Valor Econômico – Os projetos de combustíveis sustentáveis que ainda não têm viabilidade econômica sem algum tipo de incentivo precisam de apoio de instituições de fomento para que o Brasil se mantenha na liderança global da transição energética. Essa é a avaliação de Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES.
Costa, que participou do Brazil Climate Summit 2024 nesta quarta-feira (18) em Nova York, destacou que o Brasil está muito mais avançado em termos de transição energética em comparação com outros países. Segundo ela, o Brasil conseguiu expandir significativamente as fontes eólica e solar, e apenas 18% das emissões nacionais são provenientes do setor de energia, enquanto no restante do mundo essa média ultrapassa 70%.
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Entretanto, novas tecnologias surgem como solução para descarbonização de setores intensivos em energia, mas dependem de mecanismos para reduzir o custo total de produção, mesmo com uma matriz energética majoritariamente renovável. Costa acredita na atuação do banco, por meio do Fundo Clima, como indutor de tecnologias sustentáveis no país, até que o setor privado ajude a escalar os projetos.
“A gente precisa fomentar investimentos que ainda não são economicamente viáveis sem algum tipo de incentivo, sem algum tipo de precificação de carbono (…) E sem o carbono nesta equação, as novas tecnologias, como hidrogênio verde, combustível sustentável de avião (SAF), biobunker [combustível sustentável feito a partir de biomassa] e biometano não são necessariamente viáveis”, afirma.
A demanda por fertilizante verde, metanol e aço sustentável, por exemplo, deve destratar investimentos em hidrogênio verde em substituição do gás. Entretanto, este é um energético que não tem escala de produção e o custo de tecnologia é alto. “Existem projetos de hidrogênio verde experimentais e vai demorar um pouco ainda porque não há um projeto fechado já que tomou a decisão de investimento.”
Neste foco de novas rotas tecnológicas, outra aposta do banco é o SAF, apontado como principal instrumento de descarbonização do setor de aviação. A executiva aposta que o BNDES é quem vai financiar a construção dos grandes hubs de hidrogênio verde no Brasil, já que é um tipo de investimento que envolve riscos e, para escalar, precisará de dinheiro de fomento.
Para especialistas e empresários reunidos no Brazil Climate Summit 2024, o Brasil tem potencial para liderar o mercado e se consolidar como um importante hub internacional na produção de combustível sustentável de aviação.
João Auler, diretor administrativo e chefe de infraestrutura e recursos naturais do UBS Brasil, usa o exemplo do setor de energia solar no Brasil, que devido a uma forte política pública baseada em subsídios, é uma das fontes que mais crescem na matriz elétrica e com custos cada vez menores.
Entretanto, Pedro de La Fuente, gerente sênior de Assuntos Externos e Sustentabilidade da IATA Américas, afirma que tanto o Brasil quanto o mundo necessitam de políticas específicas para impulsionar essa indústria emergente. No entanto, ele alerta que o mercado não pode depender exclusivamente de subsídios, considerando a limitação de recursos do governo.
Infraestrutura
Os impactos das mudanças climáticas, como escalar o financiamento para adaptação e construir cidades resilientes, e o desafio de adaptação também foram temas do Brazil Climate Summit 2024.
A diretora-executiva do Centro Brasileiro de Justiça Climática, Andréia Coutinho, fala em “justiça climática” para mostrar que são as populações mais pobres e vulneráveis que são as primeiras atingidas.
“Existem cerca de 8 milhões de pessoas vivendo em áreas de risco no Brasil, que sabem que estão em risco de vida. Então a adaptação é chave (…). Precisamos de uma ação coordenada com governo, sociedade, imprensa, entre outros para criar uma rede e uma nova mentalidade sobre como as cidades podem ser sustentáveis”, frisa
A cientista e pesquisadora sênior do Columbia Earth Institute Cynthia Rosenzweig defende que as cidades estão na linha de frente dos desastres climáticos e sugere criar ações nas cidades para mudança de mentalidade sobre as mudanças climáticas, promover sistemas de alerta e avaliações de risco e criar ferramentas de monitoramento.
As fortes chuvas que mataram dezenas de pessoas no Rio Grande do Sul, o apagão em cidades da região metropolitana de São Paulo e do Rio no fim de 2023 ou deslizamentos causados por ocupação irregular em períodos úmidos são exemplos que evidenciam quão frágeis são as cidades brasileiras e despreparadas para eventos cada vez mais extremos.
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