O novo modelo de licitação do trem-bala anunciado pelo governo anteontem pode atrair novos investidores – especialmente estrangeiros – à competição pelo projeto, que deverá custar pelo menos R$ 33 bilhões, pelos cálculos oficiais. Esta é a avaliação de especialistas e empreendedores ouvidos pelo GLOBO, que consideram que as mudanças diluem riscos e garantem transparência ao processo. Os chineses, que haviam desistido, devem voltar com tudo (tecnologia e dinheiro), e pelo menos três construtoras europeias são apontadas como fortes candidatas à concessão da infraestrutura. Espera-se ainda o interesse de fundos de investimentos privados no projeto.
– Criamos as condições para a participação dos estrangeiros. Enfim, estamos falando a linguagem técnica internacional e não aquela que caiu em descrédito com os últimos acontecimentos ligados à infraestrutura. O mo$ficou mais claro. O investidor internacional precisa de transparência. Antes era um salto no escuro – disse o professor Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Estudos Logísticos da Fundação Dom Cabral.
Gigantes da construção como as francesas Bouygue e Colas e a espanhola Obrador-Huarte-Lain (OHL) – presente em grandes projetos rodoviários no país – podem ser uns dos novos interessados no leilão da infraestrutura (malha ferroviária).
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Assustados pela possibilidade de terem de arcar com os riscos das obras, o que já não existe, os chineses – que têm construídos trens-bala em seu território e dispõem também de recursos – deixaram o processo há alguns meses. Para o governo, a volta da China pode ser um fator determinante, tendo em vista que os seus preços são competitivos e devem acirrar a competição entre os estrangeiros.
Por sua vez, Japão – cujo grupo de empresas já teria os R$ 10 bilhões em financiamento garantidos pelo banco de fomento -, França e Espanha veem na linha férrea de alta velocidade do Brasil, considerada hoje o maior potencial de rentabilidade do mundo, uma oportunidade de ampliar seus negócios.
Oficialmente, as empresas dizem que precisam de tempo para estudar as mudanças. Mas não disfarçam seu interesse. É o caso da japonesa Mitsui e da francesa Alstom. Em comunicado, a empresa disse que ela e a estatal de ferrovias francesa “reafirmam o interesse no projeto e continuarão discutindo-o com todas as partes interessadas, utilizando sua experiência, a fim de ajudar a trazer a tecnologia de trens de alta velocidade ao Brasil”.
A avaliação geral é que realizar o leilão da construção após a escolha do consórcio que vai operar a tecnologia e determinar o projeto-executivo com todos os detalhes necessários às obras – ou seja, fatiar em dois o projeto – permitirá às empresas saber exatamente quanto vão gastar. A absorção de parte dos riscos pela União – que garantirá ao construtor o pagamento do aluguel da malha a ser feito pelo operador – criou a possibilidade de exploração imobiliária e poderá cobrir eventuais diferenças no valor da obra.
A Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer) crê $o novo modelo corrige falhas do anterior e deve atrair mais empresas à licitação. Para um empreendedor, a segmentação da fase de construção (a ser determinada pelo governo) também permite desembolsos em etapas, uma demanda do setor.
– Fatiar o leilão pode servir de incentivo para que as empresas sejam atraídas por suas áreas de expertise. Empreiteiras, pela construção, e detentores de tecnologia, pela operação – afirmou Peter Wanke, especialista em logística e infraestrutura da Coppead/UFRJ, que questiona, porém, a prioridade que está sendo dada ao trem-bala.
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