Os desafios no mercado de transportes no Brasil são gigantescos. Para recuperar o atraso do setor, a necessidade é de R$ 30 bilhões em investimentos. Boa parte desses recursos é nos sistemas metroferroviários. Trens, trilhos, infra-estrutura e todas as soluções em tecnologia que possam ampliar a eficiência, a segurança e o tamanho dos 30 mil quilômetros de ferrovias brasileiras, algo 12 vezes menor do que a malha dos Estados Unidos. Um dos principais insumos para incrementar esse desenvolvimento é a formação de profissionais capacitados com o estado-da-arte no setor. O Brasil formou e continua a formar bons técnicos em suas escolas de Engenharia. Agora, precisa de gerentes hábeis a lidar com o novo panorama do setor. Conhecimentos em finanças, em liderança e na gestão de obras multidisciplinares e de contratos de longa duração são alguns dos pré-requisitos indispensáveis ao aperfeiçoamento de uma indústria latino-americana capaz de enfrentar a concorrência internacional.
Se a boa execução de um programa de ensino exige a participação de universidades, a iniciativa não teria valor sem a parceria com o setor privado. Qualquer dormente em uma ferrovia foi planejado, construído e instalado por empresas. A vida real desses empreendimentos — com as naturais exigências de prazos exíguos, de custos no limite e de qualidade assegurada — é o fator determinante na formação de um profissional habilitado a enfrentar a nova realidade do setor de transportes no mundo e no Brasil.
Em termos financeiros, já há boas notícias. As concessionárias de ferrovias investiram em 2004 a bagatela de R$ 2 bilhões, algo inimaginável antes do processo de privatização. A ampliação das linhas de metrô em várias capitais brasileiras também é um bom exemplo do arrojo que se inicia no setor público.
Para enfrentar essa realidade, é essencial a formação de líderes altamente qualificados, inclusive na indústria fornecedora. Basta imaginar o grau de gestão, tecnológica e financeira, que as 16 mil passagens de nível necessárias à malha ferroviária brasileira — ou o anel ferroviário em torno da Grande São Paulo, bem como as novas linhas e extensões para o transporte sobre trilhos e passageiros — vão demandar dos líderes de projetos.
A Alstom é um exemplo dessa tendência. No passado, essencialmente dedicado ao desenvolvimento e à comercialização de material rodante, a empresa desenvolveu sua oferta em outras áreas do setor ferroviário: infra-estrutura, sinalização, sistemas de mudança de via, renovação e comercialização de peças isoladas. Hoje, essa parte das atividades responde por mais de 40% da receita da companhia. Para que isso fosse realizado a contento, foi preciso organizar a transferência de conhecimento no setor técnico. A complexidade é grande. A Asltom teve de avaliar as competências de 755 engenheiros em especialidades, tais como compatibilidade eletromagnética, desenvolvimento de sistemas pendulares, ruído e vibrações. Divididos em 500 especialistas, esses profissionais foram encarregados de transmitir seus conhecimentos por meio de programas educativos.
Na Ásia, o mercado de transportes mais promissor do mundo, essa corrida pela formação já começou. A cidade de Xangai, na China, foi escolhida no final do ano passado para abrigar o PeopleQuest, uma universidade itinerante para formação de líderes no segmento, patrocinada pela Alstom.
Não é à toa que o Brasil foi escolhido como o segundo mercado a abrigar o programa, no primeiro semestre deste ano, na cidade do Rio de Janeiro. Cerca de 80 lideranças da empresa e de renomadas universidades da América do Sul foram escolhidas para participar do campus itinerante com o ambicioso desafio de formar uma equipe de excelência na liderança de projetos em transporte metroferroviário.
A aposta no talento latino-americano não é casual. Hoje, fábricas brasileiras já exportam inclusive para o mercado dos Estados Unidos. A América do Sul tem a capacidade de se tran
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