O economista Tito Botelho Martins, presidente da Inco, subsidiária da Vale no Canadá, vai substituir Roger Agnelli na presidência da Vale, segundo a Folha apurou. O Bradesco, um dos acionistas da Vale, deve fazer até sexta-feira um comunicado anunciando a indicação.
Formado pela Universidade Federal de Minas, Martins, 47, acumula desde 2009 a presidência da Inco com o cargo de diretor de operações e metais básicos da Vale. Como Agnelli, ele foi indicado para a presidência da Vale por Lázaro de Melo Brandão, presidente do conselho de administração do Bradesco. O banco detém 17,1% das ações da Valepar, a controladora da Vale. Pesou na escolha a habilidade de Martins para lidar com o governo e com situações de crise -foi ele que conseguiu pôr fim a uma das greves mais duras já enfrentadas pela Vale, feita por mineradores canadenses.
Martins deve enfrentar uma negociação delicada com o Congresso e com o governo nos próximos meses -há projetos de lei prevendo a taxação dos minérios exportados. Hoje há isentos de impostos. Sua missão será obter uma alíquota baixa.
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Uma das evidências de que o economista já discute suas novas funções na Vale é que ele chegou no último sábado ao Rio de Janeiro, vindo do Canadá, numa viagem que não estava programada.
Agnelli não voltará para o Bradesco, ainda de acordo com apuração da Folha. O governo chegou a ameaçar o Bradesco de que colocaria na Vale um político ligado a fundos de pensão -a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, detém 58,1% das ações da Valepar. Brandão disse que isso seria um retrocesso inaceitável. Desde que Agnelli assumiu a Vale, em 2001, o faturamento da empresa saltou de US$ 4 bilhões para US$ 46,4 bilhões, em 2010. No final, a ameaça era só uma encenação, com o objetivo de que o banco saísse da negociação com um gostinho de vitória.
A Vale comprou a Inco em 2006 e assumiu a direção da empresa no ano seguinte. Os negócios da Vale com níquel, um metal usado em ligas, movimentaram US$ 3,26 bilhões em 2009 (13,6% das vendas da companhia). Na reunião que selou o destino de Agnelli, Mantega disse a Brandão que o governo não via com bons olhos a eternização de um executivo na presidência da Vale, ocupada desde 2001 por Agnelli. Era a senha para a destituição de Agnelli, principalmente por conta do que o governo chama de inabilidade política e soberba.
Agnelli fez na semana passada seu primeiro comentário público sobre as especulações a respeito de sua possível saída do cargo por conta de pressões políticas. Em nota oficial divulgada pela assessoria da empresa, o executivo afirmou que “a decisão sobre a escolha do diretor-presidente da Vale compete exclusivamente aos acionistas controladores da empresa.”
Ações atribuídas à Vale no setor de ferrovias irritaram o governo federal, que decidiu endurecer o jogo contra a empresa, acusada de atrasar o desenvolvimento do transporte de carga no país. A empresa tem a concessão (com subsidiárias) de 11,5 mil quilômetros da malha ferroviária do país, que é de 28 mil quilômetros, controlando os trechos que levam aos principais portos do Brasil.
Quase toda a malha do país é controlada por três grupos: Vale, CSN e ALL. Para o governo, os dois primeiros, que têm 55% da malha, usam as linhas para beneficiar seus próprios negócios em mineração e siderurgia: cobram caro pelo frete e criam dificuldades para o uso das linhas.
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