Valor Econômico – Os impactos previstos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos no Brasil vão colocar em risco setores estratégicos da economia, que são muito dependentes de água. O caso mais notório é o agronegócio, que já acumula perdas decorrentes de adversidades climáticas: só em 2021, produtores de grãos amargaram prejuízos com a seca e excesso de chuvas da ordem de R$ 91,8 bilhões, segundo estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Mas não só: indústrias de alimentos e bebidas, mineração, geração de energia e saneamento são outros setores que estão expostos aos efeitos das mudanças do clima sobre a disponibilidade e qualidade da água.
“No Brasil, temos um nexo causal entre água, produção de energia e alimentos muito forte, já que nossa matriz elétrica tem 65% de hidroeletricidade e a agricultura depende mais de fatores climáticos do que da irrigação. Por isso, água é o fator que dá concretude à questão das mudanças climáticas”, afirma Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), entidade que reúne 85 empresas que representam quase 50% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
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Segundo Grossi, a percepção dos riscos hídricos associados às mudanças climáticas tem crescido entre as associadas, especialmente após a crise hídrica que ocorreu entre os anos de 2014 e 2015, que afetou a região Sudeste, particularmente São Paulo. Na ocasião, indústrias perderam produção e outorgas de uso de água tiveram de ser revistas.
“Hoje as empresas estão em um patamar maior de percepção sobre esses riscos, muitas indo além da mitigação e buscando gerar impactos positivos. Mas elas ainda precisam colocar essas questões em seu planejamento estratégico”, diz Marina. Este mês, o Cebds iniciou um estudo sobre os caminhos do setor empresarial brasileiro na transição energética, com o objetivo de identificar as oportunidades para as empresas brasileiras rumo a matrizes neutras em emissões de gases de efeito estufa. O trabalho analisa a relação entre o setor elétrico brasileiro e as mudanças climáticas, envolvendo crises hídricas, energéticas e os usos múltiplos da água. A expectativa é que o estudo gere um guia estratégico para a transição energética do país até 2050, com ênfase nas oportunidades para as empresas.
No setor de saneamento, que tende a ser impactado tanto pela disponibilidade de água quanto pelos eventos de escassez e cheias, as operações se amparam na tecnologia, monitoramento diário de plataformas de clima e redução de perdas para lidar com as adversidades das mudanças climáticas. A BRK Ambiental, empresa privada que detém concessões de água e esgoto em 125 municípios, fixou metas para a segurança hídrica, com ações para redução de perdas de água na distribuição e também para mitigação dos gases de efeito estufa por meio da aposta em energias renováveis.
O programa de combate às perdas de água fixou a meta de alcançar o índice de 25% de perda média até 2030 – embora o índice possa parecer alto, ele é considerado satisfatório, tendo em vista que há municípios assumidos pela empresa onde as perdas ultrapassam 60%, explica Claudio Monken, diretor de engenharia da BRK Ambiental. Esse é o caso da região metropolitana de Maceió, Alagoas, concessão assumida no ano passado. “Hoje a perda média em nossas concessões é de 35%, com reduções de 2% ao ano, em uma marcha sem fim para alcançar a meta fixada para 2030”, diz o executivo.
As ações permitiram que entre 2018 e 2021 fosse evitado o desperdício de 21 bilhões de litros de água, e há municípios que vem se destacando, como Limeira, no interior paulista. Na cidade, concessão desde 1995, o índice médio de perdas caiu de 45% para 19,6% em 2021, representando uma economia de água da ordem de 6 bilhões de litros anuais, quantidade suficiente para abastecer o município, com cerca de 300 mil habitantes, por cerca de quatro meses.
Na área de eficiência energética, a BRK Ambiental planeja alcançar 68% de consumo de fontes renováveis até 2030 e já alcançou um índice de 54% em 2021, com a implantação de usinas próprias de energia solar e compra de energia eólica no mercado livre.
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