Porta aberta para o mundo

O Espírito Santo soube tirar proveito da sua localização estratégica para se transformar numa potência logística. Com 415 quilômetros de costa, desenvolveu o maior e o mais diversificado complexo portuário do país. Além da produção local, os sete portos capixabas – Vitória, Vila Velha, Tubarão, Portocel, Praia Mole, Ubu e Regência – escoam boa parte da produção de Minas Gerais e Goiás e recebem mercadorias importadas para várias regiões do país. Por eles, saem 30% do volume de tudo o que o Brasil exporta.


Com a grande movimentação de empresas em função do crescimento do comércio internacional- principalmente de commodities, como minério de ferro, aço e celulose – e as boas perspectivas na exploração de petróleo da camada pré-sal, o segmento portuário promete ganhar novo fôlego. E agregar oportunidades de negócios para fornecedores capixabas.


Nesta década, o Espírito Santo poderá ganhar outros portos. Só o município de Aracruz, a 80 quilômetros da capital Vitória, deve receber dois novos terminais, ambos em Barra do Riacho, próximos ao Portocel, que é dedicado às exportações de celulose.


Um deles será construído pela Nutripetro, empresa do grupo Ambitec, que planeja investir R$ 900 milhões em píeres de atracação e terminais de contêineres, grãos, granéis sólidos e líquidos, carga geral, produtos siderúrgicos, embarque e desembarque de automóveis e atender às bases de exploração de petróleo. o projeto do porto, que terá nove berços e calado de 14 metros de profundidade, está em fase final de elaboração pela consultoria paulista Macrologística, segundo a qual o porto atingirá sua capacidade máxima em 2030. O retroporto multimodal, como foi batizada pela Nutripetro a área de infraestrutura de estocagem para atender às empresas exportadoras e importadoras, está em construção e deve começar a operar como porto seco em 2013.


O outro terminal portuário de Aracruz será construído pela capixaba Imetame Metalmecânica para dar suporte às plataformas de extração de petróleo e gás da Petrobras e deve iniciar suas operações em 2014. O projeto ocupará uma área de 200 mil metros quadrados e exigirá investimentos de R$ 200 milhões.


Portos dedicados ao escoamento da produção de grandes empresas de mineração e siderurgia também podem sair do papel nos próximos anos. É o caso do porto previsto pela Vale para escoar a produção da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), que a companhia deve inaugurar em 2014, em Anchieta, litoral sul.


A mineira Ferrous planeja um porto em Presidente Kennedy, extremo sul do Estado, para escoar minério de ferro.


Ainda há o projeto de um porto de águas profundas, que vem sendo chamado “superpor to de contêineres”, em fase de estudo de viabilidade econômica, financeira e ambiental dentro do Plano Estratégico de Logística e Transportes (Peites). Segundo a Secretaria de Desenvolvimento do Espírito Santo, o projeto vai exigir investimentos de R$ 800 milhões e poderá significar um salto na movimentação de contêineres no Estado, passando dos atuais 300 mil para 1,2 milhão ao ano.


“Os impostos arrecadados, que somam hoje R$ 6,6 bilhões, podem ser mais do que duplicados”, diz o secretário de Desenvolvimento, Márcio FeJix. “O Brasil não possui um porto de águas profundas para contêineres, com profundidade de 16 a 23 metros, que atenda aos grandes navios porta contêineres denominados post-Panamax.”


Os estudos preliminares, que envolvem consultas ao empresariado do Estado, tentam definir qual a melhor área para sua localização: Praia Mole, ao lado de Tubarão na Grande Vitória; Ubu, no litoral sul; ou Barra do Riacho, ao norte.


Para o engenheiro Renato Casal i Pavan, sócio da Macrologística, o novo porto da Nutripetro será a solução a curto prazo para a expansão das atividades portuárias. “A longo prazo, se resolvido o problema do alto investimento, das questões ambientais e dos acessos rodoferroviários, pode atender a navios maiores”, afirma. “O porto planejado para ser construído próximo a Tubarão (super porto) pode contribuir para o aumento da demanda futura de cargas especiais.”


