas a gente criou as condições para que o privado investisse e eram todos autorizados, que é o que a gente quer resgatar hoje – a autorização.
Questionado por Bial, ele contou que dorme apenas entre 3 a 4 horas por noite e lembrou da infância, quando tinha o sonho de ser caminhoneiro e era fã de Carga Pesada, série estrelada por Antonio Fagundes e Stênio Garcia e exibida em sua primeira versão entre 1979 e 1981.
Eu tive vários sonhos na infância. Sempre quis ser caminhoneiro. Quando eu via lá o Pedro e o Bino eu dizia: ‘Pai, quero ser caminhoneiro. Quero ter uma carreta dessa. Pai quando você viajar, tenta conseguir uma carreta dessa pra mim!’.
Bia comentou que o desejo da infância era uma grande ironia do destino, já que hoje o ministro é quem negocia com a categoria dos caminhoneiros. O apresentador lembrou das manifestações que pararam o Brasil e afetaram o PIB do país. O ministro explicou sua posição mediante o tabelamento dos fretes e garantiu que ele não irá durar por muito tempo.
Olha, eu acho que talvez a categoria esteja percebendo isso aos poucos. Na minha opinião, a tabela prejudicou o próprio caminhoneiro. Afastou o trabalho do caminhoneiro. Vários embarcadores deixaram de contratar o caminhoneiro por medo da insegurança jurídica e com isso, os frotistas, as empresas de transporte, ganharam espaço.
Entendo que o mercado tem que definir o preço, mas naquele momento e talvez ainda nesse momento, a tabela era e ainda é necessária porque o que acontece: há um desequilíbrio entre oferta e demanda. Tem um excesso de oferta de caminhões.
Eu acho, mas a gente está segurando para esperar a economia reagir porque quando a economia começa a decolar, começa a crescer, a demanda começa a voltar também e aí as coisas vão se equilibrando, falou sobre o fim da tabela do frete.
Sobre as metas para seu trabalho, Tarcísio contou sobre um projeto que considera ambicioso: a construção da Ferrogrão. Uma ferrovia que deve ligar o norte do Mato Grosso aos portos do Pará.
Quando a gente pensa em arco norte, o arco norte é hoje a melhor porta de saída para o mercado consumidor asiático e europeu. O potencial de redução de custos é enorme.
Quando a gente faz uma ferrovia como a Ferrogrão, a gente vai criar uma competição com todo o sistema que leva para Santos, que leva para Paranaguá. E quando eu crio competição, quando dou oferta de transportes, faço choque de oferta, eu reduzo muito o frete, então eu jogo o custo Brasil lá para baixo.
O ministro também deu sua nota para a infraestrutura de transportes no Brasil em comparativo ao dos países escandinavos.
Talvez nota 5, nota 4. É um desafio ousado, difícil, mas possível.
Bolsonaro
Ele trata comigo questões de infraestrutura. O problema é que ele não tem horário. Ele manda mensagem às 4h30 da manhã. O Presidente não dorme.
O convite para ser ministro
Quando ele (Bolsonaro) me sabatinou, primeiro ele chegou para mim: ‘E aí Capita, que encrenca, hein? Não queria isso para mim não, mas vamos lá! Eu tenho essas ponderações e vê o que você pensa sobre isso’. Eu falei: ‘Eu penso isso, isso e isso’. Ele: ‘Está bom. Não vou tomar nenhuma decisão agora. Semana que vem volto a falar contigo!’.
Eu fui corajoso nessa hora. Sou meio tímido, mas nessa hora fui meio ousado. Falei: ‘Presidente, vou te explicar porque eu tenho que ser o presidente da infraestrutura’. Levantei quatro pontos a ele. Quando chegou a tarde, toca o telefone e me pedem para ir para lá. Chegando lá, ele já começa a me dar orientações. Quando ele terminou de dar as instruções ele virou para mim e falou assim: ‘Capita, posso twittar?’. Eu falei: ‘Pode!’.
Segurança no trânsito
Bial lembrou das polêmicas geradas após o governo falar sobre a diminuição do número de radares, mudanças para adquirir a carteira de motorista e das cadeirinhas não obrigatórias para bebês. O ministro lembrou que tem uma história pessoal envolvida. Seu pai morreu, aos 79 anos, vítima de um atropelamento.
A desburocratização de forma alguma vai significar a precarização da formação do condutor.
Tem uma coisa muito positiva nisso tudo: está se discutindo trânsito, que é uma coisa que há muito tempo não se discutia.
A pergunta é: ‘Você precisa ser multado para usar a cadeirinha?’. É uma questão de perguntar para a sociedade: ‘Sociedade, nós estamos maduros para fazer o que é certo sem precisar da multa?’.
Bial questionou que o objeto pode fazer a diferença no orçamento de alguns brasileiros e que com isso, poderiam surgir gambiarras. O ministro respondeu:
Eu acho que os pais já perceberam os riscos do trânsito. Ninguém vai fazer gambiarra com a saúde do filho. Essa é uma percepção que eu tenho porque o risco de um acidente hoje é muito evidente, muito claro.
Futuro na política
Sobre seu futuro na política, o ministro da infraestrutura disse que não traça muitos planos.
Não traço. Eu cheguei em um lugar que nunca imaginei que ia estar e isso só foi possível porque Bolsonaro chegou ao poder, e ele resolveu romper com todos os paradigmas. porque se fosse outro cara, teriam indicado de algum partido político e não seria eu. Não teria o meu perfil.
Ele finalizou o bate-papo afirmando que chegar à presidência nunca fez parte de seus sonhos.
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