Depois de o governo federal demonstrar interesse em diminuir os riscos do projeto do trem de alta velocidade (o TAV, ou trem-bala) para aumentar sua atratividade, a CCR finalmente bateu o martelo e vai estudar sua participação no empreendimento. A informação, que chega depois de incertezas sobre o real interesse da companhia no projeto, partiu do seu presidente, Renato Vale. A indefinição fazia com que o projeto sequer fosse mencionado, entre os possíveis negócios futuros da companhia, nas reuniões com analistas e investidores. Em entrevista ao Valor, o presidente do grupo de concessões controlado por Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, diz ainda que não é possível entrar sem parceiros no projeto – que custará R$ 40 bilhões ao todo, de acordo com o governo.
Segundo Vale, a empresa se comprometeu com os controladores e já informou à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que vai estudar o projeto quando o edital for publicado. O executivo diz que a remodelagem da concessão – que divide as partes de construção e do fornecimento de tecnologia – tornou o projeto interessante. “Até agora, não tínhamos nos interessado. Mas tem uma terceira modelagem [do edital] que parece interessante. Então agora vamos estudar”. Para ele, no entanto, a análise da companhia deve ser feita “com calma”. “É um negócio que, se você errar, você quebra.”
Também contribuiu para a aceitação por parte da empresa a disposição do governo em diminuir os riscos do projeto. A partir de conversas com grupos interessados, o governo identificou a necessidade de definir três questões: o risco cambial, a garantia de demanda mínima e a forma de compensar o futuro concessionário pelos eventuais atrasos na obra por motivos alheios à vontade do concessionário.
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A ANTT ainda não publicou o edital do projeto e a estimativa mais recente do governo é que isso ocorra em fevereiro. A partir da publicação, a licitação da tecnologia do trem-bala será feita pelo menos seis meses depois – em agosto. Só a partir disso é que começa o processo de licitação do construtor da infraestrutura.
Enquanto a analise de sua eventual participação no projeto de infraestrutura mais caro do Brasil nos próximos anos está apenas começando, a avaliação de sua entrada no setor aeroportuário está mais adiantada. Caso um comitê interno da empresa autorize a inclusão do setor em seu objeto social, já está definido: a empresa disputará o leilão dos terminais de Guarulhos, Campinas e Brasília sozinha, sem parceiros. Só depois disso vai buscar sócios para o projeto. Vale não confirma quem pode integrar a sociedade, mas a empresa pode fechar um futuro negócio com Flughafen Zürich, o operador do aeroporto de Zurique, na Suíça.
A possível participação no projeto acontece mesmo com o cenário não tão otimista em relação a 2012. O executivo diz que a previsão é que o tráfego nas rodovias – grande gerador de caixa – cresça em menor ritmo no ano que vem, embora fique em patamar maior que os registrados neste ano. Além disso, Vale acredita que a liquidez do mercado será menor devido à desaceleração econômica e ao receio da crise europeia. Ainda assim, o executivo prevê um custo financeiro menor – esse é o item que mais comprometeu o resultado líquido da CCR neste ano.
O executivo não comentou o caso Controlar, empresa da qual a CCR detém 45% e que é responsável pela inspeção veicular em São Paulo. A Justiça de São Paulo determinou que a Prefeitura da capital paulista abra nova licitação até fevereiro para a escolha da empresa responsável pelo serviço. Segundo o Ministério Público, o serviço foi implantado com diversas ilegalidades, causando “danos ao erário e aos particulares”. A CCR diz que o grupo tomou conhecimento da decisão, vai analisar seu teor “e tomar as medidas necessárias”. Ainda defende “a qualidade do serviço prestado pela Controlar e os benefícios gerados pela inspeção ambiental veicular”.
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