A Rumo Logística, controlada pelo grupo Cosan, vai apostar
em uma campanha que ressalta os benefícios do agronegócio e do modal
ferroviário para conquistar apoio na renovação da concessão da Malha Paulista,
que vence em 2028. A empresa negocia essa extensão por mais 30 anos, mas ainda
esbarra no esmiuçamento de exigências, principalmente do Tribunal de Contas da
União (TCU).
“É a primeira vez que temos uma renovação do segmento no país,
e desse porte”, afirma Julio Fontana, presidente da empresa. “Por isso estamos
enfrentando um escrutínio até maior do que o normal.”
A ideia da companhia é investir R$ 5 bilhões adicionais na
linha, que vai do porto de Santos até a fronteira com o Mato Grosso do Sul
atualmente, para reabrir antigos ramais, aumentar a eficiência para receber
cargas adicionais do Centro-Oeste e melhorar o acesso à Baixada Santista, entre
outras medidas. Nos cálculos da empresa de logística, a capacidade de
transporte sobe de 30 milhões de toneladas para 75 milhões de toneladas por
ano.
“Queremos renovar a concessão com o poder público porque em
nosso plano de investimentos, gastaríamos até 2023 a 2024”, comenta Guilherme
Penin, diretor regulatório e de assuntos institucionais. “Até 2028, seriam
quatro anos para usufruir dos benefícios dos investimentos. Não é possível
amortizar um investimento desses em apenas quatro anos.”
Fontana disse, antes do lançamento da campanha hoje, que
trabalha com uma data limite de fevereiro de 2018 para que uma resolução sobre
a extensão ou não do contrato seja alcançada — é quando o governo pretende
leiloar a operação da ferrovia Norte-Sul. Sem o ramal da Malha Paulista até
Estrela d’Oeste (SP), a viabilidade da linha se reduziria.
A Rumo quer preparar a Malha Paulista, ainda de capacidade
muito regional, para receber esses volumes da Norte-Sul, além das cargas que
chegam pela ponta de Rondonópolis (MS). De 2000 ao ano passado, o aumento de
carga recebida pela Malha Paulista foi de 1,5 milhão de toneladas, em média,
por ano. O objetivo é receber, até 2023, o quíntuplo desse aumento, 7,5 milhões
de toneladas a mais por ano.
Entre os benefícios que afirma poderia trazer ao país, está
a prioridade ao modal ferroviário, menos poluente e potencialmente mais
eficiente. A companhia pretende levar 70% das cargas ao porto de Santos, contra
30% atualmente. A geração de empregos diretos e indiretos poderia chegar a 30
mil e o ganho no Produto Interno Bruto (PIB) chegaria a R$ 12,3 bilhões,
calcula.
R$ 6 bilhões
Desde a fusão com a ALL, a Rumo Logística já investiu R$ 4,9
bilhões, principalmente em melhoria das vias e na compra de novas locomotivas e
vagões. Até o fim 2017, segundo Fontana, esse montante vai totalizar R$ 6
bilhões, em um período de quase dois anos e meio.
“Encontramos um material rodante em péssima condição, más
condições das vias em si, uma limitação da capacidade, endividamento muito alto
[em 6,6 vezes o Ebitda]”, comentou o executivo em entrevista coletiva. “Estamos
ganhando eficiência em vários trechos. Acho que em proporção do resultado a
Rumo é uma das empresas que mais investiram durante o momento atual do país.”
Um dos exemplos dados por Fontana foi a revitalização da
Portofer, trecho que atende o porto de Santos. Para a operadora da linha do
porto, a Rumo tem orçamento de R$ 150 milhões só para alterações do aparelho de
mudança de via dos trilhos. Atualmente, essa troca é feita manualmente, mas a
ideia é que ela seja controlada de forma remota, com aparelhos elétricos.
O executivo também citou os gastos da Rumo para construir
novos pátios para suas locomotivas e vagões. A empresa está trocando seus trens
de 80 vagões para novos de 120 vagões. A construção dos novos pátios deve durar
até 2020.
Sobre a oferta subsequente de ações realizada este mês pela
Rumo, responsável por levantar R$ 2,6 bilhões, Fontana comemorou a aceitação
dos investidores. “Tivemos dez vezes a demanda frente ao que oferecemos e
precisávamos”, disse. “Isso mostra que o mercado confia agora na companhia.”
‘Obrigação’
A Rumo afirmou também que analisa “por obrigação” a
possibilidade de participar da licitação para operar as novas ferrovias em
construção no país, a Ferrogrão e a Norte-Sul.
Os dados tornados públicos pelo governo, entretanto, parecem
trazer algumas dificuldades para que a empresa esteja presente nos projetos. Um
dos principais pontos é o da demanda estimada pelo governo nas consultas
públicas.
“Principalmente na questão econômico-financeira dos
projetos, nós temos uma dúvida de que gerará retornos adequados”, afirmou
Fontana. “O problema também é que a cada hora sai uma nova atualização a
respeito dos números. Precisamos de maior consistência.”
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