Estadão (Blog) – Embora o Ministério da Infraestrutura esteja realizando um forte trabalho para promover as primeiras desestatizações de autoridade portuária do País antes do fim do ano, interessados nos leilões da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) e do Porto de Santos estão colocando o pé no freio diante do complexo cenário que vem se desenhando para essas disputas. Entre os grupos que estariam reavaliando a participação nos certames estão Rumo, Vinci Partners, além de operadores internacionais, apurou o Broadcast com fontes próximas às empresas.
Os portos brasileiros são vistos como uma grande oportunidade de investimento pelo potencial de movimentação e expansão, de acordo com especialistas. Mas o modelo de leilão que prevê o “filé e o osso” tem deixado investidores receosos, especialmente porque sobram dúvidas se o governo será capaz de quantificar, com assertividade, os numerosos passivos acumulados em décadas de administração pública.
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“O investidor reconhece que há um esforço por parte do governo de reunir todos os elementos necessários para lançar os projetos de desestatização de portos, mas isso pode não ser suficiente”, diz fonte ligada a um grupo interessado, acrescentando que, no mínimo, o investidor deve acabar aplicando um grande desconto no lance.
O leilão da Codesa, previsto para o fim de março, inclui os portos de Vitória e Barra do Riacho, em um contrato de 35 anos. Estão previstos investimentos diretos de R$ 1,3 bilhão, além do valor da outorga.
Conforme apurou o Broadcast, a Rumo chegou a estudar sua participação no leilão da Codesa, principalmente para se preparar para futuros leilões de portos, mas a companhia estaria reavaliando sua posição diante dos riscos de modelagem do contrato.
Assim como a Vinci Partners, um grande grupo de infraestrutura e galpões logísticos também está avaliando o leilão da Codesa, apurou a reportagem, mas ainda não há uma decisão formada sobre essa participação.
Procurada, a Rumo informou que não vai comentar o assunto. A Vinci disse por meio de nota que “está analisando a oportunidade, mas ainda não há uma decisão final a respeito”.
Joia da coroa?
No leilão da Santos Port Authority (SPA), os desafios se mostram ainda maiores. Além da complexidade inerente ao porto, considerado um dos maiores do Hemisfério Sul, diversas forças antagônicas que atuam no complexo trazem um ingrediente de incerteza ao processo de desestatização: terminais privatizados (arrendados) ao longo dos últimos anos, sindicatos, fornecedores, empresas de logística e inúmeras forças políticas.
“Há muitas dúvidas no mercado se o Porto de Santos será mesmo privatizado, diante da sua complexidade”, afirma uma fonte ligada a um grupo francês, que estuda entrar no leilão da SPA. “Os investidores também querem saber como serão encarados os problemas de compliance”, acrescenta.
Aconteceu ontem a audiência pública para o leilão do Porto de Santos, um passo importante do governo federal para seguir com a desestatização. No entanto, segundo inúmeros agentes do setor ouvidos pelo Broadcast, o ano eleitoral também torna desafiadora a tarefa de levar a autoridade portuária a mercado. “Hoje não há clima político”, diz uma fonte do setor.
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