O caminho para a neutralidade de carbono nas cidades

Folha de S. Paulo – Mais de 60 países se comprometeram a alcançar a neutralidade do carbono nos próximos 30 anos durante a Cúpula do Clima, que aconteceu neste mês em Nova York, nos Estados Unidos. As cidades são responsáveis pela emissão de aproximadamente 70% dos gases de efeito estufa no mundo.

Portanto, preparar as cidades para a neutralidade de carbono é medida essencial para o atingimento da meta estabelecida no evento mundial.

Em 2050, as previsões são que aproximadamente 70% da população mundial vai morar em áreas urbanas, um aumento expressivo no número de pessoas que viverão nas cidades. Assim sendo, para o desempenho de suas atividades cotidianas, toda essa população consumirá mais energia e, consequentemente, contribuirá para o aumento da emissão global de dióxido de carbono na atmosfera.

Contudo, mesmo com esse cenário, segundo relatório recente publicado pela Coalition for Urban Transition, com o uso de tecnologias e políticas já existentes seria possível diminuir as emissões de carbono em 90% até 2050.

Para alcançar esse objetivo, em primeiro lugar, as cidades precisam construir edifícios melhores e reformar os existentes, a fim de que usem muito menos energia. De acordo com o relatório, cerca de 30% de todas as emissões urbanas poderiam ser cortadas até 2050, tornando os edifícios mais eficientes do ponto de vista do consumo de energia. Outros 30% poderiam ser conquistados com a adoção de fontes renováveis –como solar, eólica ou de hidrogênio– pelos grandes consumidores que atualmente operam com energia proveniente de combustíveis fósseis.

Além dessas medidas na operação dos edifícios, quase 10% das emissões podem ser evitadas por meio do uso de materiais mais eficientes em termos de consumo de energia, na fabricação de veículos, construção de prédios, estradas, ferrovias etc. Isso significa, por exemplo, usar menos concreto, aço e vidro.

A redução estimada de 20% poderia vir da desvinculação do transporte de seu atual modelo de emissão de carbono. Nas cidades, isso ocorreria com a implantação de sistemas de transporte público mais eficientes, com mudanças nos modelos de deslocamento, diminuindo distâncias, retirando gradativamente da matriz de transportes os automóveis movidos a combustíveis fósseis, e impulsionando o deslocamento cicloativo e as caminhadas.

A administração inteligente do lixo urbano é mais uma medida indispensável na busca pela neutralidade de carbono. Até 5% das emissões globais de gases de efeito estufa, que contém até 60% de CO2 em sua composição, emanam dos resíduos sólidos, e a maior parte de produtos orgânicos em decomposição. Processar o material orgânico, em vez de descartá-lo em aterros, além de reduzir a emissão de gases, pode ajudar a substituir produtos fabricados com combustíveis fósseis. Esse é o caso da compostagem para substituir fertilizantes, e o uso da digestão anaeróbica para obter o biogás.

Além disso, parece claro que o desenvolvimento econômico pode ter influência relevante nesse processo. Estudos têm mostrado que a correlação é positiva, ou seja, o crescimento do PIB per capita leva ao aumento das emissões de dióxido de carbono per capita.

Embora algumas teorias apontem para o fato de que existe um ponto de inflexão, e que as emissões começam a diminuir quando atingido um determinado patamar do PIB, não existem evidências suficientes para corroborar essa afirmação.

Portanto, como o crescimento econômico é vital para o bem-estar e a qualidade de vida, principalmente da população urbana, é fundamental preparar as cidades de forma objetiva e extremamente comprometida para que se consiga atingir a neutralidade de carbono, cumprindo as metas estabelecidas na Cúpula do Clima. Mãos à obra!

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/claudiobernardes/2021/05/o-caminho-para-a-neutralidade-de-carbono-nas-cidades.shtml

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