Enquanto os novos terminais não chegam, a obra portuária mais esperada é a ampliação do porto de Vitória. Prevista no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), a obra exigirá investimentos de R$ 225 milhões e será feita em duas etapas: a primeira, programada para começar neste ano e ser concluída em 2011, é a derrocagem e dragagem do canal do porto, que vai possibilitar o aumento da profundidade do canal de 12 para 14 metros, permitindo receber navios de maior calado.


A segunda fase, ainda dependendo de licença ambiental, será a ampliação do cais comercial de 16 mil para 30 mil metros quadrados. “Estimamos um incremento de 30% na capacidade geral do porto”, afirma Angelo Baptista, diretor presidente da empresa pública Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), administradora do porto, que movimenta 7,5 milhões de toneladas por ano de granéis líquidos, granéis sólidos, contêineres e veículos. “Depois, vamos poder atender à crescente demanda da indústria offshore para o petróleo e gás, que hoje atendemos precariamente.”


Baptista defende a construção do super porto para contêineres, alegando que, sem essa solução, o Espírito Santo ficará alijado da rota do transporte de longo curso de navios post-Panamax. “A economia do Espírito Santo precisa disso, porque está crescendo e se diversificando cada vez mais”, diz. “Temos de ter visão de futuro, de longuíssimo prazo”, diz Cláudio Loureiro, diretor de portos e institucional da Login Logística lntermodal, empresa que administra o Terminal de Vila Velha (TVV), no cais Capuaba.


Queremos participar do novo porto, quando ele chegar. Mas temos de colocar a coisa no devido tempo e no espaço. Pelo estudo que fizemos, o mercado do Espírito Santo só vai atingir a nossa nova capacidade de contêineres de 550 mil TEUS daqui a 15 anos.”


A Log-ln opera com 200 mil TEUs por ano e passará a ter capacidade operacional para 550 mil TEUs neste ano com a chegada de dois novos portêineres, No fim de 2009, a empresa obteve do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiamento de R$ 22,5 milhões para as obras de expansão do TVV. No total, o TVV investiu R$ 65 milhões em melhorias entre 2007 e 2010.


O grande potencial logístico do Espírito Santo traz boas oportunidades de negócios para empresas que operam no segmento. Uma das principais empresas de logística do país, a Tegma Gestão Logística obteve a maior receita líquida de sua história no ano passado, de R$ 1,13 bilhão, resultado 15,9% superior ao do ano anterior, e atribui parte dele ao Estado capixaba.


“O Espírito Santo representou e ainda representa para a Tegma a possibilidade de diversificar seus negócios, e efetivamente contribuiu para a construção do novo direcionamento estratégico da companhia de ser um integrador logístico”, afirma Gennaro Oddone, diretor-presidente, que opera o maior porto seco do Brasil em Cariacica, na região metropolitana de Vitória. Apenas no seu centro de distribuição capixaba, a empresa fez investimentos de mais de R$ 25 milhões em infraestrutura e sistemas.


“Temos um grande potencial no Estado, mas infelizmente a infraestrutura logística depende muito do governo federal, tanto em projetos quanto em investimentos que não saem. Isso tem travado negócios”, afirma Wagner Chieppe, diretor de relações corporativas do Grupo Águia Branca, que atua nas áreas de transporte e logística e é a terceira maior companhia do Espírito Santo. O grupo, que fez investimentos de R$ 332 milhões no ano passado, projeta para 2010 uma receita bruta de R$ 3 bilhões, 25% a mais.


Com a autoridade de uma empresa que transportou 29 milhões de toneladas de carga e mais de 223 mil veículos em 2009, o diretor do Águia Branca diz que a falta de investimentos nas principais estradas, a BR-101 e a BR-262, por exemplo, reflete em perda

Fonte: Valor Especial

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