Valor Econômico – Planejada para cortar área de floresta, em grande parte já degradada, e levar carga de soja e milho de Mato Grosso até a hidrovia rio Tapajós (PA), de onde seguirá pelo rio Amazonas antes de ganhar o Atlântico, a Ferrogrão precisará não só minimizar e reparar os impactos da construção, mas oferecer oportunidades de desenvolver a economia local de forma sustentável, atenta às demandas da população local e de setores produtivos, além do agronegócio.
Essa é a visão da ex-ministra do Meio Ambiente e integrante do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ONU), Izabella Teixeira, sobre a ferrovia na Amazônia orçada em R$ 20 bilhões.
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A ex-ministra considera que o Brasil, apesar de contar com legislação que garante proteção das florestas e aos povos originários, precisa discutir o papel de cada empreendimento dentro do contexto socioeconômico da Amazônia.
No caso da Ferrogrão, Teixeira lembra que o projeto nasceu com a estratégia de tornar a agricultura brasileira mais competitiva. Agora, uma década depois, ressalta, novas demandas surgiram.
“Assim como a discussão pautada no interesse público escolheu exportar a produção agrícola passando pela Amazônia, hoje também seria legítimo ter a primeira ferrovia que transporta carga 100% rastreável da ‘nova agricultura’ – orientada pela descarbonização e altamente competitiva e tecnológica, comprovada por essa rastreabilidade”, afirma a ex-ministra.
Para ela, a Ferrogrão pode ser uma referência de projeto integrado à nova dinâmica econômica proposta para a região. “Dá para fazer um entreposto, junto com a BR-163, para conectar esse ramal logístico aos novos territórios de produtos da bioeconomia, porque o custo da logística na Amazônia é absurdo”, diz.
A ex-ministra avalia que as demandas mais urgentes para o transporte na Amazônia ainda estão relacionadas às hidrovias, que contam com sistema de navegação precário. A situação, segundo ela, tem se agravado com problemas de segurança pública relacionados ao crescimento do crime organizado. É comum o relato de institutos que deixaram de fazer pesquisas científicas à noite devido ao risco de abordagem por criminosos.
“Precisamos discutir o Brasil e isso passa por discutir os problemas da Amazônia. Por lá, a ilegalidade não tem barreiras e o que está na legalidade tem que funcionar de maneira muito eficiente, com produtividade, competitividade e escala, capaz de gerar renda, inclusão social, reduzir vulnerabilidades.”
Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/09/09/ferrovia-deve-desenvolver-economia-local.ghtml
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