Valor Econômico – O governo de São Paulo planeja viabilizar ao menos quatro novas Parcerias Público Privadas (PPPs) de mobilidade urbana até 2026, segundo o secretário de Parcerias em Investimentos, Rafael Benini. “Sei que parece pouco tempo para tantos projetos, mas temos quatro anos pela frente e muita vontade política para isso”, disse ele ao Valor. A conversa foi realizada na quarta-feira (4), durante uma viagem de trem desde o centro da capital até Campinas.
Hoje, esta rota só é feita por trens de carga – o roteiro foi realizado de forma excepcional, como uma simulação. Os passageiros regulares da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) só conseguem chegar até Jundiaí, por enquanto.
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Para Benini, problemas na concessão das linhas 8 e 9 preocupam, mas setor privado será necessário à expansão
Porém, o objetivo do governo é ampliar o percurso até Campinas de forma definitiva, por meio do Trem Intercidades (TIC) – que deverá ser o primeiro projeto de um ambicioso programa de mobilidade urbana previsto para os próximos quatro anos.
O leilão do empreendimento já está marcado para 28 de novembro e prevê R$ 13 bilhões em obras.
O próximo projeto na fila deverá ser uma PPP das linhas da CPTM 11-Coral (da Luz até Mogi das Cruzes), 12-Safira (do Brás a Poá) e 13-Jade (em Guarulhos).
A ideia é lançar o edital até o fim de 2024, para fazer o leilão até início de 2025, diz ele. “Queremos levar a linha 13 até Bonsucesso, para dentro de Guarulhos. Também vamos estudar a viabilidade da extensão até a Mooca.”
O valor dos investimentos ainda será alvo de avaliação do IFC, do Banco Mundial. O acordo para a estruturação deste e dos demais estudos de mobilidade deverá ser assinado em abril.
Para 2025, o governo planeja lançar uma terceira PPP, que incluirá a linha 10-Turquesa da CPTM (do Brás a Rio Grande da Serra) e um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) de 33 km que será construído desde o zero: a Linha 14-Ônix, que deverá conectar Guarulhos ao ABC Paulista.
“É um projeto importante porque hoje todas as linhas são radiais. A linha 14 é perimetral, então vou de fato melhorar a mobilidade urbana das pessoas, e não expulsá-las para mais longe do centro”, afirma o secretário.
Há ainda uma quarta PPP que a equipe tenta lançar em 2025, de um novo Trem Intercidades. Serão contratados estudos para três possíveis rotas: até Sorocaba, até São José dos Campos e até Santos.
Esta última é mais complexa e ainda terá que provar sua viabilidade. Portanto, a escolha deverá ser feita entre as duas primeiras opções. “No trajeto a Sorocaba existe uma demanda maior, mas a rota de São José tem uma engenharia mais fácil e barata.”
O governo pretende lançar o edital de um dos TICs em 2025, para que o leilão seja feito até o último ano do mandato. O outro projeto ficaria com estudos engatilhados para a próxima gestão.
Para completar a lista de projetos em estudo, a equipe ainda deverá avaliar a possibilidade de PPPs para construir novas linhas do Metrô da capital. Estão em análise a linha 19-Celeste (do centro a Guarulhos) e a linha 20-Rosa (da Lapa a Santo André).
O programa de mobilidade urbana do novo governo é lançado em meio a uma sequência de problemas em torno da nova concessão das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, assumida no início de 2022 pela ViaMobilidade (da CCR e do grupo Ruas) e que, desde então, registrou diversas falhas, acidentes e descarrilamentos.
Segundo Benini, o governo está preocupado e tem cobrado a nova concessionária, porém, ele avalia que há um aprendizado e que novas concessões serão necessárias para ampliar a rede de mobilidade do Estado.
“Estamos preocupados e discutindo estratégias com o Ministério Público para resolver a concessão. Acho que a empresa não se preparou direito para assumir e aprenderam a lição. O Estado também aprendeu a lição, estamos com novos mecanismos para facilitar a transição”, diz ele.
“Podemos até discutir as condições em que linha foi passada. Mas o ponto é que o privado tem capacidade para consertar esses problemas, estamos cobrando. Além disso, quando falamos em projetos como o TIC, o Estado não tem condição de fazer obras desse porte em um prazo curto. Por isso é preciso trazer o privado.”
O volume de investimento previsto em todas essas PPPs de mobilidade ainda dependerá do cálculo do IFC. Porém, Benini destaca que o setor é prioridade no programa de desestatizações. De uma carteira total com R$ 130 bilhões de investimentos estimados, cerca de 50% vêm de projetos de metrôs e trens urbanos.
O governo paulista também trabalha para criar um novo órgão regulador apenas para trilhos, o que deverá ser feito antes do leilão do TIC, em novembro.
“Temos duas opções: ou passamos uma lei para criar uma nova agência de trilhos, ou criamos uma diretoria nova para Artesp [Agência de Transporte do Estado de São Paulo]”, afirma Benini. Atualmente, regulação da mobilidade é feita por uma comissão do governo, mas o objetivo é fazer um órgão independente.
Na avaliação do secretário, um dos principais desafios para tirar o programa do papel será a estruturação das garantias para todos esses projetos, que deverão ser viabilizados como PPPs, em que há contrapartida pública. As garantias são essenciais para dar segurança ao investidor privado e servem como “caução” em caso de inadimplência do Estado.
“As garantias mais fáceis já estão esgotadas com o TIC de Campinas. Agora preciso pensar em novas garantias. O maior risco de os projetos terem que escorregar para a frente está aí”, diz Benini.
A ideia do governo é direcionar uma série de recebíveis do Estado para contas-garantia que apoiem as próximas PPPs. Ele cita como exemplo multas de trânsito, outorgas recebidas de outras concessões ou mesmo dividendos da Sabesp – e, em caso de privatização, as próprias ações que o governo manter na companhia paulista de saneamento poderão ser usadas como fiança. “Estamos trabalhando em diversas frentes. É importante destacar que são apenas garantias, a ideia é não usá-las de fato”, diz.
Além disso, ele tem acompanhado de perto a discussão no governo federal para criar um fundo de garantia da União, que poderá apoiar PPPs estaduais.
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