O maior erro do governo no setor de transportes é não fazer um planejamento para integrar todos os modais, criando uma espécie de corredor logístico, afirmam os especialistas ouvidos pelo GLOBO. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que sejam necessários investimentos de R$ 125 bilhões no país em portos, hidrovias, rodovias, ferrovias e aeroportos, o que representa cerca de 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) por ano até 2016. Em 2010, o investimento foi de 0,4% do PIB.
— Temos que ver o transporte sob vários aspectos: sob o aspecto do transporte de passageiros e do transporte de cargas, transportes urbano, interurbano, estadual, interestadual e internacional. O Brasil tem problemas em praticamente todos esses setores — afirma Marco Caldas, coordenador do Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal Fluminense (UFF).
A série “O Brasil que não viaja de avião”, que termina nesta quarta-feira, mostrou a precariedade das viagens de ônibus, barco nos rios da Amazônia e trem. Para Bruno Batista, diretor-executivo da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), é preciso não só ampliar investimentos como melhorar o sistema de gestão do dinheiro:
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— Queremos recursos aplicados em projetos que deem resultado mais rápido — afirma.
O mais recente Plano CNT de Logística, de 2011, indica 748 projetos de integração nacional considerados prioritários para modernizar a infraestrutura do país, num total de R$ 405 bilhões para, por exemplo, construção de ferrovias e melhorias em rodovias e hidrovias, além da ampliação dos aeroportos.
— É um erro do governo não olhar sistematicamente os vários modais. As agências reguladoras são segmentadas e desarticuladas — comenta Paulo Fleury, professor da UFRJ e diretor do Instituto Ilos.
— Não existe planejamento integrado de formação de corredor logístico. A curto prazo temos que tapar buracos e a longo prazo trabalhar para melhorar o quadro — concorda Paulo Tarso Vilela de Resende, coordenador do Núcleo CCR de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral.
O professor da Fundação Vanzolini, Jorge Leal de Medeiros, acredita que o governo também precisa investir e melhorar a qualidade das rodoviárias no Brasil, além de incentivar a competição no setor:
— Há uma demanda que não está sendo corretamente atendida. Mas as perspectivas são boas. O crescimento da demanda, causada pela evolução da renda, deve gerar um aumento da pressão por mais investimentos.
Rodrigo Vilaça, presidente-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), afirma que a burocracia ainda dificulta o avanço do setor.
— Hoje, por exemplo, para se construir uma linha de trem é necessário negociar ao mesmo tempo com 22 órgãos. Isso dificulta e encarece investimentos.
Para o Fórum Internacional de Transportes, braço da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o investimento em transportes é um indicador do desenvolvimento de um país.
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