Prevista pelo Fórum Econômico Mundial 2020 para acontecer nos próximos cinco anos, a primeira revolução digital do Século XXI aconteceu em apenas três meses.
Usufruindo das barreiras burocráticas dissolvidas pela Covid-19, enclausurou usuários digitais, paralisou rodo-ferro e aerovias, forçou, compeliu e mudou a forma de viver e de trabalhar, revelando o poder, a eficiência e a comodidade descarbonizada do trabalho remoto, exigindo adaptação de todos os setores da economia, inclusive logísticas intermodais. O coronavírus parece ter colocado um ponto final no analógico Século XX.
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Durante o isolamento da pandemia, com obras paralisadas há mais de três anos, a Ferrovia de Integração Oeste-Leste – Fiol ganhou novo fôlego em função de rápidas articulações remotas que acompanhamos, organizadas entre os Ministérios de Infraestrutura e Minas e Energia, o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) e as Federações da Indústria (FIEB), do Comércio (Fecomércio) e da Agricultura (FAEB) da Bahia.
Com 1.527 km de extensão, a Fiol ligará o novo Porto Sul, em Ilhéus, a ser construído no litoral Atlântico da Amazônia Azul, a Figueirópolis (Tocantins), onde conecta-se com a Ferrovia Norte Sul.
Esperando há muito tempo pela chegada da Fiol, o município de São Desidério, no Oeste da Bahia, com 33 mil habitantes e Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM 0,579), obrigado a escoar toda sua produção por rodovia, foi campeão nacional de produção em 2018, batendo recordes no seu PIB agrícola, que atingiu a marca R$ 3,63 bilhões (IBGE), o maior do país.
A Fiol terá capacidade total para transportar até 60 milhões de toneladas por ano. Inicialmente, transportará apenas 18 milhões ton/ano de minério de ferro da Bahia Mineração (Bamin), do município de Caetité, e os grãos do Oeste da Bahia, podendo carregar também grãos de outras áreas do país.
Hoje, mais de 40% das commodities agrícolas e 92% dos minérios chegam aos portos brasileiros por via férrea. Com as mudanças de paradigmas globais, o setor busca planos integrados de logística e visão de longo prazo, garantindo competitividade articulada nos diversos modais.
Neste novo cenário, as ferrovias evoluem para o conceito de ferro-info-vias (FIVs) – ou ferrovias 6.0 – dotadas de fibras ópticas (Intelligent Transportation System – ITS). Integradas a big data e a computação em nuvem, onipresentes, são conectadas a smartphones entrando na mira de investidores.
Telecomunicações nas FIVs
Os sensores de fibra óptica são uma ferramenta poderosa para avaliação dos sistemas ferroviários, incluindo o comportamento de cargas, trens e trilhos, permitindo a coleta de dados em tempo real, inspeção e detecção de degradação estrutural, aumentando a segurança do sistema. O setor de telecomunicações é parceiro inseparável das FIVs.
Ativando virtualmente territórios por onde trafegam, as FIVs diminuem as distâncias continentais que isolam os municípios centrais brasileiros, antes chamados diminutivamente de interior, revelando potenciais locais, inclusive com Indicações Geográficas (IG), descortinando, via Google Maps, áreas antes ‘invisíveis’. A Fiol, que nasce pensando primeiro em minérios e grãos, poderá transportar também conhecimento, carga geral e turistas.
Com a nova visão das FIVs, a Rede Nacional de Pesquisa (RNP.br) que interliga instituições de ensino superior e unidades de pesquisa de todo país, vai além, aportando inteligência nova ao circuito. No mundo digital 6.0, onde mudanças ocorrem na velocidade de cliques nas nuvens, a segurança do sistema e a redução de riscos são perseguidos pela continuada geração de conhecimento.
Interconexão ferro-info-viária
A Ferrovia Norte-Sul, que liga o Porto de Itaqui (MA) a Santos (SP) é a espinha dorsal do sistema no país, com ferrovias laterais que oferecem opções de escoamento à produção dos estados centrais.
No ambiente virtual das FIVs, projeções entre a Ferrovia Centro Oeste (Fico) e a Fiol, mostram opções de escoamento das commodities produzidas nos estados centrais do Brasil, através do novo Porto Sul de Ilhéus, com drástica redução de custos. Do outro lado, o Porto de Ilo, no Perú, é avaliado quanto a vantagens comparativas e competitivas, conectando os Oceanos Atlântico e Pacífico.
Segundo a Associação Nacional de Transportadores de Cargas Ferroviárias (ANTF), desde 1996, quando as concessões se iniciaram, até 2018, as empresas investiram mais de R$ 92 bilhões e as ferrovias ampliaram em mais de 170% a sua produção, de 137 bilhões para 375 bilhões de (tonelada quilômetro útil – TKU). A movimentação de contêineres cresceu em 130 vezes e os empregos, diretos e terceirizados, cresceram 142%, passando de 16 mil para mais de 40 mil.
Startup hub, OCDE, IOT e blockchain
Para investidores interessados no leilão da Fiol, planilhas de risco com projetos e garantias bem definidos são essenciais. As FIVs, com inteligência geo-espacial-digital ativa, monitoradas via Internet das Coisas (IoT) e auditadas ao vivo por cyber contratos em Blockchain, garantem segurança adicional ao sistema.
Atendendo a essas compliances incentivadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e facilitadas pelas ferramentas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), as FIVs inovam nos critérios ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG – Environmental, Social and Governance) globais.
Quantos municípios brasileiros, esquecidos e inexplorados por falta de infraestrutura inteligente, guardam potenciais como Caetité e São Desidério? A nível internacional, articulamos ecossistemas de startups formados por railtechs, infotechs, construtechs, logitechs, foodtechs, agritechs, touristechs, que florescem no mundo, para organizar o Hub das FIVs e explorar, na dimensão 6.0, as oportunidades na nova eco-nomia digital.
*Eduardo Athayde é diretor do WWI no Brasil
Fonte: https://agevolution.canalrural.com.br/pensando-a-inovacao-startups-na-ferro-info-via-fiol/
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