Para além dos riscos ambientais, a Ferrogrão traz questionamentos quanto à viabilidade econômico-financeira do projeto, segundo Claudio Frischtak, sócio da consultoria Inter.B, que fez um estudo recente sobre o tema, com apoio da Climate Policy Initiative/PUC-Rio.
O especialista em infraestrutura questiona os estudos do empreendimento, que, segundo ele, não avaliam de forma adequada a concorrência de outros projetos logísticos, como a implantação da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), a conclusão do tramo central da Norte-Sul, assim como a modernização da BR-163, cuja pavimentação foi concluída pelo atual governo.
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Além disso, não foi considerada a reação dos demais operadores diante da construção. Foi feita a modelagem considerando que os agentes vão ficar parados, diz.
O Ministério da Infraestrutura, porém, refuta essa visão e afirma que os estudos já consideram a pavimentação da BR-163. Em um cenário para 2035, também foi levada em conta a construção da Fico entre Lucas do Rio Verde (MT) e Campinorte (GO), além da ampliação da Norte-Sul entre Açailândia (MA) e Barcarena (PA). Para 2045, projetou-se também a ampliação da Fico até Porto Velho (RO), diz a pasta.
O ministério também nega que não tenham sido traçadas possíveis reações de outros agentes do mercado. Foram analisados os principais produtos movimentados na Rumo Malha Norte, que é a única ferrovia que passa pelo Estado do Mato Grosso, sendo uma concorrente da Ferrogrão. A pasta diz ainda que foram avaliadas diversas alternativas logísticas utilizando hidrovias, rodovias e ferrovias, assim como os custos de transbordo entre modos.
Os questionamentos de Frischtak também foram manifestados por investidores em potencial, que se reuniram com o governo no início de agosto para discutir a Ferrogrão. Entre os grupos ouvidos estiveram o Pátria Investimentos, a CCR, a espanhola Sacyr, a China Communications Construction Company (CCCC), a China Railway Group, entre outros.
Uma das grandes preocupações em relação ao projeto, além do tema ambiental, é justamente o risco de demanda. Nas reuniões, os grupos pediram uma avaliação sobre a entrada em operação de outras ferrovias no Estado e apresentaram dúvidas sobre como outros agentes do mercado atuariam a partir da construção da ferrovia.
Para Frischtak, é importante haver uma avaliação minuciosa desses riscos não só para atrair um parceiro privado, mas pelo peso que o poder público deverá ter em um megaprojeto como esse, que provavelmente contará com financiamento público e compartilhamento de riscos. Não queremos repetir o caso da Transnordestina e o de outros projetos de infraestrutura que hoje estão parados, diz.
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