Estadão – Uma foto mostrando um grande número de pessoas no metrô de Madri, na Espanha, está sendo usada fora de contexto nas redes para questionar as restrições impostas pelo governo de São Paulo ao comércio e outras atividades não essenciais durante a pandemia. E o problema está só no comércio? Hipócrita! #ForaDoria, afirma uma das postagens enganosas com mais de 12 mil compartilhamentos até a tarde desta sexta-feira, 5 de fevereiro.
Essa imagem, porém, é de três semanas atrás e mostra uma situação anormal no transporte público da capital espanhola. A postagem original é do perfil do Twitter @Maribel_db, em 11 de janeiro (veja abaixo). O Estadão Verifica chegou ao conteúdo a partir de uma pesquisa reversa no Google. Entre os resultados, estava uma notícia da agência Sputnik sobre a superlotação do metrô de Madri em meio aos transtornos causados pela tempestade Filomena.
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De acordo com a notícia, o metrô era o único meio de transporte público em operação naquele momento em função da neve acumulada nas principais ruas e avenidas da cidade. Ainda que o metrô tenha oferecido o serviço por mais de cem horas de forma ininterrupta, usuários reclamam que a demora para a chegada dos trens vem provocando grandes aglomerações nas plataformas e vagões, situação nada recomendável diante do aumento dos casos de coronavírus, informou a agência.
O jornal espanhol El Mundo também noticiou o problema naquele mesmo dia. Segundo a publicação, um porta-voz do governo local revelou que houve alta de 21% no número de passageiros no horário de pico, enquanto 98 dos 300 trens não puderam circular por conta do acúmulo de neve nos depósitos onde normalmente ficam armazenados.
A tempestade Filomena foi a maior nevasca em 50 anos na Espanha e deixou ao menos cinco mortos. O fenômeno foi seguido de uma onda de frio extrema no dia 12, quando os termômetros registraram mínima de 10 graus negativos em Madri e -25ºC em outras localidades do País, petrificando a neve que caiu durante o final de semana. Houve paralisação de estradas, suspensão das aulas, fechamento de aeroportos e falta de água nas residências, entre outros incidentes.
Essa mesma foto circulou fora de contexto na Itália e trazia legendas semelhantes, contendo críticas a restrições impostas pelos governos ao funcionamento do comércio em Roma. No Brasil, os conteúdos de maior alcance foram compartilhados a partir de 26 de janeiro, com a suposta denúncia direcionada ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
No dia anterior, 25 de janeiro, o Estado entrou na fase vermelha, a mais restritiva do plano de combate à covid-19. A medida prevê a abertura apenas de serviços essenciais entre 20h e 6h e também nos finais de semana em todo o território paulista. Depois de enfrentar protestos e descumprimento de empresários e prefeitos que culminaram em ações na Justiça, o governo Doria anunciou o relaxamento das restrições, com o retorno à fase amarela.
Essa não é a primeira vez que o Estadão Verifica identifica posts usando imagens fora de contexto para criticar medidas de isolamento social para conter o avanço da pandemia. O blog já desmentiu legendas enganosas em fotos da Cracolândia, de uma agência da Caixa e de jornalistas e autoridades, entre outras. Nenhuma dessas postagens indicava fonte – um dos principais sinais de alerta quanto à veracidade desse tipo de conteúdo nas redes. Na dúvida, pesquise sempre antes de compartilhar.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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