Estadão (Artigo) – Sou apaixonado por bicicletas desde a infância. Sempre que posso escolher entre ir pedalando ou dirigindo, escolho o pedal. Leio tudo o que vejo sobre bicicletas, incluindo o caderno Mobilidade, do Estadão. Há cerca de 40 milhões de bicicletas no Brasil e 60 milhões de carros. Mas o uso das bicicletas, apesar do aumento dos últimos anos, é baixo: a estimativa é de que apenas 1% das viagens seja feito por elas.
A China é campeã mundial em número de bicicletas, com 500 milhões, seguida pelos Estados Unidos, com 120 milhões, e o Brasil está em quinto lugar, com 40 milhões. A Holanda, campeã mundial em número de bicicletas por habitante, tem 0,99; a Dinamarca, 0,81; a Alemanha, 0,75; e o Brasil, 0,19 bicicleta por habitante. Esse número pode aumentar muito.
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O potencial de crescimento de seu uso é elevado e as vantagens são consideráveis. O custo de uma bicicleta é 50 vezes menor que o de um carro popular. Ela ocupa menos espaço nas ruas e nos estacionamentos. Seu uso é mais barato e é bom para a saúde dos seus usuários e a do planeta. A bicicleta é mais democrática.
A infraestrutura para bicicletas melhorou nos últimos anos. O Código de Trânsito tem o que é necessário: no artigo 58, diz que a circulação de bicicletas deve ocorrer nos bordos da pista de rolamento, com preferência sobre os veículos automotores; e no artigo 201 diz que é infração deixar de guardar a distância de 1,5 metro ao passar ou ultrapassar bicicletas. Nunca li uma notícia sobre algum motorista sendo multado por isso – algo que pode ser corrigido.
É importante que seja respeitado. As manchetes do caderno Mobilidade em 17 de maio: Dados apontam que o Estado de São Paulo tem quase uma morte de ciclista por dia e Bicicletas respondem por menos de 1% das viagens e 5% das mortes. São números que assustam.
A probabilidade de morrer andando de bicicleta é cinco vezes maior do que a de morrer andando de carro. Pedalando há décadas, uma visão pessoal da alta mortalidade nacional é de que uma minoria de motoristas ou não sabe, ou não presta atenção, ou se sente incomodada com as bicicletas, e tira finas que podem ser letais – e, às vezes, são de fato.
Até em ruas com mais de uma faixa livre e sem trânsito, passam perto demais das bicicletas. A grande maioria respeita. Mas existe uma pequena minoria que derruba. Já fui derrubado mais de uma vez por finas. Um ponto positivo é que todas as vezes que isso me aconteceu outros motoristas pararam para me atender. A questão é o que fazer para que essa minoria fique menos perigosa.
Estudos apontam que nos países onde há um uso proporcional maior de bicicletas a mortalidade de ciclistas é menor. Os motoristas passam a ter uma percepção maior dos benefícios das bicicletas compartilhando as ruas e da fragilidade dos ciclistas em relação aos carros.
A questão central é que as cidades brasileiras foram desenvolvidas só para carros. As bicicletas são, em certo sentido, intrusas. Estão ocupando um espaço maior, mas bem aquém do potencial. Falta uma concepção de cidades em que carros e bicicletas compartilhem as ruas em condição de igualdade e de medidas para isso.
Um exemplo é a velocidade máxima nas ruas. Na Holanda, 70% das ruas têm velocidade máxima de 30 km/hora. Outra medida pode ser, quando possível, alargar a faixa da direita das ruas. É por onde as bicicletas circulam, mas é também onde fica a canaleta de águas, tornando sua utilização mais estreita do que as demais.
O uso de bicicletas está aumentando, especialmente entre os mais jovens, mas ainda num ritmo lento. Uma nova concepção das cidades brasileiras, com carros e bicicletas compartilhando as ruas amigavelmente, é necessária. É uma lacuna que pode e deve ser preenchida.
Mudando a concepção, aumentará a proporção de bicicletas sobre carros, diminuirão a poluição e os congestionamentos. Na contramão do que poderia ser feito, está sendo anunciado um programa para colocar mais carros populares nas ruas. É insistir em mais do mesmo. A alternativa de mais bicicletas custa menos e traz mais bem-estar ao País.
*Roberto Luis Troster
Fonte: https://www.estadao.com.br/opiniao/espaco-aberto/numeros-sobre-mobilidade/
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