Valor Econômico – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) teve lucro recorde em 2021, fruto de controle de despesas e estratégia de reciclagem de capital do banco, com o desinvestimento de posições em empresas em bolsa, disse nesta sexta-feira (25) o presidente da instituição, Gustavo Montezano. O resultado foi “sólido e robusto”, segundo o executivo, e mostra que o banco tem feito a lição de casa para enfrentar o futuro. O banco de fomento registrou lucro líquido de R$ 34,1 bilhões em 2021, avanço de 65% sobre 2020.
Montezano reforçou que a estratégia é transformar o banco em um preparador de projetos. No fim do ano, o BNDES foi apontado pela provedora de dados Infralogic como o maior estruturador de PPPs, concessões e privatizações em infraestrutura para concessão entre seus pares.
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O banco fechou 2021 com 167 projetos em carteira, totalizando investimentos previstos de cerca de R$ 383 bilhões. Destes projetos, 19 já foram leiloados, somando R$ 109 bilhões. “O BNDES tem potencial para ajudar o país a gerar valor em ativos tangíveis e intangíveis nos próximos cinco a dez anos”, afirmou.
Carteira
A carteira de participações do BNDES tende a ser “virtualmente zero”, segundo Montezano. “A velocidade que vamos chegar até lá, quem vai dizer são os mercados. Será feito sem pressa, sem prazo, esperando as janelas de mercado.”
Segundo o executivo, a atividade especulativa financeira não é função de um banco de desenvolvimento e, sim, tem que financiar campos na economia como infraestrutura. O executivo não deu nenhuma meta de desembolsos para o ano, mas afirmou que setores como infraestrutura e micro pequenas e médias empresas tendem a continuar a prevalecer. Investir em capital especulativo não tem impacto na sustentabilidade financeira do banco.
Além disso, o banco de fomento segue a estratégia de desinvestimentos de sua carteira de ações. Em 2021, as participações da instituição eram avaliadas em R$ 78 bilhões, concentrada em JBS, Petrobras, além de Eletrobras e Copel, disse a diretora financeira da instituição, Bianca Nasser.
“Continuamos focados na nossa política de desinvestimentos”, afirmou a executiva, durante apresentação de resultados financeiros da instituição. Da carteira do Banco, a maioria é de participação em ações. As cotas de fundos representaram R$ 3,3 bilhões. O banco informou mais cedo que a venda de participações contribuiu para um lucro líquido recorde no ano passado, de R$ 34,1 bilhões.
O lucro líquido ajustado foi de R$ 32,4 bilhões, que representa 95% do resultado. Em 2021, o ganho bruto de alienações da Vale foi de R$ 9,5 bilhões, enquanto o de JBS foi de R$ 1,6 bilhão e o de Klabin, de R$ 1,5 bilhão. No caso das debêntures da mineradora, o resultado foi de R$ 3,8 bilhões.
A carteira de crédito e repasses, líquida de provisão, totalizou R$ 439,5 bilhões, e, segundo Nasser, 53,5% do total está em projetos de economia verde. Os desembolsos totais, incluindo debêntures, outros ativos de crédito, operações de renda variável e não reembolsáveis, somaram R$ 64,3 bilhões em 2021, estáveis em relação a 2020, quando foi de R$ 64,9 bilhões.
O setor de infraestrutura respondeu por 40,7% das liberações no ano passado. O valor devido pelo BNDES ao Tesouro Nacional totalizou R$ 124,4 bilhões no fim do ano passado, uma redução de 36,3% frente a 2020. O decréscimo, segundo o banco, decorreu de liquidações antecipadas, de R$ 63 bilhões, além de pagamentos ordinários de R$ 12,8 bilhões.
Ucrânia
A situação da Ucrânia reflete uma tendência de que “eventos de cauda” (situações extremas, fora do intervalo de confiança) se tornarão cada vez mais recorrentes, segundo o executivo. “Hoje vemos uma situação bélica. Dois anos atrás era uma pandemia, e fomos surpreendidos nos dois momentos. Daqui a dois, três anos, seremos novamente surpreendidos com fatores que não enxergamos”, disse.
Covid-19
A despeito da pandemia, o mercado financeiro foi muito ativo, com recordes de emissão de ações no Brasil, por exemplo. “É difícil prever o comportamento social, político e econômico, que se desdobra do evento bélico em questão. Nossa função como BNDES é fazer o máximo possível para viabilizar ferramentas e produtos para investimentos futuros”, afirmou.
Segundo Bianca, os pagamentos mínimos ao Tesouro Nacional serão em torno de R$ 17 bilhões.
Os executivos do banco não deram informações sobre o processo de privatização da Eletrobras. O diretor de concessões, Fábio Abrahão, afirmou apenas que “com muita segurança, chegaremos ao sucesso”.
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