Para o governo federal, Ferrogrão pode ser sustentável

Ministro Tarcísio de Freitas diz que é preciso separar ideologia de interesses econômicos LUIZA PRADO/JC
Ministro Tarcísio de Freitas diz que é preciso separar ideologia de interesses econômicos LUIZA PRADO/JC

Jornal do Comércio (RS) – O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, afirmou semana passada que a Ferrogrão -projeto de ferrovia capitaneado por gigantes do agronegócio para ligar o Mato Grosso a hidrovias da Amazônia – pode ser sustentável. Para ele, discussões sobe os impactos do empreendimento são uma bobagem e ativistas que se opõem à proposta não conhecem a região nem os estudos.

“A gente tem que separar o que é ideologia, interesse comercial e o que é de fato visão de proteção ao meio ambiente. Tenho certeza absoluta que nenhum desses ativistas percorreu a BR-163 [usada hoje na região] e conhece com profundidade o projeto”, afirmou.

“Discutir se é possível fazer uma ferrovia de forma sustentável na Amazônia é uma grande bobagem. É claro que é”, disse ele, que afirmou que o governo está tratando a sustentabilidade da proposta com seriedade e com participação de institutos internacionais.

A ideia da ferrovia foi lançada há pelo menos sete anos pela iniciativa privada e é de interesse de multinacionais como ADM, Cargill e Amaggi. Elas estudam juntas o projeto, que não saiu do papel até hoje por incertezas em torno do empreendimento e de sua viabilidade.

Segundo Tarcísio, a Ferrogrão usaria a faixa de domínio da BR-163 (que liga o Mato Grosso ao Pará) e funcionaria como uma barreira à pressão fundiária ao limitar a abertura de ramais rodoviários em região de floresta.

O ministro afirmou que Mato Grosso terá em 2030 uma produção de grãos 70% maior do que a existente hoje e que são necessários diferentes empreendimentos para o escoamento, voltado sobretudo ao mercado externo. Segundo ele, pensar apenas na rodovia não seria ambientalmente sustentável e quem defende isso “não entende nada de sustentabilidade”.

“Como um empreendimento ferroviário que é multimodal, que integra ferrovia e hidrovia, funciona como barreira verde e contém a expansão da pressão fundiária, que tira um milhão de toneladas de CO2 da atmosfera, que promove plantio compensatório, que vai nascer com selo verde, que vai se submeter ao processo de licenciamento ambiental, que vai ter limitação de transporte por combustível fóssil, que diminui quantidade de acidentes não vai ser sustentável?”, questionou.

Uma delegação internacional de ativistas e políticos de esquerda desembarca no Brasil no dia 15 de agosto para pressionar contra a construção da Ferrogrão. A comitiva é ligada à Internacional Progressista, entidade criada no ano passado pelo senador americano Bernie Sanders e pelo ex-ministro das Finanças da Grécia Yanis Varoufakis, e que reúne políticos, ativistas e celebridades de diferentes países.

O economista americano David Adler, coordenador-geral da entidade, disse que a Ferrogrão vai cortar 1.000 km na Amazônia e atender interesses do agronegócio que não estão baseados no Brasil. Ele ainda afirmou que há uma espécie de “lavagem cerebral verde” em torno do projeto.

“Esta ferrovia está sendo apresentada com base na premissa de que é melhor para o meio ambiente do que ter caminhões na estrada. É um escândalo que algo que tão obviamente vai desalojar comunidades e gerar enorme destruição ambiental seja apresentada como um projeto verde”, afirmou Adler.

Paulo Resende, diretor do núcleo de logística da Fundação Dom Cabral, também participou da live e afirmou que a engenharia da obra deve respeitar o meio ambiente porque, caso contrário, o retorno financeiro do projeto diminuirá.

“Se a gente não se preocupar com a proteção do meio ambiente já na construção, esse desgaste ambiental e social virá no opex [os custos de operação, após os investimentos iniciais]. O raciocínio mais avançado no mundo é: não confronte. Faça com que o projeto de engenharia respeito o máximo possível o meio ambiente. Que tecnologias de construção a gente tem pra isso?”, afirmou Resende.

Fonte: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/cadernos/jc_logistica/2021/07/803182-para-o-governo-federal-ferrograo-pode-ser-sustentavel.html

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