O Ministério da Economia e a Casa Civil da Presidência da República preparam uma consulta formal ao Tribunal de Contas da União (TCU) que tem chances de servir como aval para o aumento de investimentos em obras públicas neste ano, mas sem ferir o teto de gastos. A saída que está sendo costurada entre os técnicos pode atender às pressões dentro do governo por mais investimento público, sem necessariamente ferir a regra que limita as despesas da União.
Apesar de não burlar o teto de gastos, a consulta que deve ser levada ao TCU representaria uma folga de cerca R$ 10 bilhões que poderia ser usada para investimentos, a depender do entendimento do corte de contas, segundo fontes que participam das discussões.
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Nas últimas semanas, tem aumentado a pressão de uma ala do governo por mais despesas com obras públicas como forma de aquecer a economia e pavimentar o caminho para a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro em 2022.
No fim de julho, outra consulta ao TCU chegou a ser aprovada pela Casa Civil com o objetivo de driblar o teto de gastos e liberar cerca de R$ 35 bilhões em obras, mas o plano foi abortado.
Dentro do governo, os pedidos por aumento de gastos partem de ministros como Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura). Essa situação ficou clara ontem, quando o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, disse ao GLOBO que o ministro da Economia, Paulo Guedes, terá que dar um jeito de arrumar mais um dinheirinho para infraestrutura.
A origem da ‘folga’ O debate que deve ser levado ao TCU é técnico. Começa pela abertura de créditos extraordinários para combater a Covid-19, em março, antes da aprovação do chamado Orçamento de Guerra.
Esses créditos foram abertos pelo governo a partir do cancelamento de outras despesas do Orçamento. Ocorre que créditos extraordinários, por sua natureza de imprevisibilidade, são feitos fora do teto de gastos.
Com o cancelamento de despesas sujeitas ao teto para a abertura de créditos fora do teto sobrou uma folga orçamentária. É essa folga que agora pode ser usada pelo Ministério da Economia.
Como esse dinheiro vai ser utilizado, no entanto, vai depender do entendimento do TCU. O tamanho exato do espaço ainda vai ser calculado. Isto porque despesas como o seguro-desemprego cresceram mais que o previsto neste ano.
O governo deve fazer três perguntas ao TCU. A primeira delas é se de fato há folga no teto de gastos com a movimentação orçamentária feita em março. Se sim, quais são os critérios e requisitos legais e necessários para permitir a utilização desse espaço. A segunda questão é se a eventual alta de despesas obrigatórias poderia ser incluída no Orçamento mediante aproveitamento do espaço no teto.
A última pergunta se refere a uma resistência da área técnica do TCU, que vê com ressalvas essa medida. Técnicos do TCU sugeriram que esse espaço no teto fosse usado para despesas direta ou indiretamente relacionadas à pandemia. O problema é que os técnicos do TCU não disseram como identificar com segurança as despesas que podem ser relacionadas, direta ou indiretamente, ao combate ao coronavírus.
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