Vale muda gestão e foca em ganho operacional

Spinelli, vice-presidente de soluções de minério de ferro: área do executivo foca na relação com clientes e passa operação das minas para Carlos Medeiros — Foto: Divulgação
Spinelli, vice-presidente de soluções de minério de ferro: área do executivo foca na relação com clientes e passa operação das minas para Carlos Medeiros — Foto: Divulgação

Valor Econômico – A Vale termina 2022 com mudanças na diretoria-executiva e no próximo ano as alterações no alto comando da empresa devem chegar ao conselho de administração. Na véspera do Natal, a companhia anunciou uma reestruturação em cargos executivos com o objetivo de garantir melhorias operacionais. A medida se justifica pela necessidade de buscar excelência nas operações a médio e longo prazos. Mas também pela demanda de investidores depois da tragédia de Brumadinho (MG), que completa quatro anos em 25 de janeiro, para que a empresa cumpra metas de produção em relação às quais tem tido dificuldades de entrega. “A ideia, com as mudanças, é ter uma empresa mais focada em execução. Consideramos o anúncio uma evolução no processo que a atual diretoria vem conduzindo”, disse fonte ligada à companhia.

Na quinta-feira (22), a Vale divulgou comunicado ao mercado informando sobre um “novo desenho” na alta liderança da companhia. Chamou a atenção a decisão de extinguir a vice-presidência executiva de estratégia e transformação de negócios, criada em março de 2021. Essa área foi montada para pensar a Vale do futuro e vinha sendo conduzida por Luciano Siani Pires, que foi vice-presidente de finanças da empresa por cerca de nove anos. Quando Siani assumiu a nova função, em setembro do ano passado, foi substituído como vice-presidente de finanças por Gustavo Pimenta, que atuou no grupo AES por doze anos. Na quinta, a Vale disse que Siani deixa a empresa em janeiro de 2023. O Valor apurou que o executivo pode assumir posição em empresa ligada à Vale.

Na reestruturação, as atribuições da área de Siani ficam sob o guarda-chuva de Marcello Spinelli, vice-presidente executivo de soluções de minério de ferro. O negócio de ferrosos é uma das plataformas de crescimento da Vale. A outra são os metais básicos. Mas no minério de ferro a empresa quer ser, cada vez mais, uma provedora de soluções para as siderúrgicas de forma a ajudá-las a reduzir as emissões de gases na produção de aço. A Vale tem assinado memorandos de entendimento com países do Oriente Médio, por exemplo, para desenvolver complexos industriais chamados internamente de “mega hubs” que vão criar produtos de baixo carbono para a indústria siderúrgica. Spinelli poderia vir a se instalar na Ásia, disseram fontes.

Até o anúncio pré-natalino, Spinelli cuidava não só da parte das soluções de ferro para os clientes e dos “mega hubs”, entre outros temas, como também da parte operacional do minério de ferro, o que inclui a extração do produto das minas e a definição das metas de produção. Agora Carlos Medeiros, que respondia pela segurança e excelência operacional, vai cuidar da vice-presidência executiva de operações. Terá sob sua gestão as operações das minas, das pelotizadoras e da logística.

Alexandre Pereira, outro executivo dos quadros da Vale, assume a vice-presidência executiva de projetos. É uma área dedicada à implementação de projetos-chave na empresa. Houve ainda a promoção de Rafael Bittar, que era diretor de geotecnia da Vale, para a vice-presidência executiva técnica. É uma área que cuida de linhas de defesa e de gestão de riscos.

“Passamos a dar mais foco em atividades ‘core’ da companhia. No passado, quando a Vale tinha vários negócios, os líderes corporativos tocavam vários negócios e unidades ao mesmo tempo”, disse uma fonte. Agora a Vale quer ter duas unidades de negócio – minério de ferro e metais básicos – mais focadas, com maior clareza dos objetivos estratégicos a serem perseguidos. A área de metais, que está em processo de cisão da Vale, também está montando liderança mais independente da empresa-mãe, sob o comando de Deshnee Naidoo, vice-presidente executiva de metais básicos, no Canadá.

No total, a Vale tem dez dirigentes no topo do comando do dia a dia, reunidos no que a empresa chama de “comitê executivo” (antiga diretoria executiva). O líder desse grupo é o presidente da mineradora, Eduardo Bartolomeo, que tem mandato até maio de 2024. Outros cargos desse comitê executivo não sofreram alterações. Fontes próximas da companhia disseram ao Valor que a reorganização foi proposta por Bartolomeo e encampada pelo conselho de administração da empresa.

O atual conselho da Vale tem mandato até abril de 2023 e, segundo apurou a reportagem, deverá passar por mudanças para o período que irá de 2023 a 2025. É dado como certo que o presidente da Cosan, Luís Henrique Guimarães, será indicado para uma vaga no colegiado da Vale. Também se espera a indicação de mais uma mulher para o conselho da mineradora. Hoje, entre 13 integrantes, só há uma: Rachel de Oliveira Maia.

Procurada sobre a possível indicação de Guimarães, a Cosan informou que não iria se pronunciar. A Cosan assumiu posição acionária relevante no capital da mineradora, que é uma empresa de capital pulverizado. Essa estrutura acionária sucedeu outra que vigorou desde a privatização da Vale, em 1997, marcada por controle acionário definido e por um grupo de acionistas que dava as cartas: os fundos de pensão estatais, liderados pela Previ, mais Bradespar, Mitsui e BNDES, que vendeu toda a posição em Vale. Em 2021, a mineradora passou por eleição conturbada para o conselho pois surgiu um grupo alternativo ao indicado pela empresa. Em 2023 não se espera disputa, mas há quem veja necessidade de um conselho mais alinhado.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/12/28/vale-muda-gestao-e-foca-em-ganho-operacional.ghtml

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