Valor Econômico – O futuro presidente da Vale, Gustavo Pimenta, tem priorizado uma série de contatos institucionais com governadores e integrantes do governo federal desde que foi eleito, por unanimidade, em 26 de agosto, para substituir o atual CEO, Eduardo Bartolomeo.
Pimenta, que é vice-presidente financeiro da mineradora, já se reuniu com os governadores do Pará, Helder Barbalho, e do Espírito Santo, Renato Casagrande, e começou a cumprir uma agenda com autoridades de Brasília. Esteve, por exemplo, com o ministro dos Transportes, Renan Filho.
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O encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva só deve ocorrer após Pimenta assumir o cargo, que deve ser antecipado em relação ao cronograma sucessório, que previa a posse em 1º de janeiro de 2025. O conselho da empresa estuda adiantar a posse, apurou o Valor com fontes do colegiado. Procurada, a Vale não comenta.
Pimenta já busca, inclusive, nomes para ocupar a vaga de CFO. Esse nome deverá ter o apoio do colegiado. Fontes ligadas aos acionistas afirmam, sob reserva, que o futuro CEO deverá trocar também importantes cadeiras do alto escalão. Pessoas ligadas ao conselho, contudo, disseram que o assunto ainda não está em discussão, mas entendem que o novo presidente tem aval para formar sua equipe.
Os contatos de Pimenta com autoridades nas diferentes esferas de governo se dão dentro de uma lógica de que a Vale precisa estreitar relações com os diferentes públicos de interesse (“stakeholders”).
No conturbado processo sucessório do CEO da mineradora, surgiram críticas a Bartolomeo pelo fato de o executivo não dialogar mais com o governo, versão que pessoas próximas a ele sempre negaram. Depois da eleição de Pimenta, Bartolomeo tirou uns dias de férias, mas continua conduzindo a transição junto com o colegiado e Pimenta, com apoio da consultoria Russell Reynolds, que atuou na seleção do novo CEO.
O Valor apurou que Pimenta está envolvido em duas negociações importantes para a Vale e para o governo: um acordo definitivo sobre a tragédia de Mariana (MG), ocorrida em 2015, e a renovação das concessões ferroviárias da mineradora. Ainda como CFO, Pimenta tem aproveitado agendas sobre esses temas para estreitar canais com governadores e ministros.
No governo, há expectativa de que o acordo de Mariana traga algo como R$ 100 bilhões em dinheiro novo. A conta final, seja ela qual for, será repartida entre Vale e BHP Billiton, sócias da Samarco, que por sua vez é a dona da barragem que se rompeu há quase nove anos causando a morte de 19 pessoas e provocando um dos maiores desastres socioambientais do país.
No sábado (14), a Vale informou ao mercado que identificou, após inspeção rotineira, trincas superficiais na barragem Forquilha III em Ouro Preto (MG). A companhia observou que as condições de estabilidade da estrutura seguem inalteradas e que está executando um plano de ação para investigação e correções, conforme necessário. A barragem Forquilha III está em nível de emergência 3.
A agenda de Pimenta a curto prazo também deve envolver encontros com os governadores Romeu Zema, de Minas Gerais, e Cláudio Castro, do Rio. Outro Estado importante para a Vale é o Maranhão, por onde escoa o minério de ferro de Carajás (PA).
A relação da Vale com os Estados onde atua é historicamente tensa. Prefeitos e governadores nunca parecem satisfeitos com os investimentos e compensações feitas pela empresa. Maranhão e Pará são exemplos. Este ano a Secretaria de Meio Ambiente do Pará suspendeu licença de operação de mina da Vale no Estado. A medida foi vista à época como pressão sobre a empresa em meio ao processo sucessório, no qual o Planalto tentou indicar nomes, sem sucesso.
Na visão de interlocutores que acompanharam a sucessão na Vale, Pimenta saiu “blindado” ao ser eleito por unanimidade pelo conselho de administração em 26 de agosto. Mas a estratégia sucessória prevê que o executivo vá se “assenhorando” da situação, sem se expor, até que se considere a hora certa para a posse em uma articulação que deve envolver toda a alta administração da empresa (conselho e comitê-executivo, instância em que ficam os vice-presidentes).
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