Valor Econômico – O crescimento do agronegócio tem feito do setor um dos mais importantes clientes da cadeia de transporte e logística do país, com operações multimodais que movimentam mais de 1 bilhão de toneladas por ano entre grãos, animais, alimentos, insumos, máquinas e implementos, biocombustíveis, fertilizantes e defensivos, segundo estudos do Grupo de Pesquisa em Logística, da Esalq/USP.
As características do setor têm exigido das empresas frotas adaptadas, com o desenvolvimento de soluções específicas. É o caso da JBS, maior frigorífico nacional, dono de marcas como Friboi e Seara. A empresa desenvolveu, em parceria com a Unesp, uma plataforma especial para carregamento de animais vivos em caminhões boiadeiros próprios, de forma a oferecer maior conforto e redução de estresse aos animais. Os veículos contam ainda com câmeras que monitoram todas as atividades do gado no caminhão. A tecnologia acabou por gerar um novo negócio: pecuaristas passaram a contratar a empresa para o transporte de gado magro até as fazendas de engorda, diz Ricardo Gelain, diretor executivo da JBS Transportadora.
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Em 2023, caminhões desenhados para o transporte de aves e suínos vivos entram em operação. Outro investimento está no monitoramento das carretas e contêineres frigorificados que transportam carnes. Um sistema de controle da temperatura via satélite, por meio de QR Code, tem oferecido maior precisão e a redução de 15 toneladas de resíduos por ano, com a substituição de termógrafos plásticos e redução do uso de papel. Com 1.300 conjuntos de cavalo e carreta, a transportadora do grupo movimenta 70% do volume da marca Friboi e de 20% a 30% das demais marcas do grupo, sendo a diferença embarcada por terceiros.
Com forte presença no transporte florestal para papel e celulose, a JSL, uma das dez maiores transportadoras do país, tem investido em telemetria e softwares de gestão para otimizar o processo, o que permite ganhos de 15% a 20% nos custos de transporte. Com 3 mil caminhões rodando, muitos deles superpesados, com cargas de 75 toneladas, o maior gargalo está nas condições das estradas, em especial as sem pavimentação no Centro-Oeste. A logística, que trabalha com alteração das rotas de acordo com as áreas de corte, muitas vezes precisa recalcular os trajetos por conta dos efeitos da chuva, conta Ramon Alcaraz, CEO da JSL. “É um processo dinâmico e temos investido em tecnologia para ganhar eficiência”, completa.
A empresa também tem presença nos segmentos de etanol, adubos e fertilizantes, e vai faturar R$ 2 bilhões no segmento do agronegócio, resultado 30% superior a 2021. A JSL não revela o cliente, mas acaba de firmar contrato de R$ 1,5 bilhão por 60 meses na área florestal.
De olho em soluções multimodais, outro gargalo do setor, a Brado Logística tem investido na movimentação de contêineres por ferrovias para reduzir custos e dar maior eficiência e sustentabilidade ao processo. Com 110 mil contêineres transportados este ano, 90% com produtos agrícolas, vai faturar R$ 332 milhões. A empresa detém 27% do share de algodão exportado, a maioria produzida no Mato Grosso, além de proteína animal, açúcar e grãos.
A operação por trilhos, diz Andrea Ramos, diretora comercial da Brado, garante uma economia ao redor de 10% nos custos de logística. Tão importante quanto é que o modal se mostra como solução para os compromissos ambientais. “Muitos clientes estão optando [pelo sistema ferroviário] pela eficiência e redução na emissão de CO2 ”, afirma Ramos.
Associada à Rumo Logística, a Brado avança suas operações para Goiás, Bahia, Maranhão e os portos do Arco Norte com a inauguração de novos trechos, como os da ferrovia Norte-Sul. Para se consolidar no agronegócio, investiu R$ 8 milhões em pontes rolantes para enchimento dos contêineres no terminal de Rondonópolis, volume que se soma aos R$ 375 milhões aportados em material rodante entre 2018 e 2022.
Outra empresa que cresce com o avanço do agronegócio é a Coopercarga que abriu, neste ano, uma unidade negócios para atender de forma mais estruturada o setor. Com sede em Santa Catarina, está presente no transporte de máquinas e implementos agrícolas do Sul para o Centro-Oeste, fazendo o frete de retorno com grãos. A área representa 12% dos R$ 100 milhões faturados anualmente. Com frota de 2 mil veículos entre caminhões próprios e agregados, investe ao redor R$ 60 milhões em tecnologia embarcada e novos veículos a cada ano, diz o gerente de operações de agronegócio, Diego Fiametti. Para agregar valor, a empresa opera com armazenagem e distribuição de alimentos, além da logística em terminais portuários.
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