A resistência das grandes construtoras em entrar como investidoras nos consórcios que disputarão o trem-bala é um dos principais fatores que motivou o adiamento do leilão, que deve ser confirmado hoje, revelou uma fonte do setor. Segundo ela, esse é o principal obstáculo à formação dos grupos empresariais, pois as grandes empreiteiras querem apenas “lucrar” com a execução das obras sem correr riscos, apesar de o investimento de maior peso no empreendimento ser o de engenharia civil.
A maior dificuldade de diálogo é com os asiáticos, que não aceitam a estratégia que as empresas brasileiras querem: entrar com participação minoritária no consórcio, mas com poder de comando. “As empresas brasileiras querem entrar com apenas 5% de participação no projeto, mas querem mandar, fazer tudo do jeito delas”, revelou a fonte.
O cenário ficou ruim para os coreanos. Desde a saída do grupo Bertin, antes do primeiro adiamento, em novembro, eles não conseguiram outra empreiteira para substituí-la. Diante do cenário de novo adiamento, o grupo já sofre abalos. Segundo a fonte, alguns participantes começam a perder confiança na licitação.
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As empresas europeias declaram que sua participação será minoritária, caso fechem parceria com algum consórcio para disputar a licitação. “Esse é um projeto em que o material rodante tem peso de 8% no projeto completo. Na verdade, quem comanda esse projeto são as grandes construtoras. Nós, como detentores de tecnologia, vamos adquirir participação minoritária”, ressaltou Ricardo Sanchez, diretor comercial da fabricante espanhola CAF no Brasil. “Se você pegar todas as empresas de tecnologia, o valor do projeto é maior que o faturamento de todas elas”, comparou.
João Constatino Meireles, diretor do Departamento de Desenvolvimento de Mercado da espanhola Talgo, apesar de ter anunciado que a participação da empresa no empreendimento só ocorreria se houvesse mais prazo, deixou claro que não compete à empresa fazer a solicitação.
Tanto que o pedido de adiamento da empresa para o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, foi apenas verbal. “Não compete a nós pedir nem adiamento. É mais um projeto de engenharia civil do que de material rodante. Somos muito pequenos nesse projeto”, ressaltou.
Outro motivo do adiamento é a viagem da presidente Dilma Rousseff à China no dia 11, exatamente quando ocorreria o leilão. Apesar de os chineses terem declarado à ANTT que querem participar do trem-bala apenas como fornecedores ou construtores, Figueiredo admitiu que a visita de Dilma à China pode reverter esse quadro.
Para entender
Pedidos de atraso marcam o projeto
No fim de novembro, diante do risco de ter apenas um concorrente, os coreanos, na disputa pelo projeto, orçado em mais de R$ 33 bilhões, a ANTT adiou o leilão do trem-bala de 16 de dezembro para 11 de abril.
A ANTT disse, na ocasião, que quatro grupos de empresas fizeram “manifestações concretas e objetivas” de que iriam participar da licitação.
As pressões para o governo desistir de realizar a licitação partiram tanto das empresas estrangeiras, que detêm a tecnologia de fabricação, quanto de entidades empresariais, como a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer). Muitas empresas preferiam aguardar o resultado das eleições, já que o candidato José Serra (PSDB) era contra o TAV.
Quatro meses depois, a história se repete. A ANTT recebeu três pedidos formais de adiamento: um da francesa Alstom, fornecedora de equipamentos, um da Ad-Trem, que agrega os fabricantes de trens e outro da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer). A espanhola Talgo fez o pedido à agência e os coreanos enviaram um documento solicitando alteração de alguns pontos no edital.
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