Folha de S. Paulo (Blog) – Bauru é uma importante cidade do interior paulista. Com localização privilegiada, já foi até cogitada por políticos para abrigar a capital do estado, numa eventual transferência de São Paulo (sim, acredite).
Com a posição geográfica favorável, não demorou para que no passado as companhias ferroviárias voltassem os olhos para ela e a cidade se desenvolvesse, inclusive abrigando a estação inicial do lendário Trem da Morte, na Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.
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A ferrovia, que tinha 1.272 quilômetros de extensão entre a cidade paulista e Corumbá (MS), na fronteira com a Bolívia, ganhou esse nome por ser a “extensão” do verdadeiro Trem da Morte, entre Puerto Quijarro, vizinha a Corumbá, e Santa Cruz de la Sierra, maior cidade boliviana, com mais de 1,5 milhão de habitantes.
Ela ganhou o nome devido ao número de acidentes, como descarrilamentos, e também por ser no passado rota para o transporte de doentes. O lado brasileiro com o tempo ganhou o mesmo nome, especialmente a partir dos anos 60, quando houve a desaceleração gradual de investimentos na estrada de ferro.
Em Bauru, porém, essa história ferroviária cada vez mais é parte do passado. O local, que além da Noroeste do Brasil também abrigava trilhos da Companhia Paulista e da Estrada de Ferro Sorocabana, sofre com abandono gradual.
Quando estive lá, o prédio já estava lacrado por conta de problemas estruturais, com centenas de embalagens sujas de marmitas jogadas no saguão, com cheiro forte e repleta de moradores de rua em seu entorno.
A Noroeste foi tão importante para o desenvolvimento da cidade que inclusive batizou o tradicional time de futebol de Bauru com seu nome. Mas, sem receber passageiros há mais de 20 anos, hoje é apenas sinônimo de tristeza para defensores do patrimônio ferroviário.
Um antigo prédio da Sorocabana, afastado da estação principal, também está totalmente fechado, com antigas portas fechadas com tijolos, telhado destruído e pilares outrora existentes retirados.
O cenário encontrado em Bauru era o prenúncio do que seria visto em todo o trecho da antiga Noroeste do Brasil. Percorremos, por rodovia, os 1.272 quilômetros entre Bauru e Corumbá e em 24 estações visitadas encontramos destruição e histórias de desolação de ex-maquinistas e antigos usuários das ferrovias.
Das 122 estações erguidas entre as cidades ao menos 80 foram demolidas ou estão em processo avançado de deterioração, abandonadas ou fechadas, sem uso algum. A maior parte delas está sob responsabilidade do governo federal.
Muitas já não existiam décadas antes da privatização, ocorrida em 1996 —foi o primeiro trecho da já extinta RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) privatizado pelo governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Aqui no blog contarei nas próximas semanas detalhes de algumas das estações da extinta Noroeste do Brasil.
Boa tarde!
Sou ex ferroviário, 20 como maquinista e 18 como supervisor de tração pela extinta Fepasa e posteriormente CPTM que atualmente privatizada pela via Mobilidade.
Sinto muita tristeza quando acompanho relatos das estações, locomotivas , pátios, etc; entregues a própria sorte. Viajei, muito pelos trilhos, tanto a trabalho quanto a passeio com minha familia e amigos. Nossa ferrovia foi destruída silenciosamente em prol do transporte rodoviário, e hoje esta mesma ferrovia poderá ser nossa salvação. Que ironia!!!