Com novo impulso vindo de setores ligados a commodities e bancos, o Ibovespa rompeu ontem a marca inédita de 122 mil pontos em um movimento global de busca por ativos mais sensíveis à retomada da atividade econômica. A grande estrela do dia foi a ação da Vale, que superou pela primeira vez a marca de R$ 100 e liderou a disparada do setor de mineração e siderurgia. Peso pesados como bancos e Petrobras também foram destaque ontem.
O Ibovespa fechou em alta de 2,76%, aos 122.386 pontos, deixando para trás o recorde anterior, de 119.527 pontos, registrado em 23 de janeiro de 2020.
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A ação ordinária da Vale subiu 7,02%, a R$ 102,32, com grande volume de negócios. O giro financeiro somou R$ 7,42 bilhões, enquanto todo o Ibovespa chegou a R$ 32,56 bilhões.
Além do recorde de preço, esse também foi um dos maiores volumes de operações da história da mineradora. O giro ficou atrás apenas dos R$ 10,9 bilhões registrados em 4 de agosto de 2020, dia do block trade de R$ 8,1 bilhões em papéis da Vale pelo BNDES, e dos R$ 8 bilhões de 28 de janeiro de 2019, segundo dados do Valor Data.
O impulso para o setor de mineração e siderurgia vem da perspectiva de retomada da economia global, com expectativa de avanço em projetos de infraestrutura e construção civil, principalmente na China. Tudo isso levou à disparada do preço de minério de ferro no exterior, contribuindo para o desempenho da Vale.
Para o Goldman Sachs, um novo superciclo de commodities está começando. Embora a forte recuperação do ano passado em muitos preços de commodities possa ser vista como uma recuperação em forma de V da vacina, o banco americano afirma que é apenas o início de um mercado de alta estrutural muito mais longo para commodities, de acordo com relatório recente.
Esse quadro positivo foi reforçado, mais recentemente, pela perspectiva de mais estímulo fiscal com o concretização da onda azul nos Estados Unidos – controle democrata nas duas casas do Congresso e na Casa Branca, o que deve facilitar a tramitação de novos projetos de ajuda à economia.
Dentre as ações do setor no Ibovespa, a recomendação da Vale é quase uma unanimidade entre as carteiras indicadas por analistas para o mês de janeiro. O Safra, por exemplo, aumentou o peso da Vale na carteira recomendada. Acreditamos que o ambiente favorável de preços de minério de ferro deve continuar a beneficiar a geração de caixa da empresa e que os projetos de expansão devem ajudar a aumentar a produção nos próximos anos, dizem os analistas da casa.
Considerando que a empresa possui um baixo nível de endividamento e não tem necessidade de investimento significativo, eles acreditam que ela deva continuar a gerar um fluxo de caixa forte que deve se traduzir em pagamentos de dividendos atrativos.
O banco ainda aponta a Bradespar como uma alternativa para ter exposição à Vale. Estimamos que o valor de mercado atual da empresa represente um desconto de 16% em relação ao valor da sua participação na Vale, acrescenta.
Neste começo de ano, fica evidente o destaque para o setor de siderurgia e mineração. As ações da Gerdau acumulam alta de 20,82% e as da CSN ganham 20,97%, enquanto as da Usiminas avançam 13,55%. Já as da Vale sobem 17% e as da Bradespar, 19,89%.
Dentre as siderúrgicas, o nome da Gerdau aparece entre as principais recomendações da XP e do BTG Pactual. Para os profissionais do BTG, a empresa combina uma série de qualidades, como forte crescimento da receita, baixa alavancagem e geração de fluxo livre de caixa, além de opções de compra de câmbio de baixo risco e uma questão temática, do mercado imobiliário.
Acreditamos na força estrutural dos mercados imobiliários no Brasil e esperamos que a demanda por aços longos continue superando os planos. Pela primeira vez em anos, acreditamos que a empresa está bem posicionada para repassar aumentos de preços e superar as expectativas, destacam os analistas do BTG.
Entre os pontos de vantagem da companhia está sua exposição em outros países, o que reduz a vulnerabilidade a riscos locais.
Embora tenha retirado a Gerdau de sua carteira recomendada para dar mais espaço para outras empresas ligadas a commodities, o Safra segue com visão positiva para a empresa. Continuamos otimistas com a Gerdau, cujos resultados devem continuar a se beneficiar do bom desempenho do setor de construção no Brasil, Estados Unidos e América do Sul. Além da resiliência do setor já demonstrada durante a crise da covid-19, a perspectiva de baixa de juros também deve continuar a impulsionar o mercado de construção e a demanda por aços longos, dizem.
Para Alexandre Sant’Anna, gestor de renda variável da ARX Investimentos, existe um fluxo robusto de capital estrangeiro para ações ligadas a commodities e sensíveis à retomada econômica. Além de mineração e siderurgia, esse também é o caso de Petrobras e bancos no Brasil. E o fluxo pode continuar dado o cenário de ampla liquidez e retomada da economia.
Ontem, por exemplo, Petrobras subiu 3,09%. Já no setor de bancos, Itaú Unibanco teve alta de 4,06% enquanto Bradesco avançou 2,84%.
Ainda que o foco agora esteja em temas mais globais, ele espera que outros segmentos também passem a chamar atenção como varejo e distribuidores de combustíveis nos próximos meses. Ou seja, ações mais ligadas ao próprio ciclo doméstico devem atrair interesse conforme a retomada também acontece por aqui.
Existem riscos internos, como eleições na Câmara, mas a onda lá de fora é muito grande, diz o gestor. Para ele, problemas locais tendem a afetar de forma mais evidente os mercados de câmbio e renda fixa. Se acontecer um desvalorização do real por questões domésticas, a despeito desse movimento global de queda do dólar, isso poderá deixar a bolsa brasileira mais atrativa em divisa estrangeira, diz.
Fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/01/08/bolsa-bate-recorde-com-disparada-da-vale.ghtml
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