Estadão – Os trabalhos de escavação para as obras da Linha 6-Laranja do Metrô e as chuvas podem ter contribuído para o rompimento de uma tubulação de esgoto e o desmoronamento de parte da pista da Marginal do Tietê nesta terça-feira, afirmam especialistas. A via cedeu durante a manhã e foi interditada. A erosão ocorreu nas imediações da Ponte do Piqueri, na zona oeste da capital paulista.
Segundo o governo, o desmoronamento foi causado pelo rompimento de uma coletora de esgoto. O motivo dessa ruptura, no entanto, ainda não foi esclarecido. Conforme a Acciona, empresa responsável pela obra, não houve colisão do tatuzão com a galeria de esgoto, pois a tuneladora passava a três metros da galeria no momento da ocorrência. O tatuzão é um equipamento de perfuração de túneis, que operava no local do acidente desde o dia 16 de dezembro.
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Especialistas ouvidos pelo Estadão afirmam que é preciso aguardar as investigações para apontar o que teria causado o rompimento da coletora de esgoto e qual a ligação dessa ruptura com as obras da Linha 6-Laranja. Nesta terça, o Ministério Público de São Paulo instaurou um inquérito civil para apurar as causas do acidente.
Para o engenheiro civil Paulo Ferreira, presidente do Instituto de Engenharia, embora não tenha havido colisão entre o tatuzão e o interceptor de esgoto, a movimentação da máquina pode ter provocado uma desestabilização do terreno no local, causando o rompimento do interceptor de esgoto.
“Que não houve a colisão está claro. Se tivesse havido, o problema seria muito pior. Não houve colisão, mas não precisa de colisão para ter a ruptura (do interceptor), basta que haja a movimentação”, explica o engenheiro. Segundo ele, uma avaliação de risco deve ter sido feita, no projeto da obra, sobre a passagem do tatuzão na região.
“O metrô sabia que tinha um interceptor (de esgoto) ali. A Sabesp sabia que ia passar o metrô. Fizeram análise de risco e probabilidade. Mas a ocorrência do fato independe da probabilidade. Certamente, eles avaliaram e correram o risco.” Outras variáveis, como o volume de chuva nos últimos dias, podem ter contribuído para o problema, segundo o especialista.
O rompimento do interceptor de esgoto teria causado um vazamento de água que, por sua vez, provocou a erosão no terreno e o desmoronamento de um trecho da Marginal do Tietê, na avaliação de Ferreira. “Começou a vazar e esse vazamento só aumenta e vai solapando o terreno”, afirma.
“Todo túnel ao ser escavado provoca um assentamento da superfície, em maior ou menor escala”, explica Tarcísio Celestino, ex-presidente da Associação Internacional de Túneis e do Espaço Subterrâneo e professor da Universidade de São Paulo (USP).
Ele deixa claro que é cedo para apontar causas do acidente, mas que uma das hipóteses, ainda não confirmada, é de que a passagem da máquina pode ter provocado esse assentamento e danificado a galeria de esgoto. Celestino lembra, porém, que os tatuzões usados na obra são máquinas sofisticadas, com inúmeros equipamentos e projetadas para minimizar os assentamentos de terra.
Já o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea), Vinicius Marchese, levanta a hipótese de que o grande volume de chuvas nos últimos dias possa ter contribuído para o acidente. “Houve um deslocamento de terra que pode ter sido causado pela intensidade das chuvas nos últimos dias e esse deslocamento rompeu a adutora de esgoto da Sabesp e causou essa erosão, que trouxe aquele pedaço da Marginal para baixo”, avalia.
Para Ferreira, a reparação agora não é complexa, do ponto de vista técnico. Será preciso identificar e consertar a tubulação danificada e aterrar a região. O especialista lembra que o interceptor de esgoto atingido não tinha pressão interna, o que é uma vantagem nesse tipo de situação. Se fosse uma tubulação com pressão interna, a ruptura poderia causar ainda mais danos à obra.
No início da tarde desta terça-feira, técnicos da Sabesp e da Acciona foram até o local. O diretor da Acciona, André De Angelo, afirmou que a empresa está tomando as medidas para identificar o que causou o rompimento da coletora e, assim que a causa for identificada, será informada.
Ele disse ainda que todas as redes subterrâneas estavam mapeadas e que não houve um choque entre o tatuzão e a rede de esgoto. “Estamos buscando a causa agora, provavelmente tem a ver com a chuva, com erosões, porque a tuneladora estava a 3 metros dessa coletora, então não houve nenhum choque.”
Por meio de nota na noite desta terça, a Linha Uni e a Acciona, responsáveis pelas obras da Linha 6-Laranja de metrô, afirmaram que “com as informações disponíveis neste momento, o incidente ocorrido esta manhã na Marginal Tietê não está relacionado diretamente ao desenvolvimento das obras da Linha 6-Laranja. Trata-se de um rompimento de um interceptor de esgoto”. As empresas afirmam, ainda, que o incidente “é pontual e não interfere nas demais frentes de trabalho do projeto, que seguem em execução”.
A Secretaria de Transportes Metropolitanos e a Sabesp informaram que acompanham o incidente nas obras da Linha-6 Laranja do metrô. “Todas as medidas necessárias para contenção do problema e estabilização da pista da Marginal Tietê estão sendo tomadas.”
“Equipes técnicas da Sabesp trabalham para reverter o esgoto da tubulação danificada (ITI-7) para outra tubulação próxima (ITI-1), realizando dessa forma o esvaziamento do local. Após o esgoto ter sido totalmente escoado, será possível fazer um diagnóstico mais preciso do interceptor avariado e estabelecer prazos”, informou a STM.
A pasta afirmou, ainda, que foi criado um comitê que investiga a causa do incidente e avalia soluções técnicas para a realização de obras de drenagem, recuperação para a retomada das obras do Metrô, conserto da tubulação e da Marginal Tietê. A primeira reunião do comitê ocorreu na tarde desta terça-feira, com a participação de 20 pessoas envolvidas na solução da situação.
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