Novo PAC anima, mas crédito ainda é um desafio

Valor Econômico – O novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), com previsão de R$ 1,7 trilhão em investimentos, está animando o setor siderúrgico. Espera-se maior participação do setor privado nos aportes, que deve responder por R$ 612 bilhões (36%), reduzindo a dependência do orçamento público. Porém, há receio de que as metas fiscais imponham limites aos investimentos públicos, responsáveis por dois terços dos recursos, e de que não seja viável terminar as obras paradas – que são 8,6 mil, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), o equivalente a 41% do total da carteira de obras iniciadas.

“O Novo PAC pode contribuir para destravar investimentos importantes, públicos e privados, com impulsionamento de projetos de infraestrutura, como logística e energia, que terão impacto direto na demanda por aço no Brasil”, diz Gustavo Werneck, CEO da Gerdau. Ele observa que os investimentos no Minha Casa, Minha Vida são parte do eixo que contará com os maiores aportes. Os dois programas, junto com outros de renovação de frota e o avanço das agendas de reformas estruturais, devem impulsionar o negócio da empresa, que atua desde o varejo, nas lojas de materiais de construção, até a indústria e agropecuária.

A possibilidade de investimentos em ferrovias, bem como em estrutura viária, portos, aeroportos, hidrovias, moradias e saneamento básico, é recebida com bons olhos pela companhia, já que deve haver demanda por aço para as obras.

Porém, para o CEO, as incertezas atreladas ao acesso a linhas de crédito e à queda da taxa Selic ainda são desafios. “Vale lembrar que o consumo de aço é indicador antecedente do PIB e, nesse sentido, é importante que haja evolução em ações que visem à melhoria da competitividade da indústria brasileira, para que o setor possa atender integralmente demanda futura de aço proveniente dos projetos do Novo PAC”, diz Werneck.

Para Jefferson De Paula, presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração Latam, um dos desafios é garantir o financiamento adequado para os projetos. Existe ainda preocupação com a competitividade das siderúrgicas brasileiras. “Há um elevado excesso de capacidade de aço no mundo [564 milhões toneladas]. A retração do mercado global e a manutenção das capacidades produtivas elevam o risco do aumento significativo da entrada do material importado no país. Além disso, os produtos siderúrgicos são alvo de inúmeras medidas de defesa comercial em diversos países, deixando o Brasil ainda mais exposto”, diz.

Em 2022, a construção civil respondeu por 38,9% da demanda de aço. De Paula destaca que os lançamentos do PAC e do Minha Casa, Minha Vida, em 2007 e 2009, respectivamente, contribuíram para um crescimento médio anual de consumo aparente de aço no setor da construção civil de cerca de 8% entre 2007 e 2013. Historicamente, o Brasil investe menos de 1% do PIB em infraestrutura, o que mostra o grande potencial de crescimento. “O aço está diretamente associado ao crescimento do PIB e vemos muita oportunidade de avançar nesse indicador. O novo marco do saneamento, por exemplo, representa um avanço e vai alavancar o consumo de aço”, prevê De Paula.

Os eixos cidades sustentáveis e resilientes (R$ 610 bilhões), transporte eficiente (R$ 349 bilhões) e transição e segurança energética (R$ 540 bilhões) são os maiores em termos de recursos e envolvem diretamente a siderurgia, com destaque para parcerias público-privadas (PPPs). “Os dois primeiros movimentam o setor automobilístico, bens de capital e construção civil, representando 82,5% da demanda de aço em 2022. Além disso, as PPPs contribuem, historicamente, para impulsionar a infraestrutura no país. Já os investimentos em transição e segurança energética mostram um compromisso com a transição para fontes de energia sustentáveis “, diz De Paula.

Para Adriano Correia, sócio-líder de energia e serviços de utilidades públicas da PwC Brasil, se o país quiser exportar nas mesmas condições que as demais nações, tem de acelerar os investimentos em transição energética para reduzir as emissões e pegadas de carbono dos produtos brasileiros. “Isso requer investimentos em linhas de transmissão, transporte, portos e construção. Pela urgência do tema, temos visto o governo se aproximando mais do setor privado num modelo de PPPs”, analisa.

Patrícia Seoane, sócia da PwC Brasil responsável pela vertical de siderurgia, diz que, em no ano passado, 23% da demanda de aço vieram do setor automotivo, e 21,6%, de bens de capital, máquinas e equipamentos. “Há uma demanda maior por máquinas e equipamentos quando se fortalecem os investimentos em infraestrutura e, por consequência, cresce a demanda por aço. A transição energética gera o aumento do consumo do aço devido aos investimentos em parques eólicos e fotovoltaicos.”

Fonte: https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/siderurgia/noticia/2023/09/26/novo-pac-anima-mas-credito-ainda-e-um-desafio.ghtml

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