Há uma grande expectativa no meio empresarial de que, passada a fase mais crítica da pandemia, o Brasil volte a se concentrar nas ações voltadas ao desenvolvimento econômico e social. Para o, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Dan Ioschpe, trata-se de uma agenda muito desafiadora e recheada; muito horizontal e pouco setorial. O encaminhamento das reformas administrativa e tributária pode ser o primeiro passo de um percurso que precisa abranger também parcerias público-privadas para investimento em infraestrutura e a requalificação profissional para substituir ocupações que deixam de existir com o avanço da tecnologia.
A pandemia vai ficar cada vez mais um assunto do armário, que a gente já pode começar a ir guardando lentamente para voltar à agenda original, afirma o empresário que tem se destacado como uma das lideranças industriais mais engajadas no plano de inserir o Brasil na concorrência global. Sua trajetória segue esse sentido desde que a família abriu, no início do século XX, no Rio Grande do Sul, a serraria que ao longo dos anos transformou-se numa multinacional brasileira – a Iochpe-Maxion, hoje a maior produtora de rodas do mundo.
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Ioschpe é presidente do conselho da Iochpe-Maxion e, além do Iedi, está no comando do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). Ontem ele foi o entrevistado da Live do Valor.
Na entrevista, o dirigente destacou a necessidade de o Brasil manter o equilíbrio da trajetória macroeconômica, já que custa caro perder isso. Se perdemos a condição de sustentar taxas de juros declinantes, com inflação controlada e câmbio menos volátil, obviamente vamos pagar a conta do ponto de vista do desenvolvimento econômico e social.
Além disso, ele disse que o país precisa de tranquilidade institucional. Precisamos aprimorar nossos instrumentos democráticos e institucionais cada vez mais. A terceira condição para o país retomar a agenda do desenvolvimento, destacou, diz respeito às questões de sustentabilidade social e ambiental. Para ele, no âmbito social, há um legado pesado a ser resolvido. Já do ponto de vista ambiental, estamos andando um pouco para trás.
O dirigente citou como exemplo o acordo entre Mercosul e União Europeia. Para ele, a questão ambiental é, sim, um risco e o Brasil enfrentará custo caro se não participar dessa agenda, principalmente por ser um grande fornecedor de produtos primários.
Com essas pré-condições, é preciso avançar de forma horizontal em uma agenda já conhecida, prosseguiu, citando a reforma administrativa – e sua relação com a eficiência do Estado – e a reforma tributária, que permitiria maior eficiência para lidar com impostos, redução da insegurança jurídica e retirada de desincentivos econômicos.
Ioschpe defende que a reorganização da tributação comece pelos impostos sobre o consumo. Num primeiro momento, temos que colocar uma lupa nos impostos sobre bens e serviços para chegarmos mais próximos de países que usam, por exemplo, o IVA [Imposto sobre Valor Agregado], destacou. Seria uma mudança no jogo avançar agora com a reforma tributária; é disso que o país precisa.
Ioschpe mencionou, ainda, a necessidade de avanços na legislação trabalhista, em infraestrutura, e no incentivo à pesquisa e inovação, que podem ajudar o Brasil a ingressar no mundo, seja através de tratados, seja por políticas bem desenhadas, horizontais, transparentes e graduais. No caso do trabalho, ele citou a necessidade de treinamento e requalificação profissional para substituir ocupações que deixam de existir por causa do avanço tecnológico.
Em relação à influência da oscilação do câmbio nas decisões da indústria, Ioschpe considerou errada qualquer estratégia baseada no câmbio e que não leve em conta questões ligadas à competitividade. Se o país for dar certo, é bem provável que ao longo do tempo a moeda se desvalorize menos do que o que vimos recentemente.
Para Ioschpe, o Brasil tem perdido muito tempo com idas e vindas e múltiplas agendas que às vezes destroem umas às outras. Potencial para traçar um caminho mais construtivo é o que não falta. Mas não basta. Potencial é uma coisa muito boa quando se olha de baixo para cima. Mas quando se tem 55, quase 56 anos, como eu, a gente começa a ficar preocupado ao ver que o tempo passa e só temos o potencial.
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